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Ressalta -se que os erros de manejo citados nesta pesquisa são muito freqüentes em propriedades rurais, no entanto existe uma série de outros que apesar de não comuns também merecem ser destacados. Pode ser citado como exemplo, o relato de um proprietário sobre a vermifugação de todos os animais recém comprados como uma prática freqüente em sua fazenda. Esta tem a desvantagem de não atender os animais já existentes no plantel e, sobretudo os bezerros nascidos nas fazendas, que por serem animais jovens são mais susceptíveis às verminoses. O fato de esses animais serem os principais disseminadores de ovos de helmintos na pastagem faz com que mereçam maior atenção em um programa de controle estratégico e integrado da fasciolose.

Chamou atenção o relato de um proprietário rural que justificou a aplicação de subdosagens pela diluição do produto em água com a justificativa deste “render” mais, ou seja, o proprietário pensava que essa prática implicaria em maior economia na utilização do anti-helmíntico, pois permitiria o “tratamento” de um número maior de animais.

Também foi relatada a vermifugação exclusiva de animais enviados para exposição. Apesar destes requererem uma atenção especial, ressalta-se que o negligenciamento do tratamento dos demais animais também contribui para a contaminação do pasto com ovos de F. hepatica, bem como por outras espécies de helmintos.

Respostas contraditórias também foram observadas como a de um proprietário que afirmou vermifugar os animais do plantel a intervalos de seis meses, sendo que o tempo decorrido desde a ultima dosificação e a data da presente entrevista foi de oito meses, ou seja, aquilo que os proprietários fazem nem sempre condiz com o que dizem fazer.

Outro erro de manejo observado foi a troca freqüente de produtos anti- helmínticos durante o ano. O criador que defendeu essa prática considerou que as chances de ocorrência de resistência anti-helmíntica são minimizadas, no entanto é necessário ter em mente que a troca do medicamento sem a mudança do grupo químico ou do princípio ativo de maneira correta implica apenas em mudança do nome comercial sem maiores benefícios para o rebanho. Considerando que a maioria dos produtores rurais 85% não utiliza produtos fasciolicidas na região e 45% deles não dispõe de assistência técnica especializada para orientá-los no momento da troca do medicamento, infere-se que essa prática favorece a ocorrência de fasciolose na região. Além do mais, a troca de produtos quatro ou mais vezes ao longo do ano implicariam em perdas econômicas por gastos excessivos com medicamentos.

Uma situação completamente diferente da anteriormente citada é a aplicação de anti-helmíntico somente uma vez por ano. Nesse caso, o proprietário não considera a necessidade de descontaminação da pastagem, pois se preocupa apenas com o tratamento curativo. Também não considera a importância epidemiológica do hospedeiro intermediário no ambiente, logo tais condutas, entram em total desacordo com os princípios básicos do tratamento e controle de verminoses como a fasciolose e devido a estes fatos infere-se que os proprietários não sabem realizar tratamentos preventivos estratégicos ou táticos que interrompam o ciclo de vida do agente etiológico dessa enfermidade parasitária.

É importante salientar que a existência de áreas de baixada (alagadiças) é um fator predisponente à presença do hospedeiro intermediário. Estas além de permitirem o desenvolvimento do parasito no molusco hospedeiro, são de difícil drenagem, sobretudo no verão quando os índices de precipitação pluviométrica aumentam consideravelmente. Nesse período aumenta o número de coleções hídricas onde vive o molusco hospedeiro intermediário, bem como as chances de infecção de L. columella por miracídios oriundos dos ovos de F. hepatica carreados pela chuva da pastagem para áreas alagadiças.

6.2. Sugestões para o controle.

O conhecimento de tais aspectos pode contribuir para a implementação de medidas de controle direcionadas capazes de minimizar a ocorrência dessa parasitose na região. Sugere-se como método de controle físico a retirada da vegetação aquática existente nas margens dos canais de irrigação e açudes onde os animais costumam beber a água. São justamente esses os locais mais prováveis para a ocorrência da infecção principalmente os talos da vegetação que durante o período chuvoso se encontram na lâmina d’ água, mas que deixam de ficar encobertos durante os períodos de estiagem.

Salienta-se que muitos proprietários não se atentam para as mudanças no volume de água que normalmente ocorrem nessas coleções hídricas ao longo do ano em função da variação nos índices pluviométricos. Por isso ao promover a limpeza da borda dos criadouros, o fazem somente nas partes que não se alagam onde as chances de encistamento das cercarias em metacercárias são mínimas.

Deve-se fazer a retirada da vegetação presente nas margens dos criadouros que no período de estiagem não se encontram mais submersas, pois é justamente nessa vegetação que ocorre o encistamento das cercarias e formação das metacercárias.

Outro método de controle é a drenagem do habitat dos moluscos acompanhada do uso de cercas para impedir o acesso dos animais às áreas contaminadas desde que estas permaneçam isoladas por um período superior a um ano, portanto suficiente para tornar as metacercárias inviáveis.

Também é indicado o fornecimento de água potável em bebedouros, já que nesse caso a retirada das plantas aquáticas e o monitoramento da população de moluscos é mais fácil. A introdução de aves aquáticas predadores naturais, como os palmípedes (patos e gansos), também pode ser considerada.

É importante realçar, que a necessidade do controle da população de moluscos, foi transmitida aos proprietários visitados, deixando claro que um tratamento e controle inadequado não só acarretam mais prejuízos à pecuária, como permitem a manutenção e disseminação de F. hepatica na região.

O fasciolicida utilizado deve ser altamente eficaz tanto contra as formas adultas, quanto contra as formas imaturas para diminuir as chances de

contaminação da pastagem e eliminar os danos causados pelas migrações das formas jovens no parênquima hepático. Este deve ser aplicado no verão que corresponde ao período mais chuvoso nesta região e portando de grande disponibilidade de metacercárias no pasto, também no outono (maio) para eliminar as infecções ocorridas após o primeiro tratamento, além do tratamento de primavera (setembro) quando ocorre o pico de densidade populacional de Lymnaea columella na região. Em suma, quando se fala em controle estratégico e integrado o ideal é que seja realizada a associação entre diferentes métodos de controle (químico, físico e biológico) considerando não só o hospedeiro vertebrado, mas também a existência no pasto do molusco hospedeiro intermediário. Se estes não forem eliminados o problema da fasciolose não poderá ser resolvido.

Estas recomendações são de ordem geral, no entanto, como em cada região existem propriedades com diferentes níveis de parasitismo e as condições climáticas podem ser completamente diferentes, cabe a educação continuada oferecida por instituições públicas e privadas o fornecimento de conhecimento técnico necessário aos profissionais do campo para que estes possam recomendar as medidas específicas e necessárias para o combate a Fasciola hepatica nas fazendas de acordo com a região ecológica afetada.

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