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Considerações finais

No documento BIENAIS 17 de Janeiro de :06 Page 1 (páginas 195-200)

A análise comparativa dos projetos políticos e culturais de uma das principais exposi- ções internacionais de arte contemporânea do pós-guerra e da “virada global” ocor- rida neste âmbito permite-nos algumas considerações à guisa de conclusão. Não se trata de um diagnóstico das questões contemporâneas tratadas pelas últimas edi- ções da mostra ou de projeções acerca dos desdobramentos futuros da globalização cultural, tampouco de respostas sobre as dúvidas surgidas com a crise de uma es- fera pública. Qualquer tentativa de obter respostas conclusivas acerca das transfor- mações ocorridas na esfera pública da arte nos últimos vinte anos seria certamente apressada e caminharia na contramão dos próprios processos atuais de produção de conhecimento na sociedade atual, que sugerem modos dialógicos e plurais de participação em uma plataforma discursiva global.

O ponto de partida para esta reflexão sobre a Bienal de São Paulo foi um relato196so- bre os seminários da 27ª edição da Bienal redigido para o site do Fórum Permanente em setembro de 2006, contendo algumas reflexões acerca da imbricação do esté- tico no político. O texto discutia as condições de possibilidade de uma arte crítica no contexto atual marcado pela superação da espetacularização das exposições de arte contemporânea e pela industrialização da produção de bens culturais, usando como referência teórica a palestra proferida, em 2005, por Jacques Rancière no simpósio “São Paulo S.A. Situação #3 Estética e Política”197e o livro A partilha do sensível,198 do mesmo autor. Revendo o projeto curatorial da 27ª Bienal de São Paulo de modo geral, e esses debates mais especificamente, com o distanciamento de quatro anos,

196 SPRICIGO, Vinicius, BENETTI, Liliane. “Relato dos Seminários da 27ª Bienal de São Paulo”. Disponível em: www.forumpermanente.org

197 RANCIÈRE, Jacques. A Política da Arte e seus Paradoxos Contemporâneos. In: São Paulo S.A. Situação #3

Estética e Política, SESC São Paulo, abril 2005. Disponível em: http://www.sescsp.net/sesc/conferencias/

198 RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34/EXO experimental, 2005.

 

parece-me que havia, no entanto, duas visões distintas em jogo: uma que remetia à crítica institucional e ao trabalho de artistas conceituais como Daniel Buren, Hans Ha- acke, Dan Graham, Marcel Broodthaers (artista que foi tema da abertura dos seminá- rios internacionais); e outra voltada para a produção contemporânea, cujo destaque era dado para uma arte política, de matriz sociológica e que visivelmente buscava o encontro com comunidades ditas marginalizadas. De certa maneira, o pano de fundo dessa discussão era a ideia de uma proposta de reconstrução de uma esfera pública que passava por uma reflexão sobre arquitetura e urbanismo (outro tema dos semi- nários da Bienal), e de projetos políticos que levassem em conta o reconhecimento do outro. No âmbito das artes visuais, esse reconhecimento estava ligado, por exem- plo, à inclusão de “modernismos” produzidos fora dos centros legitimadores da arte moderna ocidental. O cruzamento desses dois eixos de discussão, sobre as práticas estéticas contemporâneas e suas condições de possibilidade em um contexto peri- férico, nos levou ao questionamento das relações entre arte e política no âmbito das exposições internacioanais de arte contemporânea.

Por fim, resta-nos questionar o modo como o Brasil e a América Latina de modo geral estão situados no mapa da arte global. Seria a emergência recente de uma arte política no Brasil uma manifestação epigonal dos processos ocorridos nos centros hegemônicos da arte mundial ou uma recuperação genuína de uma fortuna crítica existente na América Latina?

Essa questão diz respeito à inclusão de outras histórias na genealogia da arte dita Ocidental, mas talvez ela revele, antes de mais nada, as marcas profundas deixadas pelo colonialismo no pensamento existente fora dos centros.

 

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