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CAPÍTULO 2 Ambiente de inovação para o café

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como concluiu Costa, Porto e Feldhaus (2010), também este estudo sugere que não haja um arranjo ou mecanismo único e adequado à gestão da articulação entre as hélices universidade, empresa e governo. Sugere-se que cada situação ou experiência exigirá um modelo específico, sem a adoção de procedimentos previamente elaborados. Como em uma rede orgânica, em constante mutação, as estratégicas devem ser flexíveis e ágeis para acompanhar o ritmo das mudanças e das relações a serem articuladas. Contudo, no atual padrão do sistema de inovação brasileiro, identifica-se a necessidade de haver um elemento neutro que se responsabilize por esta articulação. Seria o mesmo que imaginar uma quarta esfera resultante da intersecção das demais analisadas. Esta afirmação tem como alicerce o fato de que o processo de inovação, sobretudo pelas complexas articulações necessárias ao seu desenvolvimento, tem desempenho melhorado quando existe um articulador central, que não representa nem a universidade, nem a empresa, mas justamente busca a interação entre essas esferas. Além disso, apesar de apoiada e incentivada pelo governo, este novo espaço de articulação não deve ser mais uma instituição pública a competir por recursos.

Em consideração às análises, confirma-se a necessidade de inovações para sanar gargalos importantes, embora não exista uma cultura de inovação para o setor cafeeiro, de maneira geral no país e, especificamente, em Minas Gerais. Reverter esta condição é uma tendência, confirmada em discursos nos diferentes elos desta cadeia, sobretudo, em função das demandas do próprio setor e das mudanças de C&T que o Estado tem desempenhado. O objetivo passa a ser a transformação do conhecimento acumulado em inovação e geração de negócios. Isto significa alterar a essência da política de C&T de cunho acadêmico, para uma nova percepção de aproximação com o mercado.

Confirma-se também, no ambiente do sistema agroindustrial mineiro, que as inovações não são lineares, havendo uma dinâmica cíclica que busca aproximar as demandas do mercado às orientação das pesquisas. Também são reforçadas as ideias de complementariedade entre diferentes áreas do conhecimento, do ponto de vista técnico, e do ponto de vista organizacional, aliando Estado e sociedade civil organizada. Porém, embora os atores que compõem este ambiente de inovação concordem que o modelo de inovação colaborativa seja uma tendência estratégica, confessam a existência de inúmeras barreiras neste processo. Neste sentido, muitas vezes a colaboração restringe-se ao papel, para atender exigências de editais e programas, não ocorrendo de forma efetiva. Constata-se ainda que embora existam iniciativas isoladas de se fazer parcerias, muitas vezes as instituições de referência não valorizam esta participação, sobretudo, quando não há o envolvimento direto de recursos.

O estudo de caso no PEC evidencia a existência de um ambiente de trabalho em transformação, exigindo esforços para a manutenção da competitividade do café mineiro no cenário global, o que justifica a escolha desta temática.

Assim descrito, o PEC é visto pelos entrevistados como um arranjo institucional voltado justamente para a tentativa de ampliar a interação intra e interinstitucional. Mais do que isto, busca envolver os segmentos distintos da cadeia agroindustrial do café, representados neste estudo pelas hélices universidade, empresa e governo, como destacado na Teoria da Hélice Tríplice. Neste sentido, uma das vantagens de atração do PEC é que ele está voltado para uma cadeia agroindustrial específica, o que lhe confere capacidade técnica para seleção de projetos, identificação de novas demandas e sugestão de parcerias.

Questionados sobre as mudanças requeridas nesta complexa atividade econômica, os entrevistados reconhecem que a aproximação entre estas hélices promove uma reavaliação de seus papéis. Há por parte dos atores o

reconhecimento de que as invenções isoladas morrem nas prateleiras das bibliotecas e em periódicos consagrados sem que a inovação chegue ao campo, transformado em produtos que serviriam para sanar importantes problemas da cafeicultura no Estado. Porém, mesmo que os benefícios sobressaiam, persiste uma corrente que defende o isolamento destes atores, em nome de uma suposta liberdade criativa. O que se percebe neste paradoxo secular, é que os novos papéis são forçados também pela pressão da sociedade, e das transformações que ela experimenta, sobretudo, no que tange ao fluxo intenso de informação.

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