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6. Anotações para o desenvolvimento de uma teoria do direito: o pragmatismo

6.5 Considerações Finais

Vemos o pirronismo e o pragmatismo unidos numa postura filosófica não dogmática, e ao mesmo tempo não não-dogmática, ou seja, que não parte do princípio de que dogmas estão errados por serem dogmas, apenas não se sente obrigado a deixar de questioná-los, e por isto é intrinsecamente tolerante e interativa. O desenvolvimento de ideais de liberdade só é possível num ambiente não dogmático, onde se possa não apenas pensar, mas exercitar diferenças.

Neste sentido, a defesa de valores democráticos, da tolerância e da abertura espiritual para acatar a mudança de valores caracteriza uma conduta tendente a criticar toda ideologia dogmática.

Embora os crentes na repartição de poderes como princípio democrático supremo se assustem com as teorias que pregam uma emancipação do Poder Judiciário perante o direito posto, demonstramos que tal constatação funda-se na realidade empírica e não é fato novo, inclusive no âmbito do direito brasileiro, sendo natural em países tidos como exemplos democráticos como a Inglaterra, onde a repartição formal de poderes sequer existe.

O conhecimento da história demonstra que as nações evoluem ou retrocedem cada uma em seu tempo, conforme seu estágio cultural, e que não há progressão linear em nenhuma direção. Assim, a democracia encontra sua conformação dentro de cada Estado conforme sua cultura, cabendo aos que se pretendem racionais, trocar a violência pela persuasão racional e por ela alcançar seus objetivos, dentro do Estado Democrático de Direito. Como produto cultural o direito está em constante mudança e a cultura humana criou no Estado Democrático de Direito um sistema político que se reconstrói sem a necessidade do uso da violência, uma vez que apenas aqueles direitos sem os quais não se caracteriza um Estado de Direito são imutáveis dentro do sistema.

Ver a decisão jurídica e o direito, sob a ótica da necessidade contingente da sociedade, partindo de princípios que estão positivados internacionalmente no âmbito jurídico como democracia, tolerância e direitos humanos, que apesar de indefinidos

peremptoriamente trazem consigo grande força retórica e rechaçam o niilismo ético, coloca a conduta pragmática de acatar o direito posto e criticá-lo internamente possibilitando seu aperfeiçoamento constante como a solução possível para o problema da fixação dos limites éticos, inclusive da própria tolerância, uma vez que a definição de tais limites se dá no âmbito da disputa política, dentro dos limites autorizados pelo direito.

Assim, necessitando de um espaço público onde possa exercitar sem limitações sua busca pela verdade, a aceitação pragmática do Estado Democrático de Direito serve de instrumento ao pensador pirrônico, uma vez que neste a crise de valores não é defeito, pelo contrário, é prova de sua vitalidade, uma vez que num Estado em que os valores de toda a sociedade são iguais e não há disputa por prevalência de valores éticos, não há sequer como medir o grau de liberdade que permite reconhecer a existência de um Estado Democrático de Direito.

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