• Nenhum resultado encontrado

Cidades sustent á veis

Capítulo 2. Cidades sustentáveis e as fronteiras do respeito

6. Considerações finais

“O povo sabe o que quer Mas o povo também quer o que não sabe”

fornecerem um terreno mais sólido que àquele com que nos deparamos quando nos inserimos no debate disto que se anuncia e se pretende como sustentabilidade urbana. Apesar de termos nos referido a modelos de cidades sustentáveis, terminamos por situar a limitação de qualquer pretensão de nível local a um devir sustentável. As narrativas históricas que trouxemos à mesa demonstram: as fronteiras de suporte dos sistemas socioambientais, os limites da racionalidade instrumental e os riscos engendrados na produção do bem-estar são os frutos podres de um percurso virtuoso de ascensão civilizatória, algo com que não se esperava lidar. Por esse motivo é que insistimos no tratamento ético do assunto, pois entendemos que a fragilidade dos discursos proferidos em âmbito internacional em defesa de sociedades mais justas e equânimes poderia e pode ser assumida para políticas ambientais globais, que lidem com a ameaça de ruptura catastrófica de sistemas de suporte à vida com a mesma letargia com que tem sido tocadas as políticas sociais.

Teremos tido êxito se conseguimos aqui demostrar que sustentabilidade, independente da abordagem, é sempre referência a uma fronteira planetária (o planeta é o limite último, até então, consensual) e que, portanto, manejos e acordos interregionais são possíveis nos equacionamentos que se faça, mas que, sobre todo arranjo possível, paira uma sombra de incerteza. Da incerteza decorre a postura preventiva e é justamente nesse ponto que, após criticarmos as limitações da ação local e regional, retornamos a ela. As fronteiras planetárias traduzem-se, nesses níveis, em respeito aos serviços ambientais de suporte à vida. Ainda que as trocas econômicas e as supersaturações tecnológicas (estado inspirado pela química de soluções, de sobreaproveitamento de um sistema vivo de suporte anteriormente à ruptura) permitam o gozo do desacoplamento das sociedades de suas bases materiais, não parece seguro nem às economias nem às comunidades dependerem e confiarem seus futuros nesta disposição contingente de afluxos que lhes são essenciais.

Por fim, teremos cumprido mais que o planejado se a abertura da perspectiva histórica empreendida puder provocar a reação do leitor quanto a esta derradeira sugestão: os mercadores fundaram a cidade mercantil ao situarem a centralidade das funções de mercado; os capitalistas sobrepujaram os mercados e o agrário seduzindo- os às determinações das funções de produção; que cenário de forças, quais sujeitos e que novas funções se anunciam no horizonte do século 21 para além da massa de consumidores e de seus estados de satisfação e insatisfação?

Referências

BENÉVOLO, L. História da cidade. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.

BOULDING, K. E. The economics of the coming spaceship earth. Environmental quality in a growing economy, p. 3–14, 1966.

BREHENY, M. Urban compaction: feasible and acceptable? Cities, v. 2751, n. 4, p. 209–217, 1997. CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 2011. DOBSON, A. P. Justice and the Environment ’ Conceptions of Environmental Sustainability and Dimensions of Social Justice ‘Annals of PhysicsOxford University Press Oxford, 1998. Disponível em: <http://www.mendeley.com/research/no-title-avail/\nhttp://scholar.google.com/ scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Justice+and+the+Environment#0>

ECPT. New charter of Athens 1998: European Council of Town Planners’ principles for planning cities. Atenas: 1998.

FUKS, M. Reflexões sobre o paradigma da economia ecológica para a gestão ambiental. Estudos Avançados, v. 26, n. 74, p. 105–120, 2012.

GEHL, J. Cidades para pessoas. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

GORSKI, M. C. B. Rios e cidades: ruptura e reconciliação. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.

HAUGHTON, G. Developing sustainable urban development models. Cities, v. 14, n. 4, p. 189–195, ago. 1997.

HOPWOOD, B.; MELLOR, M.; O’BRIEN, G. Sustainable development: mapping different approaches. Sustainable Development, v. 13, n. 1, p. 38–52, fev. 2005.

JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. KANASHIRO, M. Da antiga à nova Carta de Atenas − em busca de um paradigma espacial de sustentabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 9, p. 33–37, 2004.

LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

LEITE, C.; AWAD, J. DI C. M. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.

LENCIONE, S. Observações sobre o conceito de cidade e urbano. GEOUSP: espaço e tempo, n. 24, p. 109–123, 2008.

LENZI, C. L. Sociologia ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, SP: Edusc, 2006. MARCONDES, M. J. DE A. Imagens e representações da cidade: A Nova Carta de Atenas e suas ressonâncias no urbanismo brasileiroAnais do XVII Encontro Regional de História - O lugar da história. Anais...Campinas: ANPUH/SP-UNICAMP, 2004.

MAYUMI, K.; GIAMPIETRO, M.; GOWDY, J. M. Georgescu-Roegen/Daly versus Solow/Stiglitz Revisited. Ecological Economics, v. 27, n. 2, p. 115–117, nov. 1998.

MEADOWS, D. H. et al. Limites do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1978.

NASCIMENTO, E. P. DO. Sustentabilidade: o campo de disputa de nosso futuro civilizacional. In: LÉNA, P.; NASCIMENTO, E. P. DO (ORGS. ). (Eds.). Enfrentando os limites do crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.

O’RIORDAN, T. The Challenge for Environmentalism. In: PEET, R.; THRIFT, N. (Eds.). The New Models in Geography. [s.l: s.n.]. p. 77–101.

POLANYI, K. A grande transformação: as origens da nossa época. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

ROCKSTRÖM, J. et al. Planetary boundaries: exploring the safe operating space for humanity. Ecology and Society, v. 14, n. 2, 2009.

SACHS, I. Desenvolvimento sustentável: desafio do século XXI. Ambiente & Sociedade, v. 7, p. 214– 216, 2004.

SANTOS, M. Ensaios sobre a Urbanização Latino-americana. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.

SCHEFFER, M.; WALKERK, B. Catastrophic shifts in ecosystems. v. 413, n. October, 2001.

SEN, A.; KLIKSBERG, B. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

UNEP. City-Level Decoupling: Urban resource flows and the governance of infrastructure transitions. [s.l: s.n.].

Urban policy and economic development: an agenda for the 1990s. [s.l.] The World Bank, 1991. p. 96 VASCONCELLOS, M. J. E. DE. Pensamento sistêmico: O novo paradigma da ciência. Campinas, SP: Papirus, 2002.

VEIGA, J. E. DA. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.