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6. Argumento por causa e consequência:

2.2.2.3 A sequência argumentativa prototípica

A noção de sequência textual estabelecida por Adam (2011) está centrada em estudos do final dos anos 80, nos quais o autor aproxima os quadros teóricos da Linguística Textual e da Análise do Discurso Francesa e define o texto como um objeto circundado e determinado pelo discurso.

construída do período à sequência, ou seja, passamos de um simples período argumentativo, que é definido por uma série de proposições ligadas por conectores argumentativos, até uma sequência argumentativa, quando nos aproximamos do seguinte modelo de composição descrito por Ducrot (1980,p. 81):

Um grande número de textos literários, sobretudo nos séculos XVII E XVIII, apresenta-se como raciocínios. Seu objeto é ou demonstrar ou refutar uma tese. Para isso, partem de premissas, nem sempre explícitas, aliás, supostamente incontestáveis, e tentam mostrar que não se pode admitir essas premissas sem admitir, também, esta ou aquela conclusão.

Para fundamentar essa concepção, Adam (2011) parte da enunciação para estabelecer o domínio da Linguística Textual como o responsável pela análise do modo como os mecanismos de textualização caracterizam-se. Um desses mecanismos, a sequência textual, é concebida como um conjunto de proposições psicológicas que se configuram como recurso composicional dos diversos gêneros discursivos que tornam possível a interação social.

Além disso, conforme os estudos da cognição e linguagem (VAN DIJK, 1983) ao lermos e produzirmos textos, dispomos sempre de representações e de conhecimentos referentes a uma determinada temática, que estão armazenados em nossa memória, em outros termos, aquilo que podemos chamar de macroestruturas cognitivas. Essas sequências se efetivam em diversas formas de organização linear denominadas de superestruturas cognitivas do discurso.

Dentre essas formas, destaca-se aquela que estudada por Adam (2011), que é encontrada na formação de todos os textos: a sequência, ou seja, unidades estruturais relativamente autônomas, que integram e organizam macro proposições constituem-se como protótipos cognitivos que os falantes dispõem sobre os textos.

Segundo Adam (2011), essas sequências classificam-se em: injuntiva, poética, narrativa, descritiva, explicativa, argumentativa e dialogal. Após rever essa categorização, optou por excluir a injuntiva e a poética. A exclusão da sequência injuntiva fundamentou-se no entendimento de que esta sequência poderia ser abarcada pela descritiva. Já a supressão da poética ocorreu por considerar o texto poético como o resultado dos ajustes de superfície na base do texto, mas não propriamente uma estrutura hierárquica de proposições. Na visão desse autor, essas sequências podem ser combinadas em um texto e é essa junção que resulta na heterogeneidade composicional da textualidade verbal.

sequência. O primeiro é que ela corresponde a um conjunto de proposições organizado de forma hierárquica, atualizada no texto de acordo com as exigências pragmáticas do enunciado. O segundo é que a sequência, embora seja um mecanismo cognitivo, é determinada pelas condições externas do discurso.

Quanto à sequência argumentativa especificamente, esta implica a existência de uma tese a respeito de um conteúdo temático. À tese são acrescidos dados novos como resultados de inferências sobre as proposições que conduzem a uma conclusão. Nessa direção, salientamos que as inferências podem ser apoiadas por justificativas ou suportes que vão se configurar nos argumentos ou contra- argumentos. Da força dos argumentos e dos contra-argumentos dependerá a pertinência da conclusão.

Segundo Adam (2011), a sequência argumentativa divide-se em quatro fases, quais sejam: premissas, apresentação de argumentos, apresentação de contra- argumentos e conclusão.

As premissas correspondem à fase em que se propõe uma constatação de partida. A apresentação de argumentos é o momento em que se apresenta elementos que orientam para uma conclusão provável, podendo ser esses elementos apoiados em lugares-comuns, regras gerais, exemplos, etc. Na apresentação de contra-argumentos ocorre uma restrição em relação à orientação argumentativa, cujos argumentos podem ser apoiados ou refutados também por lugares-comuns, exemplos, etc. A conclusão ou nova tese consiste na fase que integra os efeitos dos argumentos e contra-argumentos.

As fases das sequências textuais são diferentes, porque isso se deve à finalidade de cada sequência, haja vista que ao se escolher uma sequência argumentativa o objetivo é defender um ponto de vista e para atingir esse fim os argumentos que o sustentam são apresentados gradativamente. Em outras palavras, a tese inicial é a contextualização sobre o assunto, tratando-se de uma constatação inicial. Nesse sentido, os argumentos são os dados que direcionam a argumentação para uma conclusão, já os contra-argumentos, por sua vez, são a refutação dos dados que se opõem à argumentação anterior. A conclusão consiste na nova tese que se instaura como resposta aos argumentos e contra-argumentos anteriormente apresentados.

No entanto, é importante ressaltar que as fases não se apresentam necessariamente de forma linear assim como nem todas são obrigatórias no gênero de sequência argumentativa. Assim sendo, argumentar, em sentido restrito, é direcionar a atividade verbal para o convencimento do outro, ou, em outros termos, é a construção de um discurso que objetiva modificar o ponto de vista do outro sobre determinado objeto, resultando, assim, em alterações em seu discurso.

Conforme Ducrot (1987, 1988), o ato argumentativo é construído a partir de um já dito, isto é, um dizer anterior que aparece implícito, melhor dizendo, já é conhecido pelo interlocutor, por isso não precisa ser repetido. Pode-se inferir, então, que argumentar consiste em contrapor enunciados e tem sua sustentação em operadores argumentativos que têm a função de opor um enunciado que está sendo dito a um já dito, chamado topos. Nesses termos, o esquema argumentativo consiste na apresentação de um dado ou argumento e uma conclusão, passando por um topos, ou seja, um já dito.

Segundo a proposta de Adam (2011) a sequência argumentativa é formada de três partes: os dados (premissas), o ancoramento de inferências e a conclusão, sendo essa segunda parte implícita. Desse modo, os dados são as afirmações que dão margem à conclusão; o escoramento de inferências, mesmo não estando explícito, é sinalizado pelo sentido do enunciado e a conclusão é propriamente a opinião do enunciador, podendo servir de tese para uma nova sequência argumentativa.

O ato argumentativo consiste na oposição de enunciados, os quais são interligados por operadores argumentativos. É bom esclarecer: “não se deve confundir o fato de que todos os textos comportam uma orientação argumentativa com o fato de que existe este tipo de colocação em sequência cujo grau zero é certamente representado pelo silogismo e pelo entimema” (ADAM, 2011, p.126).

A partir do modelo de Toulmin (2003), Kinstsch e Van Dijk (1983) no qual propôs a superestrutura do texto argumentativo, a qual foi incorporada por Adam (2011), ao estabelecer o esquema de base de uma sequência argumentativa, conforme apresentamos a seguir:

Figura 1 - Esquema simplificado de base de uma sequência argumentativa

DADOS --- ARGUMENTOS ---ASSERÇÃO