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Esse trabalho foi baseada em três vertentes: a primeira caracterizou-se pela análise teórica do comércio internacional calcada na integração econômica, enfatizando a questão da criação e do desvio de comércio, devido à eliminação ou redução das barreiras tarifárias impostas pela formação de um bloco econômico. Isto porque a formação de um bloco proporciona tanto uma criação de comércio, observado no aumento do seu fluxo entre os países membros, quanto o seu desvio, isso porque os países membros deixam de comprar produtos de outros países que são mais eficientes e competitivos e passam a adquirir esses produtos dos países pertencentes ao bloco, mesmo que esses produtos não seja totalmente eficientes.

A segunda vertente analítica utilizada neste trabalho, consistiu na questão e discussão da integração, como a questão do regionalismo, caracterizada também pela CEPAL, como uma

opção para os países que estão próximos geograficamente, à unirem-se e formarem um bloco econômico. Paralelo a essa análise, fez-se necessário abordar o processo histórico da formação de blocos na América Latina, principalmente a formação do Mercosul.

Estabeleceu-se uma análise comparativa da política e do comércio exterior do Brasil e da Argentina, já que são os principais agentes sustentadores do Mercosul. Enfatizou-se os períodos de abertura comercial, de estabilização econômica, políticas necessárias à formação do Mercosul, bem como os entraves da relação comercial bilateral perante às turbulências geradas pela economia mundial. Constatou-se o aumento do fluxo de comércio bilateral após a formação do bloco, representando um aumento acima de 550% no período de 1990 a 2000, passando de US$ 2 bilhões para US$ 13 bilhões.

A terceira análise aqui apresentada caracteriza-se pela demonstração e explicação do tema central deste trabalho, que consiste no impacto da intensificação do comércio bilateral Brasil e Argentina para o comércio exterior baiano com o Mercosul e, principalmente, com a Argentina. Constatou-se que a economia baiana tem sido fragilizada diante do comércio internacional por produzir basicamente bens intermediários (manufaturados e semi manufaturados) que são commodities – os preços oscilam no mercado internacional amplamente e os países produtores deste tipo de bem price-takers visto que a sua produção está direcionada, principalmente, aos setores químicos e petroquímicos, metalúrgicos, papel e celulose, derivados do petróleo, segmentos fortemente competitivos internacionalmente.

Dados e fatos comprovam que a Argentina, até então, tem sido um parceiro comercial muito importante para o comércio exterior baiano. Atualmente, cerca de 14% das exportações do Estado têm por destino à Argentina e 22% das suas compras externas foram adquiridas desse país, em 2000. Verificou-se também que o comércio bilateral foi intensificado, principalmente, pela formação do Mercosul que proporcionou um acréscimo bastante significativo no fluxo de comércio entre as partes, representando um crescimento de 463%, passando de US$ 138 milhões para US$ 778 milhões.

Assim sendo, desde o início da formação do bloco com a formação de uma área de livre comércio e redução e eliminação de barreiras tarifárias, identificou-se um crescimento acelerado nas trocas internacionais dos países membros do bloco, proporcionando um benefício também para o comércio exterior da Bahia. Apesar de estar localizado distante do bloco, mantém com ele uma forte relação e, principalmente, com a Argentina. Essas regiões transacionam os seguintes produtos: químicos e petroquímicos, metalúrgicos e derivados do cacau, exportados da Bahia para a Argentina; e derivados do trigo, metalúrgicos, nafta para petroquímica e, atualmente, automóveis e autopeças, importados da Argentina.

Estes componentes automotivos fazem parte de uma nova fase da economia baiana que, recentemente, recebeu a implantação da montadora Ford. Essa mudança na diversificação produtiva do Estado tem proporcionado transformações no comércio exterior baiano, principalmente na composição da pauta de importação.

Pode-se observar que a industrialização baiana sempre foi voltada à produção de insumos para suprir os Estados do Sul e Sudeste do Brasil. Dessa forma, a inserção da Bahia no comércio exterior se deu basicamente pela exportação de bens intermediários. Verifica-se assim o motivo pelo qual a Bahia tem uma participação relativamente pequena no comércio exterior brasileiro.

Faz-se necessário uma comparação do PIB com as exportações para detectar a importância das vendas externas no que é produzido internamente, seja no país ou estado. Segundo Luchesi apud. Silva Sobrinho (1999),

“Se as vendas externas constituem-se como um importante atributo de competitividade entre Estados, para capturar posições de mercados e atrair investimentos produtivos, então um razoável indicador da dinâmica regional está no coeficiente resultante de sua posição nas vendas externas sobre a sua participação relativa no PIB nacional”.

A Bahia no ano de 2000, participou com apenas 3,5% do total das exportações brasileiras, portanto a sua relação com o comércio exterior é consideravelmente pequena com relação aos principais Estados brasileiros que participam intensamente das exportações brasileiras.

Considerando a Bahia como um Estado que tem pouca participação no comércio exterior, observado na participação relativa das exportações baianas, com relação ao seu PIB (em torno de 4%), contata-se que uma pequena variação, tanto positiva quanto negativa nas exportações, apresenta um impacto relativamente grande para o comércio exterior baiano.

Esse coeficiente das exportações para a Argentina chegou a aproximadamente 1% do PIB baiano, nesse período. Mesmo sendo um percentual muito pequeno, representa 25% das exportações totais da Bahia. Dessa forma, esse intercâmbio comercial é considerado importante para o Estado, principalmente por se tratar de um parceiro comercial pertencente ao bloco do qual o Brasil faz parte.

No que diz respeito ao coeficiente das importações baianas com relação ao PIB baiano, verifica-se uma tendência crescente observada nos últimos dois anos. Este coeficiente representava 4%, em 2000, antes representava 2,9% de tudo que é produzido. Esse aumento pode ser observado na recente importação de automóveis e autopeças para a montadora Ford.

Essas importações na sua maioria são provenientes da Argentina, mesmo apresentando um coeficiente baixo (de 1%). Atualmente, essa maior integração da Bahia com a Argentina se dá basicamente pelas trocas regionais da montadora Ford. Verifica-se assim, que o padrão de especialização dessas regiões proporcionou um aumento no fluxo de comércio do Brasil e da Argentina, com um grande impacto para o comércio exterior e para a economia baiana.

Concluiu-se portanto, a partir da análise teórica e empírica aqui apresentada, a forte relação comercial da Bahia com a Argentina, ligadas principalmente ao Mercosul, com suas diretrizes, normas e medidas que incentivam e proporcionam o aumento do fluxo comercial, gerando, muitas vezes, benefícios para todos os membros do bloco.

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