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Nosso objetivo nesse trabalho foi analisar as situações que permeiam o processo de alfabetização e letramento dos alunos em classes do ensino fundamental do ciclo I, identificando os métodos de ensino utilizados pelos professores e como estes se posicionam frente à heterogeneidade existente em sala de aula.

Identificamos no interior da sala de aula uma postura (por parte da professora) que revela grande responsabilidade de iniciar a criança no processo de alfabetização e de, paulatinamente, aperfeiçoar sua leitura, de modo a garantir-lhe o domínio de uma prática cuja finalidade não se esgota em si mesma.

No capítulo V, na aula de Registro da Rotina do Dia a professora conseguiu direcionar seus alunos a uma reflexão que foi além da simples apropriação das operações de um código, mas os levou a entender a apropriação de uma leitura efetiva que deixou de ser ocasional para integrar-se a vida como necessidade imperiosa, de que decorrem o prazer e conhecimento de coisas que até então eram desconhecidas.

No que se refere ao letramento percebemos que no inicio a professora estava pouco familiarizada com a questão, no entanto buscou, em cursos de alfabetização, meios que promovessem mudanças de atitude e postura resultando um trabalho mais eficaz e significativo tanto para ela quanto para seus alunos. Assim, concluiu-se que a falta de formação do professor é fator que contribui para as lacunas existentes no processo de alfabetização e letramento, e esse fator causa insegurança no docente, pois ele não consegue direcionar o seu trabalho de forma eficaz e objetiva.

40 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 2, número 2, agosto de 2013. http://e-faceq.blogspot.com.br/

Podemos notar que a professora conseguiu, em alguns momentos, integrar a alfabetização ao letramento, ou seja, conseguiu privilegiar a interação dos textos com os aspectos específicos da alfabetização promovendo um processo de aquisição das habilidades de ler e de escrever. No entanto, também percebemos que algumas atividades fugiam do contexto inicial e as crianças ficavam um tanto quanto perdidas e as que possuíam maiores dificuldades não conseguiam realizar as tarefas, nem tampouco se sentiam estimuladas a realizá-las.

Ao analisarmos as hipóteses de escrita e evolução dos alunos notamos que a maioria seguia num processo de aprendizagem quase paralelo, conseguindo avançar de uma hipótese silábica para outra sem maiores dificuldades. Porém, percebemos que alguns alunos ainda não haviam conseguido se apropriar do sistema da leitura e escrita e, portanto, não estavam alfabetizados. Esse quadro se revelou interessante, visto que a classe socioeconômica era igual, a professora era a mesma. Como explicar, então, a diferença no desempenho?

A explicação da professora foi que o período preparatório, ou seja, a pré- escola foi determinante para esse desempenho. De acordo com o seu depoimento, dos alunos que ainda não estavam alfabetizados não passaram pelo período preparatório, outros passaram por classes de alfabetização da mesma escola, porém com professoras diferentes e trabalhos pedagógicos também diferentes, e um destes tem sério problema na fala o que provavelmente dificultou o ensino aprendizagem dele.

Além dessas hipóteses, pode-se perceber que a escola não se dispunha – apesar da vontade de algumas professoras – a alterar as normas estabelecidas para as etapas que as crianças deviam vencer no 1º ano e o ponto de onde as professoras deveriam partir do 2º ano. Sem contar os problemas de estrutura física que já foram mencionados anteriormente.

Outra explicação sugestiva é que alguns problemas relacionados aos déficits de aprendizagem fogem da alçada da professora, pois necessitam do auxilio de outros profissionais como também de outros segmentos. Ressaltando aqui o caso do aluno Diego que precisa da ajuda de um fonoaudiólogo, pois sem esse auxilio o aluno estará fadado a carregar esse problema para as séries subsequentes.

Nesse contexto, é importante frisar a impossibilidade de determinar um único responsável para o fracasso. O fato de algumas crianças não terem se alfabetizado durante esse tempo provém de um conjunto complexo de fatores que combinam diferentemente em cada contexto, específico, que assumem pesos variados nas várias situações.

41 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 2, número 2, agosto de 2013. http://e-faceq.blogspot.com.br/

Todavia, o modo como o professor conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o conhecimento sobre o objeto escrito e adquira certas habilidades que lhe permitirão o uso efetivo do ler e do escrever em diferentes situações sociais. Conduzir o trabalho de alfabetização na perspectiva do letramento, mais do que uma decisão individual, é uma opção política, uma vez que estamos inseridos num contexto social e cultural em que aprender a ler e escrever é mais do que o simples domínio de uma tecnologia.

São muitos os desafios a serem enfrentados no atual contexto educacional, em que muitos alunos passam pela escola sem encontrar condições efetivas de se tornarem leitores e produtores de texto competentes. Desse fato, decorre a necessidade de haver um diálogo contínuo entre professores, pesquisadores e formadores de professores, na busca de alternativas pedagógicas que possibilitem modificar esse quadro.

Defendemos, então, a importância da formação continuada como espaço privilegiado desse diálogo, em que o estudo das especificidades e articulação dos processos de alfabetização e letramento seja aprofundado.

Independente das didáticas e metodologias a serem utilizadas ou defendidas por professores, pesquisadores ou autores de livros de alfabetização, o que não podemos relegar a um segundo plano é que a alfabetização, na perspectiva do letramento, não é um mito, é uma realidade. Cabe às escolas e aos professores alfabetizadores ter consciência da concepção sobre alfabetização/letramento a ser adotada, para que se torne mais claro quais procedimentos metodológicos deverão ser utilizados.

Compreendemos que, para alfabetizar letrando, é preciso que o professor assuma certas posturas, de modo que a prática pedagógica seja conduzida no sentido de viabilizar a formação de um sujeito que exerça a escrita nas diversas situações sociais que lhe são demandadas. Assim sendo, o modo como o docente conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o conhecimento sobre o objeto escrito e adquira certas habilidades que permitirão o uso efetivo do ler e do escrever.

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