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POLÍTICAS E AÇÕES PARA MUDANÇA NO MODELO DE FORMAÇÃO EM

2. CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO

2.3. POLÍTICAS E AÇÕES PARA MUDANÇA NO MODELO DE FORMAÇÃO EM

A Constituição Federal Brasileira de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90) afirmam que compete ao SUS ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde(48).

Porém, observa-se que o tema exige ações complexas para a construção da qualidade da formação dos profissionais de saúde, proveniente de diferentes atores, observando a necessidade do trabalho conjunto tanto do Ministério da Saúde, como da Educação, das universidades e do sistema de saúde(48).

Assim, considerando os aspectos político educacionais, em 1996, o Ministério da Educação, preocupado com que a formação na graduação estivesse em consonância com realidade da sociedade brasileira, lançou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação(LDB)(49). A LDB afirma que a educação superior deve estar contextualizada com os problemas nacionais e regionais(49).

Em 2000, ocorre a 11a Conferência Nacional de Saúde onde foi definida a Norma Operacional Básica sobre Recursos Humanos do SUS (NOB/RH-SUS) que afirma que o setor de saúde necessita de formação de pessoal que domine tanto as tecnologias para a atenção individual de saúde, quanto para a saúde coletiva(49). Além disso, a NOB/RH-SUS relaciona a qualidade da atenção à saúde com a formação dos profissionais, traduzindo o comprometimento das instituições de ensino(49).

Considerando que, atualmente, o campo da saúde está voltado para a especialização, a fragmentação e os interesses econômicos, as universidades estão sendo desafiadas à ampliar sua relevância social, à superar as desigualdades e à aumentar sua capacidade de responder a temas complexos e contemporâneos(50).

A superação de tais desafios apresentados poderá ser realizada a partir do reconhecimento de que os limites entre as ciências sociais, biológicas e exatas estão cada vez mais tênues(50). Outro ponto é que o diálogo com todas as formas de conhecimento pode não apenas ampliar sua capacidade explicativa, como

também, modificar sua produção de conhecimento, de formação profissional e ser auxiliar para a construção do sistema de saúde(50).

Nessa perspectiva, a NOB/RH-SUS propõe algumas ações como a implementação de uma política de formação de docentes orientada para o SUS, a inserção de diretrizes curriculares para graduação em saúde que contemplem as necessidades locorregionais detectadas pelo perfil epidemiológico e demográfico; a formação de gestores capazes de romper com os atuais paradigmas de gestão e garantir recursos para dar andamento ao ensino, à pesquisa e à extensão(49).

Além da responsabilidade das universidades, há de se destacar também o papel do gestor na formação dos recursos humanos em saúde, o que suscita a importância dos debates acerca dos cursos de graduação em saúde coletiva, com a finalidade de preparar profissionais com maior capacidade de gestão(51).

Esse debate é importante pois, os cursos de graduação nas diversas profissões de saúde, não formam plenamente para a atuação dentro da saúde coletiva(51).

Assim, nas áreas de saúde, vários aspectos relacionados à promoção da saúde, ao planejamento, à gestão, à avaliação em saúde, à vigilância epidemiológica, à saúde ambiental, aos métodos estatísticos de investigação, à demografia, à vigilância sanitária, dentre outros, são enfatizados apenas na pós- graduação, aumentando o tempo e os recursos gastos para a preparação de quadros para a área de gestão(51).

Nesse aspecto, é importante refletir acerca da necessidade de transformação na interface ensino/trabalho pois essa constitui uma perspectiva para que ocorram mudanças na formação dos profissionais da saúde(52). Dessa maneira, o trabalho coletivo, pactuado e integrado deve ocorrer desde estudantes e docentes dos cursos de formação de saúde, até para além do espaço universitário, entre trabalhadores das equipes e gestores(52).

Nessa perspectiva, além da universidade, a rede de serviços deve-se constituir também espaços em que a formação deve acontecer, e o gestor tem um papel importante na construção de práticas inovadoras, facilitando a integração das

práticas educativas na atenção básica com os demais serviços, consequentemente, da saúde coletiva e da clínica(53).

É a articulação da teoria com a prática, enfatizada por meio das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação, aprovada em 2001 e que suscitaram discussões entre alunos, professores, funcionários e gestores(17).

Sequencialmente à aprovação essas diretrizes, entre 2001 e 2002, também foram aprovadas a maioria das Diretrizes para os Cursos da Saúde (biomédicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, odontólogos e terapeutas ocupacionais). Essas descrevem o perfil, as competências e as habilidades desejadas do egresso para atuar na realidade do mercado de trabalho e no âmbito da Reforma Sanitária Brasileira(48)(49)(55).

Nesse aspecto, essas diretrizes destacam que a formação do profissional de saúde deve contemplar o sistema de saúde vigente no país, o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde(49). E, em algumas categorias, no entanto, foi destacado o SUS, como no caso dos farmacêuticos, nutricionistas e enfermeiros(49). A essa última categoria acrescentou-se ainda o atendimento às necessidades sociais, a integralidade da atenção, humanização do atendimento(49).

Essas propostas de mudança na formação dos profissionais de saúde que têm o objetivo de obter egressos críticos, capazes de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social e humana foram apoiadas pelo Ministério da Saúde(50).

Ressalta-se, no entanto, que a aprovação das Diretrizes Curriculares, infelizmente, não é suficiente para que sejam incorporados ao ensino seus eixos norteadores, pois esses constituem apenas uma recomendação(54).

As universidades gozam de autonomia para a criação, a expansão, a modificação, a extinção de cursos e de programas de educação superior, bem como a fixação de currículos e de programas de seus cursos, garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB)(49)(54).

Essa flexibilização preconizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB) também confere às Instituições de Ensino Superior a liberdade em

realizar o desenho de currículos inovadores, que sejam adequados às realidades regionais e institucionais(56).

Com base em tais fatos, a consolidação do Sistema Único de Saúde(SUS) depende do sucesso de ações tanto dos Ministérios da Saúde, como da Educação para a revitalização dos Projetos Pedagógicos dos cursos de graduação em saúde(57).

A articulação interministerial é importante para que as transformações possam atingir o núcleo mais consolidado de formação(50). Encontra-se, no entanto, em processo e tem sido fundamentada nas seguintes diretrizes: 1) incorporação do conceito de saúde como qualidade de vida; 2) o deslocamento da centralidade da formação para a promoção da saúde; 3) o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes para a ação social transformadora; 4) o processo de trabalho pautado na interdisciplinaridade; 5) a capacidade de fomentar a organização e a participação das pessoas, das famílias e das comunidades; e, 6) a capacitação para a educação em saúde e o gerenciamento(58).

Assim, em 2003, foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) com o objetivo de formular políticas orientadoras da gestão, da formação, da qualificação e da regulação dos trabalhadores da saúde no Brasil(59).

A SGTES é composta por dois departamentos principais: 1) o Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde (DEGERTS), que discute aspectos relacionados às relações e às condições de trabalho; e, 2) o Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES), responsável pela elaboração e pelo desenvolvimento de políticas relacionadas à formação de pessoal da saúde, tanto no nível superior como no nível técnico-profissional(59).

O DEGES também promove ações no sentido de articular e integrar órgãos educacionais, entidades de classe e movimentos sociais com objetivo de fortalecer o sistema formador e o SUS(59).

Em 2004, ocorreu o lançamento do Aprender SUS, que constitui uma política do Ministério da Saúde para fortalecer e ampliar os processos de mudança na graduação em saúde(60).

Com o Aprender SUS, o Ministério da Saúde tem o objetivo de aprofundar as relações de cooperação entre o sistema de saúde e as instituições de educação superior, por meio da mobilização dos atores de gestão do Sistema Único de Saúde, da educação superior e do controle social em saúde, de maneira a pensar e a propor compromissos entre os dois setores(54)(60).

Outro projeto desenvolvido pelo Ministério da Saúde, em conjunto com as entidades estudantis dos cursos da área da saúde e das secretarias municipais de saúde, é o Ver SUS. Esse projeto tem o objetivo de proporcionar vivência de estágio na realidade do SUS aos estudantes das diversas áreas da saúde, para que esses possam conhecer, de maneira aprofundada, os desafios e as conquistas do SUS, o trabalho em equipe, a gestão, a atenção, a educação e o controle social(54).

Em 2005, foi lançado pela portaria interministerial MS/MEC nº 2.101, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró- Saúde), com o objetivo de integrar ensino e serviço, e, reorientar a formação profissional, com ênfase na Atenção Básica(56)(61). Foi instituído pelo Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), em parceria com a Secretaria de Educação Superior (SESU) e com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), do Ministério da Educação (MEC), e com o apoio da Organização Panamericana da Saúde (OPAS)(56)(61).

Esta integração, entre a formação da graduação e as necessidades da atenção à saúde, vai ao encontro das Diretrizes Curriculares Nacionais. Inicialmente, o foco foram os cursos de enfermagem, de medicina e de odontologia, profissões que integravam a Estratégia Saúde da Família, porém em 2007, com a publicação da Portaria Interministerial MS/MEC º 3.019, de 27 de novembro de 2007, ampliaram-se para os demais cursos de graduação da área de saúde(56)(61).

Em 2008, foi criado pela Portaria Interministerial nº1.802, o PET-SAÚDE, regulamentado a seguir pela Portaria Interministerial nº 421, de 03 de março de 2010. É um programa inspirado no Programa de Educação Tutorial (PET) do Ministério da Educação que tem o objetivo de fortalecer a atenção básica em saúde, de acordo com os princípios e as necessidades do SUS, por meio da educação pelo trabalho, o conceito chave do projeto. Constitui uma das estratégias do Programa

Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o Pró- Saúde(62)(63).

2.4. COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS EM SAÚDE PÚBLICA: CONCEITOS,

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