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Esse estudo teve o objetivo de investigar as competências profissionais construídas no processo de trabalho do NASF.

Foram objetivos específicos identificar as competências construídas no âmbito do processo de trabalho do NASF; analisar a importância e viabilidade das competências identificadas no âmbito do processo de trabalho do NASF; verificar as competências consensuais e não consensuais para o processo de trabalho do NASF e; compreender as dificuldades para operacionalização das competências identificadas (competências não consensuais) para o processo de trabalho do NASF.

Na etapa exploratória do presente estudo foram identificadas oito competências: 1) organizar o cuidado; 2) trabalhar de modo colaborativo, 3) realizar diagnóstico da comunidade; 4) planejar as ações à comunidade; 5) desenvolver ações intersetoriais; 6) fortalecer as políticas públicas; 7) desenvolver ações educativas; 8) atuar com as diferentes coletividades.

Observou-se, por meio da identificação das competências e suas respectivas habilidades, que os participantes do presente estudo compreendem quais competências necessárias dentro das diretrizes propostas para o processo de trabalho do NASF.

No estudo Delphi de Políticas foi possível obter um aprofundamento das competências identificadas, de maneira a verificar a importância para o processo de trabalho no NASF e a viabilidade encontrada para executá-las no cotidiano do trabalho da equipe.

Com relação à importância, os participantes confirmaram todas as habilidades apresentadas. Na análise do critério de viabilidade, foram detectados dissensos nas habilidades: 1) articular os níveis de atenção primária, secundária e terciária; 2) realizar o diagnóstico da comunidade baseado na epidemiologia; 3) planejar ações que promovam mudanças em conjunto com a comunidade; 4) avaliar os resultados das ações de saúde; 5) estabelecer estratégias para facilitar o acesso à rede de

atenção; 6) reduzir as barreiras setoriais; 7) desenvolver negociação com outros setores; e, 8) ter formação política.

Na análise de conteúdo, foi possível compreender melhor as habilidades que não apresentaram consenso, de maneira que foi constatada que existem diversas dificuldades para a operacionalização das competências e, consequentemente, do apoio matricial.

Assim, foram elencadas pelos participantes dificuldades na formação de vínculo com a comunidade, falta de rotina de planejamento e avaliação das ações de saúde e dificuldades em atuar conjuntamente com os setores extra saúde.

Também foi observado que, em diversos momentos, os participantes fizeram críticas quanto à formação universitária e quanto às capacitações no que se refere a não preparar para atuação dentro dos princípios da integralidade e da longitudinalidade; não trabalhar a interdisciplinariedade; não preparar para o uso da epidemiologia; não propiciar um entendimento adequado das políticas de saúde e do SUS.

Tais aspectos reforçam a dificuldade da estruturação do trabalho da equipe do NASF dentro dos princípios do apoio matricial.

Destaca-se, no entanto, que a proposta do NASF apresenta potencial para revitalizar as competências da Atenção Primária à Saúde para o alcance da integralidade da atenção. No entanto, necessita de maiores reflexões sobre as possibilidades para aprimorar a compreensão do processo de trabalho exigido pela proposta e, consequentemente, a atuação dentro dos princípios do apoio matricial.

É importante, então, que se estudem estratégias que possam favorecer o melhor desempenho das competências para o trabalho do NASF e reestruture a atuação do profissional. Essas estratégias devem buscar preparar o profissional para a integralidade e a longitudinalidade, atuar dentro dos pressupostos interdisciplinariedade, com entendimento claro das políticas de saúde e do SUS, a fim de se evitar com que o profissional, aqui inserido, atue somente no seu núcleo de ação e seja mais um para compor a agenda de consultas.

Assim, pode-se afirmar que o estudo das competências para o processo de trabalho do NASF, aqui desenvolvido, contribui para construção de debates acerca das necessidades de melhor preparação desses profissionais de saúde para a função de apoiador matricial. Preparação essa que inclui revisão de grades curriculares, metodologias ativas de ensino na graduação, capacitações mais eficientes de profissionais já inseridos na proposta do NASF.

Nesse contexto, recomenda-se que os resultados do presente estudo possam compor pontos de discussão e de ação, em uma agenda de trabalho, para o aperfeiçoamento do processo de trabalho do NASF, considerando as diversidades regionais.

Deve-se destacar também que houve algumas dificuldades para a operacionalização do presente trabalho. A primeira delas diz respeito às barreiras geográficas. Na tentativa de superá-la, optou-se pela pesquisa online que reduziu as distâncias físicas, mas não veio sem obstáculos, pois exigiu da pesquisadora um esforço maior para construir confiança do participante e mantê-lo motivado a participar de todas rodadas do Delphi de Políticas.

Acrescenta-se ainda que, poderiam ser adicionalmente explorados, como uma proposta de agenda de pesquisa, os seguintes aspectos:

i. Competências específicas por categoria profissional;

ii. Análise dos conteúdos curriculares dos cursos de graduação das diferentes categorias profissionais incluídas no NASF;

iii. Avaliação das ações de educação permanente no processo de trabalho do NASF;

iv. Estudos sobre as competências envolvendo amostras maiores para melhor mapeamento das diferenças regionais;

v. Estudos que verifiquem a compreensão do NASF pela ESF e pelos usuários; vi. Estudos específicos de cada uma das competências aqui identificadas.

Por fim, entende-se que, por mais que se tenha tentado contemplar o tema da maneira mais abrangente possível, as competências requeridas no processo de trabalho do NASF são amplas e complexas. Dessa maneira, exige-se que sejam construídas análises constantes e contínuas para seu aprimoramento, incluindo a

participação não só da equipe dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, Estratégia Saúde da Família, gestores e docentes. Não se propõem aqui que essas competências sejam estanques e que engessem o processo de trabalho e sim, que estejam em constante construção e reconstrução de acordo com as necessidades que possam advir.

O presente estudo não teve a pretensão de esgotar o assunto, nem tão pouco generalizar os achados. O principal objetivo foi fornecer elementos para discussões futuras e auxiliar no fortalecimento do processo de trabalho do NASF.

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