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PARTE 2 – A BURGUESIA DIANTE DO REGIME DE PARTILHA

4.9 Considerações finais

A partir da observação da atuação dos partidos políticos no plenário da Câmara dos Deputados constatou-se a confirmação das hipóteses derivadas da literatura mobilizada para a constituição do referencial teórico acerca da conjuntura do segundo Governo Lula. Os dois blocos partidários que dinamizaram e polarizaram a disputa programática sobre o regime de exploração petrolífera foram aqueles encabeçados pelo Partido dos Trabalhadores, defendendo o regime de partilha por um lado; e, por outro lado, pela aliança parlamentar composta por PSDB e DEM, defendendo o regime de concessões.

Tais defesas , bem como os argumentos mobilizados, estão em consonância com as disposições antecipadas pela literatura, de que a aliança DEM-PSDB defenderia um programa econômico neoliberal, representando, com isso, os interesses da burguesia associada; e de que

DEM 20% PCDOB 0% PDT 2% PHS 0% PMDB 3% PP 0% PPS 2% PR 2% PSB 2% PSC 2% PSDB 10% PSOL 38% PT 7% PTB 8% PTC 3% PV 3%

OUTROS

o Partido dos Trabalhadores defenderia um programa neodesenvolvimentista, representando, assim, a burguesia interna. Dessa maneira, os três partidos demonstraram um grau destacado de coesão interna e de pertinência nos principais desfechos programáticos, constituindo-se como direção política e ideológica responsável por polarizar o processo parlamentar. Essa atuação destacada justifica-se pela vinculação orgânica que tais partidos mantêm com as frações determinadas das classes com presença no bloco no poder, representando no parlamento os seus interesses.

Cabe ainda destacar que os argumentos mobilizados por tais partidos se voltaram também para as classes excluídas do bloco no poder e que, no entanto, lhes servem de apoio. Tal constatação se evidencia pela mobilização da ideologia da corrupção feita pelos parlamentares da Oposição, atendendo aos anseios típicos da classe-media; e, por parte do Governo, pela promessa de expansão dos investimentos em programas sociais e serviços públicos, os quais são, tipicamente, voltados à classe trabalhadora, aos trabalhadores da massa marginal e outros setores populares.

Outros dois partidos cuja postura parece indicar uma vinculação com forças sociais organizadas relevantes são o PDT e o PSOL. Aquele parece compor uma força auxiliar do PT na representação dos interesses da burguesia interna, ocupando essa posição de menor destaque devido ao seu peso parlamentar reduzido. O PSOL, por seu turno, parece representar os interesses de forças sociais organizadas que estão excluídas do bloco no poder. No caso da discussão do petróleo, sobretudo os setores organizados em torno do sindicato dos petroleiros, dos engenheiros da Petrobrás, outros setores do sindicalismo público e também os estudantes universitários organizados, os quais, na época, defenderam nas ruas, tal como o PSOL no parlamento, um retorno ao regime do monopólio da União exercido pela Petrobrás 100% estatizada.

Os demais partidos, grandes ou pequenos, parecem ter uma atuação típica dos partidos de patronagem, em que a coesão programática é baixa e a intensidade pragmática é alta. Tais partidos manifestaram a postura de patronagem de modo ativo ou passivo. O Partido Progressista foi um dos que se caracterizaram pela passividade diante do processo, com 41 parlamentares foi responsável por apenas 9 intervenções, uma proporção muito baixa. Isso se deve, talvez, pela sua história vinculada à direita política e sua presença na base de apoio do Governo, portanto, o silencio lhe foi conveniente, pois, era de interesse do Governo que o trâmite corresse rapidamente, ao passo que era de interesse do PP e dos seus parlamentares

mais conservadores não fazerem a defesa pública das propostas de um Governo publicamente entendido como de esquerda.

De modo ativo, a postura da patronagem tem seus melhores exemplos no PPS e no PMDB, que, ou não se manifestavam qualificando a matéria, ou reuniam no interior de suas fileiras uma pluralidade contraditória de posições. A intenção, aparentemente, era a de conquistar posições privilegiadas de barganha política junto à Oposição ou junto ao Governo. O PPS, da base aliada do Governo, comprou as dores da Oposição desde dentro do Governo com setores do PMDB que, abrigando todo tipo de perspectiva, jogou para os dois lados cedendo, por fim, as principais pressões da Oposição que, sabidamente, seriam vetadas pelo executivo.

A conclusão principal a que se chega, portanto, é de que na questão petrolífera o padrão de polarização partidária se reproduz tal como o antecipado pela literatura mobilizada. No capítulo seguinte será verificada a postura dos setores empresariais que constituem a burguesia interna, observando-se, dessa maneira, se para a questão do regime de exploração do petróleo, tais setores endossam ou não a posição da sua representação na cena política.

5 A BURGUESIA INTERNA DIANTE DO REGIME DE PARTILHA

“Os homens mudam de boa vontade de senhor, crendo com isto melhorar, e esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual, no que se enganam, porque depois por experiência compreendem que pioraram. E isso deriva de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual faz com que necessitemos sempre oprimir aqueles de quem acabamos de nos tornar príncipes.”

Nicolau Maquiavel, O Príncipe.

No presente capítulo apresentar-se-á uma descrição da pesquisa empírica feita sobre a percepção de alguns dos principais setores da grande burguesia interna acerca do pré-sal e do regime de partilha. Sendo o objetivo principal o de observar o posicionamento dos principais setores da burguesia interna, constitui o material empírico da amostra os materiais coletados – notícias, entrevistas e notas – nas páginas virtuais das principais associações empresariais representativas da referida fração burguesa, que são: a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, FIESP; a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, FIRJAN; a Confederação Nacional da Indústria, CNI; a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ABIMAQ; e o Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore, SINAVAL.

O procedimento de coleta dos materiais desenvolveu-se por meio de procura nas páginas das referidas associações com a aplicação de palavras-chave como petróleo, pré-sal e partilha nos mecanismos de busca. Ao contrário da pesquisa feita junto à representação política, em que o contexto de produção dos documentos era fechado, possibilitando assim a delimitação precisa de um universo, as posições do empresariado encontram-se de modo disperso e assistemático, sem uma plataforma única que reúna as intervenções de modo organizado. Dessa maneira, devido à escassez e a falta de sistematicidade dos materiais, optou-se pela flexibilização dos termos de busca no que tange às datas. O mesmo critério sobre a delimitação das datas foi utilizado em relação ao conteúdo dos documentos que, se não versavam centralmente sobre o regime de partilha, foram incorporados à pesquisa por trazer, a partir de um posicionamento geral sobre energia ou petróleo, uma perspectiva que pode elucidar posições sobre a legislação que instituiu o regime de partilha.

Considerando então a escassez e o caráter não sistemático do material empírico, a análise e a exposição de tal material não poderá, simplesmente, reproduzir os processos de caráter quantitativo e de comparação padronizada aplicada ao capítulo terceiro. Neste capítulo, portanto, o procedimento de exposição será fundamentalmente qualitativo e descritivo. Dessa maneira, o capítulo será subdividido em seções, sendo cada uma delas reservada a cada uma das associações, as quais contam com uma gama diversificada de materiais, seja no que se refere ao seu tipo ou a sua quantidade.