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Este capítulo apresentou a metodologia empregada na elaboração do expe- rimento deste estudo, explicitando as motivações e as justificativas para a adoção de cada procedimento metodológico. Mostraram-se, assim, os desafios metodológicos que conduziram a realização de um metaexperimento e a com- pilação de um corpus, bem como os diferentes perfis dos 36 informantes que participaram desta pesquisa, a forma como os estímulos foram compostos e as hipóteses que abrangeram a delimitação dos tipos silábicos. Além disso, apresentaram-se os procedimentos realizados para a elicitação e codificação dos dados, as variáveis, as hipóteses e os modelos estatísticos utilizados na análise dos dados.

Variável Tipo Variantes

Tonicidade Dependente Nominal Proparoxítona Paroxítona

Oxítona Grupo de Análise Independente Nominal [CoR]

[CaR]

Sílaba Final Independente Nominal [i.voR], [i.goR], [i.toR] [i.vaR], [i.gaR], [i.taR]

Repetição Independente Nominal 1a

2a 3a

Pseudopalavra Independente Nominal [ta.ni.voR], [po.si.goR], ... [lo.Zi.vaR], [lu.fi.gaR], ... Informante Aleatória Nominal F1, F2, F3, . . . , F36

Quadro 2.4 Variáveis dependente e independentes com suas propriedades e

Resultados e Discussão

Este capítulo apresenta e discute os resultados obtidos no experimento descrito no capítulo anterior, o qual contou com dois grupos de análise: i. [niw], [Voral.tSiw], [Vnasal.tSiw]; e ii. [-oR], [-aR]. O objetivo principal ao desenvolver

o procedimento experimental foi o de investigar o papel da frequência dos tipos silábicos na atribuição acentual em pseudopalavras no português brasileiro. Este capítulo apresenta e discute os resultados obtidos à luz das hipóteses de atribuição do acento apresentadas no Capítulo 2.

A análise experimental, que se restringiu a sequências segmentais que formariam uma palavra do tipo CV-CV-CVC, dividiu-se em dois grupos de análise. O grupo de análise 1, composto pelos tipos silábicos [niw], [Voral.tSiw]

e [Vnasal.tSiw], investigou em que medida a frequência dos tipos silábicos pode

predizer a localização acentual. O grupo de análise 2, composto pelos tipos silábicos [-oR] e [-aR], inquiriu se a frequência dos tipos silábicos interagiria com efeitos de similaridade lexical em decorrência da frequência dos vizinhos fonológicos.

Para que as hipóteses deste estudo fossem testadas, determinaram-se como variável dependente a tonicidade1, como variáveis independentes o grupo de

análise, a sílaba final, a pseudopalavra e a repetição, e como variável aleatória

o informante. A relevância de cada variável foi testada isoladamente, em análises monofatoriais, e em interação com as demais variáveis, em análises multifatoriais. Os modelos empregados nas análises consistiram em testes de 1 Por fins de clareza, as variáveis serão referidas em itálico.

qui-quadrado (χ2), Modelo de Regressão Logística Binomial, Multinomial e com Efeitos Mistos, os quais foram processados no software R (R Core Team, 2015).

A seção 3.1 apresenta os resultados gerais desta pesquisa. As seções 3.2 e 3.3 apresentam e discutem os resultados obtidos, respectivamente, nos grupos de análise 1 e 2. As seções 3.4 e 3.5 dedicam-se à discussão qualitativa das produções proparoxítonas e da variável informante, respectivamente. Por fim, na seção 3.6, expõem-se os resultados gerais obtidos com a realização deste experimento.

3.1

Resultados Gerais

Todas as produções dos falantes apresentaram correlatos fonéticos do acento primário do PB, com uma maior duração e intensidade de produção das vogais tônicas (cf. MARTINS, 1988; MASSINI-CAGLIARI, 1992; CONSONI, 2010). Embora nesta pesquisa o caráter fonético do acento tenha sido avaliado de oitiva, ou seja, sem interpretação experimental, ele é relevante ao indicar que falantes expressam o correlato acentual de sua língua materna ao produzirem pseudopalavras. Pesquisas futuras poderão avaliar se quando os indivíduos são apresentados a dados de uma língua estrangeira que tenha, por exemplo, vogais curtas e longas, o falante do PB empregará as mesmas propriedades fonéticas acentuais utilizadas em sua língua materna. A expectativa é que este seja o caso. O desafio será investigar a evolução da proficiência de falantes quanto aos correlatos fonéticos do acento e à aquisição dos aspectos segmentais particulares de L2, como as vogais longas e curtas em posição acentuada.

Quanto à atribuição do acento primário nas pseudopalavras, destacaram- se, no Capítulo 1, quatro tendências para a atribuição acentual, como indicado no Quadro 3.1.

Hipótese Atribuição de acento primário

Lexical Ao acaso

Métrica e Morfológica Oxítono

Multirrepresentacional Qualquer padrão acentual da língua, sob efeitos de frequência

Quadro 3.1 Predições de atribuição acentual por hipótese de análise.

A partir do Quadro 3.1, pode-se sugerir que haverá uma tendência ao acento oxítono nos resultados. Essa tendência ocorreria visto que, dada a estrutura CV-CV-CVC, a hipótese Métrica prevê que, em decorrência da sensibilidade ao peso silábico, apenas o acento oxítono seria produzido. De modo semelhante, para a hipótese Morfológica, a ausência da vogal temática faria com que o acento incidisse na última vogal do radical, com acento oxítono. Já a hipótese Multirrepresentacional prediz que possam ocorrer oxítonos, concomitante com o acento proparoxítono e paroxítono. Por fim, a hipótese Lexical, ao assumir que o acento é atribuído ao acaso, prediz que qualquer padrão acentual possa emergir. Considere os dados da Tabela 3.1.

Tabela 3.1 Atribuição acentual nos dados gerais.

Proparoxítona Paroxítona Oxítona

53 (1,11%) 1.175 (24,54%) 3.560 (74,35%)

χ2= 4019.7 (2), p < 0.0001

Na Tabela 3.1, observa-se 1,11% de produções proparoxítonas, 24,54% de paroxítonas e 74,35% de oxítonas, com χ2 = 4019.7 (2) e p < 0.0001. Estes resultados indicam o favorecimento do acento oxítono em detrimento do acento proparoxítono ou paroxítono. O acento proparoxítono ocorre com baixo índice, sendo registrado em 1,11% dos dados. Este resultado pode indicar que quando expostos a pseudopalavras os falantes utilizam qualquer um dos padrões acentuais possíveis do PB: proparoxítono, paroxítono ou oxítono. Contudo, essa atribuição não se dá ao acaso nem de forma categórica, na

medida em que há um favorecimento do acento oxítono (74,35%) em relação aos demais padrões acentuais, o que oferece desafios para as hipóteses Métrica e Morfológica, as quais predizem exclusivamente o acento oxítono, ou seja, a atribuição acentual proparoxítona ou paroxítona não seria esperada. Assim, um importante resultado expresso a partir dos dados da Tabela 3.1 é que qualquer um dos três padrões acentuais do PB - proparoxítono, paroxítono ou oxítono – pode ocorrer. O desafio é buscar entender as condições em que o acento proparoxítono e paroxítono ocorrem, uma vez que o favorecimento de oxítonas já seria esperado.

Ao considerar o baixo índice de produções com padrão acentual propa- roxítono, a análise e a discussão apresentadas neste capítulo consideram apenas os parâmetros para a atribuição do acento oxítono e paroxítono. Às proparoxítonas é reservada uma discussão na seção 3.4.

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