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A compensação ambiental no Brasil, regida pela Lei nº 9.985/2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, por se tratar de um instrumento que objetiva compatibilizar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental, tem suscitado discussões que abrangem tanto os conflitos de interesses econômicos, sociais e políticos, quanto a insegurança jurídica que permeia sua operacionalização.

Os parâmetros que atualmente estão sendo utilizados para cumprimento da legislação contrariam a decisão proferida pelo STF, que declarou ser inconstitucional a regra que determina que o valor da compensação não pode ser inferior a meio por cento (0,5%) dos custos totais do empreendimento, esclarecendo, ainda, que o valor da compensação deve ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o contraditório e a ampla defesa, não devendo haver fixação de percentual sobre os custos do empreendimento, não tendo que se pensar em percentual mínimo ou máximo.

Não obstante, o tema continua passível de definição finalística até que sejam julgados, pelo STF, os embargos de declaração interpostos tanto pela Presidência da República quanto pela CNI. Por conseguinte, ao optar por não definir a forma pela qual o empreendedor prestará apoio à implantação e manutenção de uma unidade de conservação, o legislador deixou aberta a possibilidade de este apoio ocorrer por meio da ação direta do empreendedor, ou por meio de terceiro contratado à sua escolha, ou da execução indireta, via aporte de recursos aos cofres públicos ou, ainda, outras formas de apoio. Com efeito, se dos termos do artigo 36 da Lei nº 9.985/2000 não se pode deduzir que esse apoio se dê sob a forma de aporte financeiro, tampouco é possível sustentar a vedação a esse apoio mediante repasse de recursos.

Frente a este contexto, a motivação da dissertação ocorreu pela oportunidade de se apresentar uma contribuição às discussões que envolvem o tema, sob a égide de sua eficácia e, portanto, o primeiro olhar, buscou identificar, analisar e discutir a operacionalização do instrumento em um empreendedor (no caso, o DNIT), tendo por estudo de caso os empreendimentos rodoviários sob gestão da autarquia e licenciados pelo órgão licenciador federal responsável (no caso, o IBAMA). Após, foi ampliado o escopo das análises, de forma que se pudesse identificar outros fatores intrínsecos à eficácia do instrumento no Brasil.

Foram identificados fatores que vêm impossibilitando que a compensação ambiental seja classificada como um instrumento eficaz, a saber:

a) Indefinições jurídicas, dificultando a execução do instrumento; b) Deficiência metodológica e processual;

c) Deficiência em Estudos de Impactos Ambientais; d) A questão distributiva;

e) As limitações provocadas pela fixação do teto para o grau de impacto.

Na formatação em que se encontra o instrumento, é percebido que o benefício gerado pela compensação pode oferecer um ganho ambiental, mas este não está necessariamente relacionado ao dano observado, contradizendo os conceitos de eficácia e identificando o instrumento como não econômico, apenas financeiro. Portanto, novos critérios para o cálculo do valor da compensação ambiental devem ser buscados, a fim de aprimorar a eficácia do instrumento.

Verifica-se, então, que a execução da compensação ambiental referente a empreendimentos rodoviários, sob responsabilidade do DNIT e licenciados na esfera federal, não vem ocorrendo de forma eficaz, situação ratificada quando se sai do espaço amostral específico da Autarquia e se avalia o instrumento de forma geral.

Não obstante e conforme pretendido preliminarmente, foram identificadas oportunidades de melhorias, abrangendo:

a) Revisão da metodologia de cálculo do grau de impacto, de forma que este

esteja desvinculado de percentual limite sobre o valor do empreendimento;

b) Busca de formas alternativas de compensação, como a compensação

ecológica, permitindo efetividade do viés econômico do instrumento, o qual hoje se comporta como instrumento financeiro;

c) Utilização de bancos de compensação ambiental, como ocorre nos Estados

Unidos e na Alemanha;

d) Aquisição de créditos de compensação ambiental, pelo empreendedor, de

proprietários que desejassem criar RPPN em áreas de vegetação nativa, implantadas ou a serem recuperadas em suas áreas rurais ou, alternativamente, o próprio empreendedor adquirir terras para este fim;

e) Reavaliação das formas de atuação dos governos, acerca do envolvimento

um governo tanto o papel de regulador quanto de executor da compensação, no lugar do empreendedor, como pode ocorrer no Brasil hoje.

Em consonância com o posicionamento de estudiosos do tema, a vertente ecológica da compensação, percebida em diversos países desenvolvidos, poderia também ser considerada no Brasil. Essa vertente tem por princípios: equivalência entre o habitat afetado e o tipo de compensação, proporcionalidade entre o dano e a compensação exigida, a qual deve ser, no mínimo, equivalente e se possível superior a este, preferência por medidas compensatórias que representem a reposição ou a substituição das funções ou componentes ambientais afetados e por medidas que possam ser implementadas em áreas contíguas à afetada, ou pelo menos, na mesma bacia hidrográfica.

No que concerne ao apoio às unidades de conservação, face à disponibilização de recursos financeiros oriundos dos processos de compensação ambiental, este vem ocorrendo de forma deficiente, haja vista que tais recursos têm sido a principal e mais importante fonte para implantação e manutenção de todo o sistema e, frente às ponderações relatadas no presente estudo e, considerando que a geração destes somente se efetiva mediante investimentos por parte das diferentes esferas de governo, é pertinente se buscar fontes complementares para que os objetivos da política se efetivem.

Assim, face ao potencial para novas discussões acerca do tema compensação ambiental, sugere-se que outros estudos possam ser desenvolvidos vislumbrando avaliar a eficiência do instrumento, mediante uma análise custo-benefício acerca de sua aplicabilidade nos moldes vigentes.

Em uma outra linha de pesquisa potencial, poderia se vislumbrar a definição de qual o papel a ser cumprido pelo governo na execução do instrumento, de regulador, estipulando normas, procedimentos e definindo o escopo das ações a serem realizadas pelo empreendedor, como ocorre nos EUA; apenas de validador, valorizando e incentivando as iniciativas voluntárias de compensação por parte dos empreendedores, num modelo que mais se aproxima do europeu, ou ainda, a proposta de um modelo híbrido, em que o governo editaria normas gerais, mas aplica mecanismos de valorização de iniciativas de compensação, por entender que, quando

acordadas com o empreendedor e/ou propostas por ele, tendem a ser mais custo- efetivas.