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Grupo de Análise 2: [-oR] e [-aR]

Esta seção apresenta e discute os resultados obtidos no grupo de análise 2, o qual compreende as variantes [goR], [toR], [voR], [gaR], [taR] e [vaR]. Este grupo investigou em que medida a produtividade dos tipos silábicos interagiria com os processos analógicos.

A hipótese, que surgiu a partir da emergência do acento paroxítono em [voR] no pré-teste13e da falta de tipos silábicos com acento paroxítono no léxico da língua, buscava verificar se a alta frequência de ocorrência de palavras com similaridade fonológica às pseudopalavras engatilharia processos de extensão analógica entre a pseudopalavra-alvo e um vocábulo fonológico similar.

Esperava-se, com isso, que os tipos silábicos terminados em [-oR], por possuírem semelhança fonológica com vocábulos paroxítonos frequentes14, receberiam um maior número de atribuições paroxítonas do que [-aR], o qual, além de ser altamente produtivo com tonicidade oxítona, tem poucos e infrequentes vocábulos com acento paroxítono15.

As hipóteses estabelecidas para o grupo de análise 2 são retomadas no Quadro 3.3:

13

Para mais detalhes, veja o anexo C. 14

Os tipos silábicos com acento paroxítono compreendem nomes próprios como Igor, Vítor e Júnior. 15 Os tipos silábicos com acento paroxítono compreendem vocábulos como ímpar, Cortázar e Oscar.

Grupo de Análise 2 [-oR] e [-aR]

[-oR] Tanto o acento oxítono quanto o paroxítono ocorrerão, uma vez que há palavras no PB terminadas em [-oR] que são tanto oxítonas (ex. pavor, fervor ) quanto paroxítonas (ex.

Vítor, Igor ), com maior incidência do acento

paroxítono em decorrência da frequência dos vocábulos similares.

[-aR] Tanto o acento oxítono quanto o paroxítono ocorrerão, posto que há palavras no PB ter- minadas em [-aR] tanto oxítonas (ex. mili-

tar, cantar ) quanto paroxítonas (ex. açúçar, Óscar ). Entretanto, o acento oxítono será

preferido em decorrência da alta frequência de tipo de [-aR].

Quadro 3.3 Hipóteses do Grupo de Análise 2.

Como apresentado no Quadro 3.3, as hipóteses elaboradas para o grupo de análise 2 pressupõem que os tipos silábicos em [-oR] tenderiam a receber mais atribuições acentuais paroxítonas em decorrência de processos extensionais entre as pseudopalavras e os vocábulos similares. Enquanto os tipos em [-aR] tenderiam a receber mais atribuições oxítonas em razão da alta produtividade com esse padrão acentual e da baixa frequência de ocorrência dos vocábulos similares com acento paroxítono. Essas predições podem ser atestadas ao contrastar a frequência de tipo dos tipos silábicos [-oR] e [-aR] encontrados no

Corpus ABG com os resultados obtidos no grupo de análise 2, como exibido

na Tabela 3.9.

Tabela 3.9 Frequência de tipo das sequências sonoras [-oR] e [-aR] por tonicidade

no Corpus ABG e os resultados obtidos no Grupo de Análise 2.

Sequência Sonora Corpus ABG Resultados Obtidos

16

Paroxítona Oxítona Paroxítona Oxítona

[-oR] 9 (1,2%) 714 (98,8%) 204 (21,4%) 714 (74,8%) [-aR] 14 (0,6%) 2.368 (99,4%) 148 (15,5%) 793 (82,9%)

Considere a Tabela 3.9, a qual apresenta a frequência das sequências sonoras [-oR] e [-aR] por tonicidade no Corpus ABG e os resultados obtidos no grupo de análise 2. Observe que, apesar de a frequência de [-oR] e [-aR] com acento paroxítono ser similar, a frequência relativa dos tipos silábicos paroxítonos em relação ao mesmo tipo silábico com tonicidade oxítona é significativamente diferente. A diferença entre a quantidade dos tipos silábicos oxítonos faz com que [-aR], por ser um tipo de alta frequência, tenha conexões fonológicas mais fortes e arraigadas do que o tipo [-oR], o qual, por ser de média frequência, é mais suscetível a processos analógicos (cf. BYBEE, 2010).

A predição é que a força das conexões fonológicas dos tipos [-oR] e [- aR], decorrentes da frequência de tipo, motivaria diferentes comportamentos acentuais. Como exibido na Tabela 3.9, em ambos os tipos silábicos ocorreram produções tanto paroxítonas quanto oxítonas, como esperado. As diferentes proporções, no entanto, refletiram em preferências acentuais diferentes, i. é, paroxítona para [-oR] e oxítona para [-aR], como será apresentado adiante. Isso ocorreria porque a média frequência do tipo [-oR] com tonicidade oxítona faria com que suas conexões fossem menos resistentes e, com isso, mais suscetíveis a extensões analógicas do que [-aR], o qual por ter conexões fortes seria resistente a analogias.

Nos resultados gerais, conforme demonstra a Tabela 3.10, constatou-se a predominância do acento oxítono com 77,52% das ocorrências, seguido de 18,11% de paroxítonas e 2,62% de proparoxítonas. A diferença mostrou-se significativa com χ2 = 4225.2 (4) e p < 0.0001. A exclusão de 1,75% dos dados refere-se a produções silabificadas, com apagamento ou inserção de segmentos à pseudopalavra-alvo.

De maneira análoga ao grupo de análise 1, as hipóteses Métrica e Morfo- lógica, embora prevejam a predominância do acento oxítono, se valeriam da extrametricidade e de uma regra de marcação a fim de justificar as produções proparoxítonas e paroxítonas. Como salientado anteriormente, tais propostas requerem uma marcação prévia que não poderia ser aplicada em vocábulos não reais, como é o caso das pseudopalavras. Quanto à hipótese Lexical, 16 As percentagens não contabilizam 100%, visto que foram obtidas 36 (3,8%) produções proparoxítonas

Tabela 3.10 Atribuição acentual no grupo de análise [-oR] e [-aR]. Tonicidade Ocorrências (%) Proparoxítona 51 (2,62%) Paroxítona 352 (18,11%) Oxítona 1.507(77,52%) Excluídos 34 (1,75%) χ2= 4225.2 (4) e p < 0.0001

além de propor uma atribuição aleatória - que não ocorre -, ao postular uma atribuição lexical, restringe a atribuição acentual a palavras reais. Em compensação, a hipótese Multirrepresentacional, até o momento, é a que melhor se adéqua aos resultados obtidos também no grupo de análise 2, posto que, como será exposto adiante, a frequência dos tipos silábicos figura como um fator relevante na atribuição acentual.

De acordo com os Modelos Multirrepresentacionais, a predileção pela tonicidade final reflete processos cognitivos de abstração e arraigamento dos padrões fonológicos, os quais fortificaram, por meio de instâncias de uso, os padrões produtivos, [-oR] e [-aR]. Como pode ser visualizado na Figura 3.4, ao mesmo tempo em que as conexões abstratas foram se fortificando, ao projeta- rem suas conexões por similaridade fonológica, representadas na imagem pelas linhas cinzas, as conexões locais também foram tecendo relações associativas, sendo arraigadas às representações fonológicas, representadas pelas linhas marrons. A produtividade do padrão abstrato é visualizada na imagem por meio da espessura da nuvem de exemplar. Padrões mais produtivos possuem conexões mais grossas; padrões menos produtivos, conexões mais finas.

Figura 3.4 Esquema de conexões fonológicas entre [-oR] e [-aR].

Para esse modelo, a competição entre os padrões produtivos e os padrões locais fomentaria a emergência do acento proparoxítono e do paroxítono, indicando que diferentes fatores, em diferentes níveis de abstração, contribuem para a determinação do acento em português. Não só a disputa entre padrões produtivos e locais atua no sistema, os vocábulos com similaridade fonológica também têm um papel relevante. Isso porque, conforme mostrou a Tabela 3.9, a atribuição acentual é, significantemente, diferente de acordo com o tipo silábico. As pseudopalavras do tipo [-oR], ao serem produzidas, teriam suas conexões fonológicas estendidas aos esquemas que possuem vocábulos similares e maior índice de frequência. Em contrapartida, as pseudopalavras do tipo [-aR] teriam maior propensão a ser categorizadas com o padrão abstrato ["CaR] em decorrência da sua alta produtividade e da baixa frequência dos vocábulos similares, resultando em menores índices de atribuições proparoxítonas e paroxítonas.

Tendo em vista que a frequência dos vocábulos fonológicos similares de [-oR] e [-aR] consiste no fator que os distingue, os resultados do grupo de análise 2 indicam que a frequência dos tipos silábicos e os processos de extensão analógica atuam conjuntamente na determinação do acento em PB. O valor de significância, p < 0.0001, bem como a relação encontrada entre frequência

e padrão acentual nos tipos silábicos dos grupos de análise 1 e 2, minimiza a possibilidade de que esses resultados sejam aleatórios. As análises estatísticas, a serem apresentadas adiante, corroborarão tal afirmativa.

A emergência das tonicidades proparoxítonas e paroxítonas, ainda, contesta as predições algorítmicas que postulam sensibilidade ao peso silábico e as postulações de que haveria restrições na língua que impediriam a produção de proparoxítonos quando terminados em sílaba pesada. Para a hipótese de sensibilidade ao peso silábico, como afirmou Cantoni (2013), a constante correlação realizada entre estrutura de palavra e tonicidade reflete apenas uma herança do sistema acentual latino, o qual, por ser sensível ao peso silábico, fornece ao português uma gama de vocábulos que, de certa forma, ainda expressam a relação entre estrutura silábica e padrão acentual. Se o português fosse realmente sensível ao peso silábico, as produções de todas as pseudopalavras deste estudo seriam oxítonas, fato que não foi constatado. Para a impossibilidade de produções proparoxítonas em estruturas de palavra terminadas em sílaba pesada, a possível restrição do padrão acentual à estrutura de palavra será discutida em detalhes na seção 3.4.

O objetivo desta pesquisa ao criar o grupo de análise 2 foi demonstrar que, embora a produtividade dos tipos silábicos seja um fator importante na determinação do acento, quando se trata de pseudopalavras, as quais não têm frequência de ocorrência, processos analógicos com vocábulos similares de alta frequência também podem atuar. Para que essa predição fosse verificada, realizaram-se testes monofatoriais e multifatoriais entre a variável dependente, tonicidade, e as variáveis independentes, grupo de análise, sílaba

final, pseudopalavra e repetição, bem como com a variável aleatória informante.

Diante da quantidade expressiva de produções proparoxítonas emergentes no grupo de análise 2 (51 ocorrências) em relação ao grupo 1 (2 ocorrên- cias), decidiu-se incluí-las nas análises monofatoriais e multifatoriais com a utilização de um modelo de regressão logística multinomial. Contudo, ao correlacionar tonicidade com as demais variáveis, obteve-se uma grande quantidade de dados zerados, isto é, sem produções proparoxítonas, por isso, tanto as análises monofatoriais quanto as multifatoriais apresentaram desempenhos insatisfatórios. A falta de adequação dos modelos fez com que

somente as ocorrências paroxítonas e oxítonas fossem incluídas nas análises. A reorganização dos dados resultou em dados ainda significativos, como pode ser visualizado na Tabela 3.11.

Tabela 3.11 Resultados reestruturados de atribuição acentual em [-oR] e [-aR]

(sem proparoxítonas).

Tonicidade Ocorrências (%)

Paroxítona 352 (18,83%) Oxítona 1.507 (81,07%)

χ2 = 38.614 (1) e p < 0.0001

As análises monofatoriais, por meio de testes de qui-quadrado (χ2), inqui- riram o papel que cada variável independente desempenhava na predição da variável dependente. Conforme demonstra a Tabela 3.12, somente as variáveis

grupo de análise e sílaba final apresentaram valores significativos.

Tabela 3.12 Correlação entre a variável dependente e as variáveis independentes

em [-oR] e [-aR]. Variável χ2(df) Valor de p Grupo de Análise 12.348 (1) 0.0004 Sílaba Final 14.315 (5) 0.01373 Pseudopalavra 20.496 (17) 0.2496 Repetição 0.56093 (2) 0.7554

De maneira análoga ao grupo de análise 1, as análises multifatoriais investigaram quais variáveis independentes interagiriam e prediriam o compor- tamento da variável dependente, tonicidade. A simetria entre os resultados dos dois grupos de análise fez com que o mesmo percurso estatístico empregado no grupo 1 fosse também realizado com o grupo 2.

Novamente, o modelo de regressão logística misto, tendo os informantes como variável aleatória, foi o modelo com melhor adequação e precisão. Os seguintes modelos foram testados: [grupo de análise + sílaba final + repetição] e [pseudopalavra + repetição], exatamente os mesmos modelos do grupo de análise 1. Os resultados completos dos modelos podem ser visualizados no anexo G.

O primeiro modelo, que testou [grupo de análise + sílaba final + repeti-

ção], selecionou todas as variáveis independentes, entretanto, apenas o grupo de análise mostrou-se significante, com p < 0.05. Para as suas variantes,

constatou-se que [-oR] favorece o acento paroxítono, enquanto [-aR], o acento oxítono, conforme previam as hipóteses do grupo de análise 2. Esse resultado pode ser visualizado através das estimativas apresentadas na Tabela 3.13, nas quais os valores positivos, êxito, significam preferência oxítona, enquanto os valores negativos, fracasso, predileção paroxítona.

Tabela 3.13 Resultados do modelo de regressão logística com efeitos aleatórios

em [-oR] e [-aR] para grupo de análise.

Estimativa Erro Padrão t p

[-oR] -0.75627 0.36380 -2.079 0.0378*

[-aR] 3.34938 0.37173 9.010 < 2e-16***

Preferências, como de [-or] por acento paroxítono e de [-aR] por oxítono, não podem ser elucidadas pelas propostas algorítmicas. Isso porque para as hipóteses Métrica e Morfológica o acento nos vocábulos com esses tipos silábicos deveria se comportar de igual forma, i. é, com tonicidade oxítona. A postulação de regras categóricas ou de mecanismos de marcação descon- sidera os efeitos de frequência e as informações segmentais que se mostram importantes para a determinação do acento no PB. Para os Modelos Multir- representacionais, as diferentes predileções refletem os efeitos de frequência dos padrões abstratos que estão arraigados às representações fonológicas. Dessa maneira, o favorecimento de [-oR] pela tonicidade paroxítona espelha a frequência do tipo silábico [-oR] e dos vocábulos que apresentam similaridades fonológicas, à medida que o favorecimento de [-aR] pelo acento oxítono retrata a produtividade do padrão [-aR] e a baixa frequência dos vocábulos similares. Ou seja, os Modelos Multirrepresentacionais permitem expressar tendências de comportamentos acentuais, as quais não são determinísticas.

Além disso, a diferença estatisticamente significativa entre as variantes [-oR] e [-aR] no grupo de análise traz indícios de que efeitos de similaridade fonológica podem interagir com a frequência dos padrões fonológicos. A baixa

frequência de tipo de [-oR] com tonicidade paroxítona, com 9 tipos, faz com que, segundo Bybee (2010), suas conexões fonológicas sejam fracas, tornando- o mais propício a sofrer processos analógicos com padrões de alta frequência. Diante de vocábulos frequentes, a analogia torna-se mais provável quanto mais similar forem as conexões fonológicas entre as pseudopalavras e seus vizinhos fonológicos. Nesse sentido, a semelhança entre Vítor e Igor com [fe.li.toR], [ka.pi.goR] e [zi.bi.toR] provoca a extensão do padrão acentual paroxítono a esses vocábulos. Em contrapartida, a preferência de [-aR] pelo acento oxítono decorre da sua alta produtividade em posição final, da baixa frequência desse tipo silábico com acento paroxítono e, ainda, da baixa frequência dos vocábulos fonológicos paroxítonos similares, fazendo com que o tipo silábico ["CaR], por estar arraigado às representações, torne-se gatilho acentual do tipo [-aR].

É interessante notar que diferentes estudos na área da Psicologia inves- tigaram a interação entre efeitos de similaridade lexical e de probabilidade fonotática. Shademan (2006), por exemplo, testou a interação entre analo- gia lexical (similaridade lexical) e conhecimento gramatical (probabilidade fonotática) em experimentos com diferentes estímulos: palavras reais e pa- lavras reais/palavras novas. Os resultados revelaram efeitos interessantes. No experimento que se valia apenas de palavras reais, a probabilidade fo- notática teve valores mais significativos do que a similaridade lexical. Em contrapartida, o experimento que contemplava palavras reais e palavras novas obteve resultado inverso: a similaridade lexical mostrou-se mais significativa do que a probabilidade fonotática. O estudo de Shademan (2006) fortalece os resultados encontrados no grupo de análise 2, posto que a preferência por produções paroxítonas em [-oR] demonstra que a similaridade lexical atua mais fortemente em pseudopalavras que possuem vocábulos similares de alta frequência, embora seja possível também constatar efeitos de probabilidade fonotática através da maior quantidade de produções oxítonas em [-oR] e [-aR].

A sílaba final, apesar de ser uma variável selecionada, não obteve valores significativos nos modelos de regressão logística em decorrência da simetria no comportamento dos tipos silábicos que compõem cada variante, como pode ser verificado na Figura 3.5. A preferência de [gaR], [taR] e [vaR] por acento oxítono

em oposição a [goR], [toR] e [voR] por acento paroxítono reforça a hipótese de que a principal diferença entre os grupos consiste na sua terminação, ou

grupo de análise.

Figura 3.5 Atribuição acentual por sílaba final em [-oR] e [-aR].

O segundo modelo, que testou [pseudopalavra + repetição], selecionou todas as variáveis, mas apresentou valores significativos apenas para algumas pseudopalavras, como [no.vi.taR], [xa.pi.vaR] e [du.mi.taR], as quais favorece- ram o acento oxítono. Em contrapartida, nenhuma pseudopalavra favoreceu o acento paroxítono, conforme a Tabela 3.14. Verifique os resultados completos do modelo de regressão logística com efeitos aleatórios no anexo G.

Tabela 3.14 Resultados parciais do modelo de regressão logística com efeitos

aleatórios em [-oR] e [-aR] para pseudopalavras.

Estimativa17 Erro Padrão t p

[no.vi.taR] 1.83786 0.65798 2.793 0.00527** [xa.pi.vaR] 2.23249 0.67822 3.292 0.00102** [du.mi.taR] 1.64437 0.63832 2.576 0.01007*

17 Lembre-se de que as estimativas com valores positivos, êxito, significam preferência oxítona, enquanto os valores negativos, fracasso, predileção paroxítona.

Embora o grau de informatividade das pseudopalavras, com 18 variantes, potencialize a probabilidade de a variável pseudopalavra ser significativa, a divergência na quantidade de atribuições acentuais paroxítonas entre as

pseudopalavras do grupo [-aR] parece ser o fator motivador da significância

desse grupo de vocábulos, como em [no.vi.taR], [xa.pi.vaR] e [du.mi.taR]. Em compensação, a menor discordância na quantidade de atribuições acentuais nas pseudopalavras terminadas em [-oR] faz com que todas sejam igualmente relevantes, não apresentando quaisquer vocábulos significativos individual- mente, como pode ser visualizado na Tabela 3.15. De maneira análoga ao grupo de análise 1, a amplitude de produções acentuais oxítonas em [-oR] de 71 a 84 e de [-aR] de 78 a 91 ilustra a variabilidade de atribuições acentuais em pseudopalavras em decorrência desses vocábulos não possuírem frequência de uso.

Tabela 3.15 Atribuições acentuais por pseudopalavra em [-oR] e [-aR] (em

ocorrências).

Pseudopalavra Paroxítona Oxítona

[ka.pi.goR] 24 84 [me.dZi.goR] 26 77 [po.si.goR] 23 84 [ka.mi.toR] 19 71 [fe.li.toR] 22 81 [zi.bi.toR] 24 81 [de.fi.voR] 21 86 [li.tSi.voR] 25 80 [ta.ni.voR] 20 70 [ba.zi.gaR] 22 78 [lu.fi.gaR] 16 88 [se.tSi.gaR] 16 91 [ga.bi.taR] 21 84 [du.mi.taR] 16 91 [no.vi.taR] 14 91 [lo.Zi.vaR] 14 89 [pe.si.vaR] 18 90 [xa.pi.vaR] 11 91

A repetição consistiu em outra variável selecionada nos dois modelos. Ao contrário do que ocorre no grupo de análise 1, ela não se mostrou significativa, posto que, como demonstra a Tabela 3.16, a quantidade de produções manteve- se relativamente constante entre as três repetições. O aumento nas atribuições oxítonas na terceira repetição decorre de uma mudança no padrão acentual, de proparoxítonas para oxítonas, em alguns vocábulos.

Tabela 3.16 Atribuições acentuais por repetição em [-oR] e [-aR].

Repetição Paroxítona Oxítona

1a 120 487

2a 112 507

3a 120 513

De modo semelhante ao grupo de análise 1, a variável aleatória informante foi inserida nos modelos estatísticos a fim de garantir estabilidade. A sua importância provém, novamente, dos diferentes comportamentos encontrados nas produções dos indivíduos, isto é, i. produções paroxítonas, ii. produções oxítonas e iii. produções paroxítonas e oxítonas. Em virtude de sua com- plexidade e dos debates que essa variável incita, ela será discutida em mais detalhes na seção 3.5.

O grupo de análise 2 investigou se a frequência dos tipos silábicos interagiria com efeitos de similaridade lexical em decorrência da frequência dos vocábulos fonológicos similares. Esperava-se, com isso, que a sequência sonora [-oR], por ser um tipo infrequente com tonicidade paroxítona e apresentar vocábulos fonológicos similares frequentes com esse padrão acentual, receberia um maior número de atribuições acentuais paroxítonas do que a sequência [-aR], a qual, além de ser altamente produtiva com acento oxítono, possui poucos e infrequentes vocábulos fonológicos paroxítonos. Pressupôs-se, portanto, que a diferença na frequência dos vocábulos fonológicos de [-oR] e [-aR] provocaria diferentes comportamentos entre essas sequências sonoras.

Os resultados demonstraram que os falantes atribuem uma maior quanti- dade de tonicidade paroxítona a vocábulos que possuem padrões fonológicos similares com alta frequência paroxítona, como ocorreu com [-oR], do que os

padrões fonológicos com baixa frequência, como com [-aR]. Esses dados vão ao encontro do estudo de Shademan (2006), para a qual a similaridade lexical tem efeitos mais fortes do que a probabilidade fonotática em experimentos que envolvem palavras reais e palavras novas, posto que os vocábulos reais tornam-se gatilho analógico dos vocábulos não existentes.

Verificou-se, assim, que, embora a frequência dos padrões fonológicos impacte nas representações fonológicas, outros fatores podem interagir a depender da frequência dos tipos silábicos e dos vocábulos similares. Tipos silábicos infrequentes por terem conexões fonológicas fracas são propícios a sofrerem processos analógicos quanto maior a similaridade e a frequência dos vocábulos fonológicos similares. Em contrapartida, tipos silábicos frequentes têm conexões fonológicas fortes e resistentes a processos analógicos, já que a

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