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Portugal  encontra‐se  a  atravessar  uma  séria  crise  económico‐financeira,  acompanhando  a  tendência  não  só  Europeia  mas  também  mundial,  cenário  que  tem  promovido  constrangimentos  à  política  energética  nacional,  assim  como  ao  planeamento  do  sistema  eléctrico. 

Em primeiro lugar, a procura de electricidade tem vindo a reduzir‐se, existindo a necessidade  de rever os níveis de oferta face à procura, sem esquecer contudo os efeitos da retoma futura.  Em segundo lugar, o Memorandum of Understanding assinado com a chamada troika (Banco  Central  Europeu,  Fundo  Monetário  Internacional  e  Comissão  Europeia)  impôs  algumas  medidas ao Governo Português relacionadas com o sector da energia, e em particular com o  sector da produção de electricidade de origem renovável. 

A par disso, o actual Governo tem vindo a reger‐se por um lema de racionalidade económica e  redução dos custos, com vista a “colocar a energia ao serviço da economia”. 

É sobre estes argumentos que assenta não apenas a motivação das “linhas estratégicas para a 

revisão  dos  Planos  Nacionais  de  Ação  para  as  Energias  Renováveis  e  Eficiência  Energética”, 

mas  também  a  publicação  do  Decreto‐Lei  nº  25/2012,  de  6  de  Fevereiro,  que  veio  pôr  um  grave  travão  ao  desenvolvimento  de  todas  as  formas  de  produção  de  energia  eléctrica,  nomeadamente de fontes renováveis, ao suspender a atribuição de potências de injecção na  RESP. 

A APREN vem reforçar que, por muito válidas que sejam as razões invocadas e a pertinência de  algumas  delas,  as  acções  colocadas  em  marcha  encontram‐se  a  promover  uma  dramática  e  abrupta  paragem  ao  desenvolvimento  das  energias  renováveis  em  Portugal,  em  prejuízo  dos  interesses  económicos,  ambientais  e  sociais  do  País  e  dos  compromissos  que  neste  domínio  foram assumidos a nível internacional. 

A  política  energética  não  pode  atentar  somente  ao  seu  lado  económico  e  financeiro  do  momento; deve antes ter em consideração uma completa análise custo‐benefício, estudando  todas as variáveis macroeconómicas e a sua evolução. Ainda que a produção de electricidade  renovável  possa  actualmente  envolver  custos  superiores  à  produção  convencional  (custos  estes  que  se  vêm  reduzido  a  cada  ano  que  passa),  a  verdade  é  que  estes  se  traduzirão  em  consideráveis poupanças no futuro; para além do que, actualmente, este sector gera variados  benefícios macroeconómicos que não devem ser menosprezados. 

 O sector das energias renováveis é dos poucos que tem vindo a crescer consistentemente ao  longo da última década, funcionando como motor da economia regional e nacional e captando  investimento estrangeiro, pelo que desde o início, a energia renovável tem estado sempre ao  serviço  da  economia.  Todos  estes  benefícios  e  dados  correspondentes  foram  descritos  e  quantificados ao longo deste documento. 

É portanto essencial que o Governo possua uma visão que vá além da actual crise, para lá de  2020, e que não se limite a cumprir pontos de documentos oficiais; que tenha uma visão do  caminho  indispensável  de  um  sistema  energético  descentralizado,  com  a  participação  dos  consumidores,  independente  de  combustíveis  fósseis,  descarbonizado,  sustentável  e  com  tecnologias  desenvolvidas  a  nível  nacional  que  já  percorreram  o  seu  caminho  e  são 

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competitivas,  capitalizando  o  conhecimento  adquirido  e  mantendo  Portugal  como  um  player  de destaque neste sector. 

A  própria  Comissão  Europeia  refere  na  sua  Comunicação  sobre  a  Estratégia  de  Energias  Renováveis  que,  apesar  das  limitações  impostas  pela  crise,  os  Governos  devem  promover  políticas  transparentes  de  longo  prazo,  que  visem  uma  implementação  rigorosa  da  Directiva  das Energias Renováveis para assegurar os investimentos necessários; que a competitividade  só  pode  ser  atingida  com  o  compromisso  político  que  garanta  enquadramentos  regulatórios  que apoiem a indústria, desenvolvam a tecnologia e removam as distorções de mercado, e que  os mecanismos de apoio devem ser estáveis e de confiança. 

Por  seu  lado,  o  Fundo  Monetário  Internacional  juntou‐se  ao  G‐20  referindo  que  a  saída  da  crise  não  pode  passar  apenas  por  políticas  de  austeridade,  mas  deve  ser  promovido  o  crescimento e criação de emprego. 

Também  na  Cimeira  Rio+20,  os  chefes  de  Estado  internacionais,  incluindo  o  Português,  uniram‐se para promover uma transição mundial para uma 'economia verde', integrada numa  estratégia  ampla  de  desenvolvimento  sustentável,  onde  as  renováveis  têm  um  papel  preponderante. 

No entanto, a par de recentes iniciativas legislativas, este documento pretende introduzir uma  incerteza insustentável no sector, comprometendo não só investimentos actuais como futuros,  e  persistindo  em  ignorar  o  contexto  actual,  as  soluções  indispensáveis  de  futuro  e  a  consciência que se está a destruir um sector importante da economia portuguesa, criando um  risco regulatório que, até à data, não existia. 

 

Faz‐se  de  seguida  um  resumo  das  principais  considerações  defendidas  pela  APREN,  e  chamadas  de  atenção  para  a  elaboração  do  novo  Plano  Nacional  de  Acção  para  as  Energias  Renováveis, explanados neste documento: 

‐  A  expectativa  de  reduções  consideráveis  no  consumo  de  electricidade,  que  por  sua  vez,  aparentemente  determinam  um  menor  valor  de  nova  potência  a  instalar  em  Portugal,  é  alarmante. 

‐  Ainda  que  se  registe  um  aumento  dos  níveis  de  implementação  de  medidas  de  eficiência  energética,  não  deve  ser  esquecido  que  esta  análise  parte  de  uma  base  –  2011  e  2012  –  de  clara  repressão  da  procura  de  electricidade,  por  via  da  crise  económico‐financeira  que  severamente  se  faz  sentir  em  Portugal;  no  entanto,  é  expectável  que  aquando  da  retoma  económica, sejam restabelecidos os níveis iniciais de consumo. 

‐  Acresce  que  a  electricidade  é  dos  três,  o  sector  que  maior  flexibilidade  induz  para  o  cumprimento das metas para 2020, e aquele que permite uma maior incorporação de fontes  de  energia  renovável.  No  caso  dos  transportes  é  expectável  uma  significativa  dificuldade  no  cumprimento da meta de 10% de incorporação de renováveis, fixada pela Directiva. No caso  do  sector  do  aquecimento  e  arrefecimento  (A&A),  existe  uma  maior  dificuldade  em  implementar  medidas  para  aumento  da  incorporação  de  renováveis  devido  à  dificuldade  em  alterar  comportamentos  individuais,  em  actuar  no  sector  residencial  e  de  serviços  e  sem  proceder  a  investimentos  avultados,  que  não  se  afiguram  possíveis  face  ao  panorama  económico‐financeiro que o País atravessa. 

‐ É ainda importante não esquecer que a electrificação dos sectores do A&A e transportes é já  uma realidade e orientações nesse sentido estão a ser comunicadas pela Comissão Europeia. A 

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par de que o sistema eléctrico tem‐se mostrado capaz de satisfazer essa procura, mais ainda  com a implementação de soluções futuras de demand side management e smart metering, e  da capacidade de resposta dos promotores de electricidade renovável. 

‐  No  que  concerne  utilizar  a  atribuição  de  nova  potência  renovável  como  medida  de  backup  para  um  eventual  atraso  na  implementação  de  medidas  de  eficiência  energética,  a  APREN  sublinha  que  a  experiência  nacional  indica  que  o  tempo  de  aplicação  de  medidas,  à  semelhança  do  tempo  para  licenciamento  em  Portugal  é  longo,  pelo  que  uma  previsão  de  atribuição de potência extra em 2014 deve ter em conta que restaram apenas 6 anos até ao  fim  do  período  de  cumprimento  dos  Planos  de  Acção  em  causa,  o  que  poderá  não  ser  suficiente para sentir os seus impactos a nível do cumprimentos das metas para 2020. 

‐  É  essencial  rever  a  medida  de  suspensão  de  atribuição  de  potência  de  sobreequipamento,  não só porque a autorização para instalação de sobreequipamento não configura a emissão de  uma  “nova”  licença  de  exploração,  mas  também  porque  estes  projectos  trazem  inúmeras  vantagens  (e  nenhuns  inconvenientes)  para  o  sistema  eléctrico  nacional  e  mesmo  para  o  consumidor.  Deverão  por  isso  ser  avaliados  os  custos  do  desenvolvimento  dos  projectos  de  sobreequipamento  a  nível  administrativo  por  parte  dos  promotores.  No  âmbito  do  supra  mencionado  desenvolvimento  administrativo  dos  projectos  de  sobreequipamento,  existem  promotores com DIA27 favoráveis emitidas. Como é sabido, as DIA têm uma validade de dois  anos,  ao  abrigo  da  legislação  em  vigor.  A  proposta  suspensão  do  processo  de  sobreequipamento até 2014, originará, assim, a caducidade das DIA, obrigando os promotores  a reiniciar os procedimentos de avaliação de impacte ambiental, com uma duração de vários  anos  e  custos  muito  relevantes,  tendo  como  consequência  um  atraso  geral  no  processo  de  construção. 

‐  Uma  especial  chamada  de  atenção  é  feita  em  relação  ao  processo  de  licenciamento  de  pequenas  centrais  hídricas  –  é  necessário  que  este  seja  seriamente  repensado,  pois  o  licenciamento de uma PCH em Portugal leva, em muitos dos casos, mais de dez anos a estar  completo, sendo igualmente demorado e dispendioso licenciar uma instalação de uma PCH de  1  MW  ou  uma  grande  hídrica  com  centenas  de  MW.  É  essencial  prever  mecanismos  que  possibilitem viabilizar pequenas intervenções que possibilitem a optimização da produção em  PCH,  sem  aumento  de  potência,  sem  que  seja  necessário  novo  procedimento  de  avaliação  ambiental. 

‐ Os critérios de atribuição e remuneração de potência devem ser atempadamente estudados  e  decididos,  através  do  diálogo  com  os  stakeholders  do  sector,  no  sentido  de  tornar  estes  processos justos, transparentes e sustentáveis. 

 ‐ Em termos de planeamento do sistema electroprodutor nacional, é requerido que este seja  assente  em  metodologias  sólidas,  aplicando  critérios  coerentes,  a  bem  da  transparência  e  equidade  dentro  do  sector.  Os  mesmos  critérios  devem  ser  utilizados  para  decidir  entre  atribuição de potência renovável e não renovável, PRE ou PRO.     

27  Declaração de Impacte Ambiental. 

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3.1. Expectativas  Práticas  da  APREN  para  o  Desenrolar  do  Processo  de 

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