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A avaliação diagnóstica inicial concluída por meio dos primeiros artigos de opinião escritos pelos alunos revelou que a maioria evidenciava consideráveis lacunas na estrutura lógica do texto, por desconhecimento de algumas fases que devem compor a sequência argumentativa prototípica e de estratégias argumentativas.

Além disso, os alunos apresentavam dificuldades para elaborar a tese principal, organizar adequadamente os argumentos de apoio e desenvolver a conclusão, o que acarretava uma distribuição incoerente dos conteúdos em parágrafos.

O conhecimento prévio do nível de escrita dos alunos possibilitou o desenvolvimento de uma proposta de sequência didática que priorizou as competências que os estudantes apresentavam menor desempenho.

Segundo a avaliação dos alunos, a sequência didática foi muito produtiva, principalmente em decorrência dos módulos em que eles foram orientados a escrever em dupla ou coletivamente. A maioria afirmou que aprendeu a escrever o gênero artigo de opinião e a argumentar.

Quase a totalidade dos estudantes admitiu quanto mais tempo é dedicado ao planejamento do artigo e a sua revisão maior é o aprimoramento do texto. Além disso, também julgaram muito pertinentes as atividades de preparação antes da escrita propriamente dita, ou seja, a escolha e as discussões sobre temáticas relevantes para eles, a tempestade de ideias, a elaborações de esquemas. Reconheceram igualmente a relevância da frequente leitura dos textos, sua avaliação crítica e os processos de reescrita.

Nossa pesquisa tornou possível constatar que, após a aplicação dessa sequência didática, elaborada com o propósito de proporcionar o aprimoramento da escrita do gênero artigo de opinião, os alunos apresentaram melhor desempenho na leitura e na escrita desses textos.

Verificamos também que alguns alunos passaram a escrever artigos de opinião mais elaborados, nos quais a sequência argumentativa prototípica passou a ser identificada na seguinte composição: tese inicial ou premissas, argumentos, contra-argumentos e conclusão.

Por meio da análise dos artigos produzidos após a aplicação da sequência didática, é possível perceber que os alunos se tornaram mais conscientes sobre a importância de nortear o leitor sobre o assunto em debate, uma vez que a maioria deles começou a produção do artigo através da definição do assunto sobre o qual versaria o texto.

Já no primeiro parágrafo também começaram a adentrar na temática discutida e a apresentar uma tese referente ao tema em discussão. Em seguida, compreendemos que os alunos passaram a selecionar fatos e a defendê-los através de estratégias argumentativas diversas, o que não ocorria antes da aplicação da sequência didática.

Antes das intervenções, os alunos, muitas vezes, não elaboravam uma conclusão que tivesse relação com o que havia sido dito anteriormente, alguns, chegavam até a encerrar o texto de forma abrupta, demonstrando não ter conhecimento da unidade de sentido que o artigo deve apresentar, a fim de cumprir o propósito comunicativo de convencer o leitor.

Atualmente, alguns alunos que não são submetidos a um estudo sistemático por meio de sequências didáticas costumam produzir artigos de opinião nos quais não se identificam algumas fases da sequência textual argumentativa, pois o que se percebe é a presença de uma sequência meramente expositiva, na qual o aluno apenas explica o assunto proposto.

Acima de tudo, com nossa pesquisa, esperamos contribuir para que a escola cumpra a sua prioridade: ensinar a ler e a escrever, pois essas são práticas que ainda se mostram insuficientes, porque continuamos a considerar os textos de nossos alunos pouco satisfatórios no que concerne ao domínio de suas habilidades comunicativas, principalmente quando instigados a produzirem textos em que precisam expor seu ponto de vista por meio de uma tese e sustentá-la mediante argumentos, mesmo sobre um tema que lhes seja pertinente.

Muito já foi discutido e pesquisado, mas enquanto não houver uma revolução nas estratégias de ensino iremos continuar a assistir o insucesso de nossos alunos.

Já existem sugestões para melhorar o desempenho dos alunos, uma delas é o ensino através de projetos de leitura e de escrita que seguem a perspectiva de escrita como processo.

Essa intervenção é muito válida, porque o aluno adquire um papel ativo na construção do próprio conhecimento, além disso, é criado um contexto sobre o qual

escrever, ou seja, aparecem finalidades para o exercício da leitura e da escrita e evita-se a chamada “escrita escolar” descontextualizada e vista pelo aluno apenas como uma forma de atingir uma nota.

Já o ensino mediado por gêneros, como já foi mencionado, é um dos caminhos para capacitar o aluno a participar das interações sociais, uma vez que toda comunicação acontece por meio de textos que circulam em sociedade através de gêneros.

Em relação à noção de sequências textuais defendemos que, devido à heterogeneidade composicional presente nos textos, o professor faça uma análise das diferentes sequências textuais encontradas em artigos de opinião para que o aluno perceba que em um texto há diferentes sequências, relativamente autônomas, mas que cada uma possui uma função específica.

No que se refere às sequências didáticas é um método que se mostrou eficaz para instrumentalizar o aluno para que ele possa gradativamente se apropriar das características de um gênero discursivo e passe a usá-lo com desenvoltura.

Em relação à escrita do artigo de opinião, adotamos a base teórica de Adam por acreditarmos que para escrever o texto argumentativo o aluno precisa estar ciente de cada fase que compõe a estrutura global desse gênero.

Acreditamos que as atividades pedagógicas realizadas ao motivar a produção e a recepção reflexiva dos artigos de opinião facilitaram a aprendizagem, o que resultou em melhor capacidade crítica em relação aos próprios textos e aos alheios.

Os resultados atingidos através do uso das estratégias sugeridas na presente pesquisa mostraram que, ao menos por enquanto, esse é um caminho eficaz para desenvolver a competência dos nossos alunos na escrita do artigo de opinião e também de textos de outros gêneros da ordem do argumentar.

O trabalho de Adam (2011) inova ao formular a noção de sequência textual que enriquece o campo de debate sobre gêneros discursivos e cria a possibilidade de repensar questões referentes a metodologias de ensino de língua.

Portanto, a teoria desenvolvida por Adam enriquece os estudos linguísticos ao propor a noção de sequência textual, mas ainda está aberto um vasto campo de discussões sobre a natureza do fenômeno e as suas possíveis contribuições para o ensino de línguas.

Retomando a nossa questão de pesquisa: como se efetiva o aprimoramento da argumentação dos alunos por meio da escrita do gênero discursivo artigo de

opinião, mediante a implementação de sequência didática? Acreditamos que os objetivos foram atingidos, porque houve o aprimoramento da escrita dos alunos, o que podemos comprovar por meio dos dizeres deles. Além disso, em nossas análises percebemos que, após a aplicação da sequência didática, eles passaram a escrever artigos de opinião nos quais foi possível identificar as fases que compõem a sequência argumentativa preconizada por Adam (2011).

Outro ponto que vale a pena ressaltar é a respeito dos desvios relativos às convenções de escrita. Percebemos que eles foram gradativamente sendo corrigidos, à medida que os alunos passavam pelas etapas de reescrita, o que ressalta outro benefício de adotar a concepção de escrita como uma prática processual, segundo preconizam Flower, L.; Hayes, J. (1980).

Longe de uma conclusão absoluta, essa pesquisa encerra algumas considerações feitas sobre as ações pedagógicas que podem ser concebidas com o propósito de favorecer o aprimoramento da escrita dos gêneros argumentativos e abre espaço para outras discussões que possam contribuir para que os alunos atinjam níveis mais sofisticados de argumentação.

Essa pesquisa contribuiu muito para o meu aprendizado, porque se tornou uma atitude cotidiana e se constituiu a forma de aperfeiçoar a minha prática por meio do cultivo de uma consciência crítica e postura pró-ativa a fim de intervir na minha realidade e na dos alunos.

As dificuldades e angústias enfrentadas durante o processo de desenvolvimento da intervenção também foram importantes, porque me permitiram ler a realidade de modo questionador e de reconstrui-la como sujeito competente, uma vez que pelo questionamento surge um sujeito que se questiona permanentemente e esse é o objetivo de vida que continuaremos a perseguir.

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