• Nenhum resultado encontrado

3.2.5 – As Quatro Meninas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação pontuou a forma como as identidades das personagens Carla, Sandra, Yolanda e Sofía García do romance How the García Girls Lost their Accents (1992), da escritora dominicana-estadunidense Julia Alvarez, são construídas e marcadas pela imigração da família caribenha para os Estados Unidos. Através desta pesquisa, tentamos demonstrar o que os imigrantes podem vivenciar ao ter que escolher entre se tornar bilíngues ou não, por morar em um país estrangeiro. Houve o intuito de mostrar que a habilidade das irmãs García de falar tanto inglês quanto espanhol fortaleceu seus sentimentos de viver entre dois mundos, que as fez adquirir, como propôs Salman Rushdie (1994), uma identidade traduzida e fragmentada que realçou sua split vision ou ‘mirada estrábica’.

Esta dissertação também teve como objetivo evidenciar que o bilinguismo é uma das consequências do impacto da imigração na vida dos imigrantes. Obras como o romance de Alvarez possuem extrema relevância para os estudos sobre a contemporaneidade, uma vez que abordam a negociação do posicionamento de sujeitos compostos de palavras e identidade(s) hifenizadas na sociedade atual. Assim, esta pesquisa de mestrado se mostra instigante e de importância tanto acadêmica quanto social ao buscar compreender a fala destes sujeitos diaspóricos a fim de entender a proficiência do ser que habita o entre-lugar do mundo contemporâneo.

Nesse sentido, a proficiência tanto linguística quanto cultural das irmãs García possui uma grande influência na forma em que elas se relacionam consigo mesmas, entre si, com sua família nos Estados Unidos ou na República Dominicana, assim como com os estadunidenses e os dominicanos com quem se relacionam durante o romance alvareziano. Assim, os apontamentos referentes ao impacto da imigração na construção identitárias das personagens se torna um elemento crucial para entender se as Garcías de fato perderam o seu sotaque, como atesta o título do livro, e de qual língua, a inglesa ou a espanhola, este sotaque foi suavizado.

Por meio das pontuações sobre os episódios vividos pelas personagens nas cinco subnarrativas escolhidas como foco de estudo desta dissertação, percebe-se que a proficiência linguística do inglês torna-se um instrumento de mediação entre as fronteiras culturais e geográficas que permeiam suas vidas. Cada personagem vivencia momentos de embate e tensão ao se relacionar com um sujeito estadunidense, assim como ao tentar fazer parte da sociedade hegemônica dos Estados Unidos.

Em suma, através das personagens da obra How the Garcia Girls Lost Their Accents, pode-se compreender o que acontece com os imigrantes ao saírem de sua terra natal para migrarem para os Estados Unidos e terem que encarar a opção de falar inglês ou manter sua língua nativa mesmo em solo estadunidense. Embora o bilinguismo seja uma das razões mais determinantes do sentimento de hifenização entre os imigrantes, outras questões precisam ser levadas em consideração, a saber: o lugar onde os imigrantes vivem nos EUA, assim como com que outros tipos de grupos minoritários eles convivem; entre outros. Visto que outros aspectos que conferem aos imigrantes suas identidades fragmentadas não foram aqui investigados, estes merecem uma investigação maior.

REFERÊNCIAS

ACIMAN, Andre. (Ed.). Letters of Transit: Reflections on Exile, Identity, Language, and Loss. New York: The New Press, 2000.

ALMEIDA, Sandra. R. G. Narrativas cosmopolitas: a escritora contemporânea na aldeia global. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 32, p. 11-20, 2008.

ALVAREZ, Julia. How the Garcia Girls Lost their Accents. New York: Plume, 1992. ______. Something to declare. Chapel Hill: Algonquin Books Chapel Hill, 1998.

ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. California: Aunt Lute Books, 1987.

APPIAH, K. Anthony. The multiculturalist misunderstanding. The New York Review of Books, October 9, 1997.

ASHCROFT, Bill, et al. Post-colonial studies: the key concepts. London: Routledge, 2000. BHABHA, Homi K. Introduction: Narrating the Nation. In: ______. (Ed.). Nation and Narration. London e New York: Routledge, 1990. p. 1-7.

______. Culture’s In-Between. Questions of Cultural Identity. In: Stuart Hall and Paul du Gay (Ed.). London: SAGE Publications Ltd., 1996. p. 53-60.

______. O local da cultura. Tradução: Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

______. Ambivalence. The Hindu – online edition of India’s National Newspaper. Sunday, Jul. 03, 2005.

BONNICI, Thomas. Aspectos da teoria pós-colonial. In: ______. O pós-colonialismo e a literatura: estratégias de leitura. Maringá: Edvem, 2000. p. 01-48.

BRAH, Avtar. Diaspora, border and transitional identities. In: ______. Cartographies of Diaspora: contesting identities. London: Routledge, 1996. p. 178-210.

BRANDÃO, Luís Alberto. Grafias da identidade: literatura contemporânea e imaginário nacional. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Lamparina Editora/FALE (UFMG), 2005.

CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo. EDUSP, 1997.

CANDIDO, Antônio. A personagem de ficção. 10 ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.

CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. Trad. Dinah Kleve. São Paulo: Selo Negro, 1996.

CRUZ, A. S. Ponciá Vicêncio para além das fronteiras: etnia, gênero e classe. In: ALEXANDRE, Marcos Antônio; DUARTE, Constância Lima; DUARTE, Eduardo de Assis. (Org.). Falas do outro: literatura, gênero, etnicidade. Belo Horizonte: Nandyala/NEIA, v. 1, p. 43-53, 2010.

DI PIETRO, Giovanni. La Dominicanidad de Julia Alvarez. Puerto Rico: Editora Imago Mundi, 2002.

DUARTE, Eduardo de Assis. Mulheres marcadas: literatura, gênero, etnicidade. SCRIPTA. Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 63-78, 2º sem. 2009.

EVARISTO, Conceição. Gênero e Etnia: uma escre(vivência) da dupla face. Mulheres no mundo, etnia, marginalidade e diáspora. In: Nadilza Martins de Barros Moreira e Diane Schneider (Ed.). João Pessoa: Ideia, 2005. p. 201-212.

______. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. SCRIPTA. Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem. 2009.

FLORES, Juan; YÚDICE, George. Fronteiras Vivas/Buscando América: as línguas da formação latina. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.) Y Nosotros Latinoamericanas? Estudo sobre gênero e raça. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 1992. p. 69- 86.

GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Trad. Eunice Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.

GONÇALVES, Ana Beatriz. Processos de (re)definição na poesia de Conceição Evaristo. SCRIPTA. Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 51-61, 2º sem. 2009.

GONÇALVES FILHO, José Moura. Olhar e memória. In: NOVAES, Adauto. O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

GRAY, Dulce Maria. High Literacy and Ethnic Identity: Dominican American Schooling in Translation. Lanham, MD: Rowman & Littlefield Publishers, 2002.

GUILBAULT, Rose Del Castillo. Americanization is Tough on ‘Macho’. In: Henderson, Gloria M.; Day, William; Waller, Sandra S. (Eds.). Literature and Ourselves: A Thematic Introduction for Readers and Writers. New York: Longman, 1997. p. 290-291.

HALL, Stuart. Identidades Culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A. 2001. ______. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Liv Sovik (Org.). Trad. Adelaine La Guardia Resende et al. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da Unesco no Brasil, 2003.

HARRIS, Leila Assumpção. A produção literária de escritoras contemporâneas que migraram do Caribe para o Canadá e os Estados Unidos. Cerrados (UnB. Impresso), v. 20, p. 219-229, 2011.

HOLLINGER, David A. Postethinic America: Beyond Multiculturalism. Revised and updated edition. New York: Basic Books, 2000.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Trad. Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

IYER, Pico. The Empire Writes Back. Time, February 8, 1993, p. 46-51.

KING, Robert. Ethnicity and Language. In: Encyclopedia of Linguistics, v. 1, n. 1, p. 299- 301, 2005.

KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nos mesmos. Trad. Maria Carlota C. Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

______. Nations Without Nationalism. Trans. Leon S. Roudiez. New York: Columbia University Press, 1993.

MIGNOLO, Walter D. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento limiar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

MOLLOY, Sylvia. Santuários e labirintos: os lugares da memória. Vale o escrito a escrita autobiográfica na América Hispânica. Tradução: Antônio Carlos Santos. Chapecó: Argos, 2003. p. 255-296.

MORAGA, Chérrie. Art in América con Acento. In: FERNANDEZ, Roberta. (Ed.). In Other Words. Literature by Latinas of the United States. Houston, TX.: Arte Publico Press, 1994. p 300-306.

MOREIRAS, Alberto. A exaustão da diferença: a política dos estudos culturais latino- americanos. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001.

PAPASTERGIADIS, Nikos. Dialogues in the diasporas. Essays and conversations on cultural identity. London: Rivers Oram Press, 1998.

PARKER, Kenneth. “Home is where the heart ... lies”. Transition, v. 3, n. 59, p. 65-77, 1993. PEIXOTO, Nelson Brissac. O olhar do estrangeiro. In: NOVAES, Adaulto. (Org.). O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 361-363.

REIS, Eliana Lourenço de Lima. Pós-colonialismo, identidade e mestiçagem cultural: a literatura de Wole Soyinka. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

RICOEUR, Paul. La memória, la historia, el olvido. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica de Argentina, S.A., 2004.

RODRIGUEZ, Richard. Aria: A Memoir of a Bilingual Childhood. In: LESTER, James D. (Ed.). Diverse Identities. Classic Multicultural Essays. Lincolnwood, IL: NTC Publishing Group, 1996. p. 40-52.

RUSHDIE, Salman. Imaginary homelands. In: ______. Imaginary homelands. London: Granta Books, 1990. p. 9-21.

______. East, west. London: Vintage, 1994.

SAID, Edward W. Culture and Imperialism. New York: Random House / Vintage Books, 1994.

______. Representations of the intellectual: The 1993 Reith Lectures. New York: Vintage Books, 1996.

______. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. Tradução Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: ______. Uma literatura nos trópicos. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 9-26.

SOLLORS, Werner. Beyond Ethnicity: Consent and Descent in American Culture. Oxford: Oxford University Press, 1988.

______. (Ed.). Theories of Ethnicity: A Classical Reader. New York: New York University Press, 1996.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. A Critique of Postcolonial Reason: Toward a History of the Vanishing Present. Cambridge, MA: Harvard UP, 1999.

______. Diasporas Old and New: Women in the Transnational World. Textual Practice 10.2 (1996): 245-69.

______. Imperialism and Sexual Difference. Oxford Literary Review 8 (1986): 1-2.

______. The new subaltern: a silent interview. The Cultural Studies Reader. 3rd Edition. Ed. Simon During. London: Routledge, 2007. p. 229-240.

SUÁREZ, Lucía M. Julia Alvarez and the anxiety of Latina representation. Meridians: feminism, race, transnationalism, v. 5, n. 1, p. 117-145, 2004.

SUÁREZ-OROZCO, Carola. Identities under Siege: Immigration Stress and Social Mirroring Among Children of Immigrants. Cultures under Siege: Collective Violence and Trauma. Eds. A. Robben, and M. M. Suarez-Orozco. Cambridge: Cambridge UP, 2000. p. 194-226.

TAYLOR, Charles. The Politics of Recognition. Multiculturalism. Ed. Amy Gutmann. New Jersey: Princeton, 1994.

TORRES, Sonia. Nosotros in USA: literatura, etnografia e geografias de resistência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

______. US Americans and ‘Us’ Americans: South Americans perspectives on Comparative American Studies. In: Comparative American Studies. An American Journal, v. 1, n. 1, p. 9- 17, 2003.

VALDÉS, Gina. Where you from? The Broken Line/La Linea Quebrada.1. 1. Maio 1986. Voices from the Gaps. “Julia Alvarez.” Voices from the Gaps. 2005. 05 março 2012. <http://voices.cla.umn.edu/artistpages/alvarezJulia.php>

WEI, L. Dimensions of Bilingualism. In: ______. (Ed.). The Bilingualism Reader. London: Routledge, 2000. p. 178-210.

ZENTELLA, Ana Celia. “José, can you see?” Latin@ Responses to Racist Discourse. In: SOMMER, Doris (Ed.). Bilingual Games. Some Literary Investigations. New York, N.Y.: Palgrave Macmillan, 2003. p. 51-66.