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Em decorrência da importância de compreender por completo o instituto da usucapião, optou-se por fazer um traçado histórico do referido instituto. Demonstrou-se as principais mudanças que a usucapião sofreu durante a história até chegar à compleição contemporânea. Inclusive, foi apresentada algumas transformações que o instituto sofreu no Brasil.

Além disso, delimitou-se o conceito de usucapião como formas de aquisição originária da propriedade e de outros direitos reais, desde que cumpridos os requisitos legais, quais sejam: coisa hábil, capacidade do adquirente, “posse ad usucapionem” (ânimo de dono, posse mansa, pacífica e contínua), decurso do tempo exigido para cada modalidade, justo título e boa-fé. Não obstante, registrou-se que os quatro primeiros são requisitos comuns a todas as modalidades de usucapião. Por outro lado, o justo título e a boa-fé são específicos da usucapião ordinária.

Quanto ao seu fundamento, adotou-se a corrente objetivista, que defende a usucapião como um instituto apto a premiar àquele que cuida do bem e, consequentemente, pune o proprietário desidioso. Por fim, procurou-se apresentar as principais modalidades de usucapião, expondo seus aspectos mais relevantes.

Em relação aos bens públicos, mostrou-se que o conceito moderno é o mais aceito tanto na doutrina quanto na jurisprudência. Para a referida corrente, são bens públicos das pessoas jurídicas de direito público, bem como aqueles bens pertencentes às pessoas de direito privado, desde que estejam afetados à prestação de determinado serviço público.

Tratou-se também do regime jurídico dos bens públicos, uma vez que é imprescindível compreendê-lo para entender a vedação constitucional de usucapião de bens públicos. Nessa toada, optou-se por apresentar o princípio da função social da propriedade como instrumento para possibilitar a usucapião de bens públicos. É impossível conceber o direito de propriedade desvinculado da exigência de dar função social a ela, podendo o Estado atuar para que a obrigação constitucional seja atendida.

Ocorre que não só o particular deve cumprir a obrigação constitucional de dar função social aos seus bens, mas os entes políticos (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios), bem como as demais entidades criadas por eles, também devem dar uma destinação social ao seu próprio patrimônio. Por conseguinte, da mesma forma que o particular deve cumprir a referida obrigação, sob pena de sanção, o ente público também deve.

58 Partindo dessa premissa, foram encontradas as seguintes conclusões. Apenas os bens formalmente públicos poderiam ser usucapidos, uma vez que não estariam cumprindo sua função social. Assim, apenas os dominicais poderiam ser usucapidos, desde que também não possam ser utilizados pela Administração Pública.

A outra conclusão foi que apenas a usucapião ordinária não seria compatível para aquisição de bens públicos, uma vez que a referida modalidade exige o justo título. Ademais, defendeu-se que a usucapião especial urbana, rural e coletiva seriam as espécies de prescrição aquisitiva que mais se compatibilizariam com os argumentos pela possibilidade de usucapião de bens públicos, tendo em vista que exigem uma atuação positiva do possuidor a fim de dar função social ao imóvel.

Além disso, para embasar a tese defendida na presente monografia, foi apresentada uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que reconheceu a usucapião de imóvel pertencente a uma autarquia estadual. A referida decisão, embora isolada, pode significar uma mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal, caso este venha a manter o entendimento adotado pelas instâncias ordinárias.

Para finalizar, sustentou-se que a supremacia do interesse público sobre o privado não poderia entendida como um princípio inalcançável, uma vez que todos os princípios possuem assento constitucional idêntico e se encontram no mesmo grau hierárquico. Pensar que o interesse coletivo deve sempre prevalecer produz uma simplificação que impede a percepção da realidade. Em razão disso, defendeu-se a possibilidade de usucapião de bens públicos também como forma de concretização do direito fundamental à moradia.

Assim, ficou assentado que a ocupação de áreas públicas, em muitas situações, é uma resposta à omissão estatal em implantar políticas habitacionais eficientes. Destarte, em um contexto que o Estado descumpre diariamente suas obrigações constitucionais, nada mais justo do que garantir a usucapião de bens públicos que descumprem sua função social, desde que também atendidos os requisitos legais e constitucionais.

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