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Como visto, a finalidade precípua dos tratados internacionais celebrados de acordo com o Modelo OCDE, e interpretados à luz da regras da Convenção de Viena, é evitar a dupla tributação da renda e do capital, através de mecanismos acordados entre as partes.

O acordo representa, assim, a aceitação dos Estados em abdicar de parte de seu poder de tributar, em prol da harmonização da legislação tributária a nível internacional.

Nesse ponto, viu-se que, apesar de o Brasil não ser parte integrante da OCDE, segue o seu Modelo de Convenção para elaboração de tratados, declarando expressamente as suas posições em seção própria destinada aos países não membros.

Embora se entenda que resumir a questão posta no presente estudo à mera necessidade de cumprimento das regras dos tratados é de certa forma simplificar a discussão, visto que o conflito entre a tributação no Estado da Fonte e no Estado da Residência envolve questões que ultrapassam os argumentos jurídicos, é necessário reconhecer que, uma vez aceitos e deliberados os termos de um tratado, com base no Modelo OCDE, não pode uma das partes empreender manobras legislativas posteriores que afetem o seu fiel cumprimento.

E é esse exatamente o caso das Cide-royalties, que foram instituídas pelo Brasil com o claro intuito de fazer frente à perda arrecadatória do imposto de renda, por ocasião dos tratados contra a bitributação firmados pelo país.

Assim, após uma breve exposição acerca dos métodos que devem orientar a interpretação dos tratados, incluindo o que se pode entender como contexto, bem como da redação do art. 2º da Convenção-Modelo da OCDE e da história e natureza das Cide-royalties, é possível concluir que:

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1) Não há um método interpretativo apriorístico para interpretação dos tratados internacionais contra a bitributação, devendo esta atividade constituir um fruto da conjugação de vários métodos;

2) O contexto que serve de vetor interpretativo dos tratados possui uma ampla acepção, abarcando, além do texto e dos instrumentos do próprio acordo, a intenção das partes e, no caso, o próprio contexto jurídico interno brasileiro que culminou com a instituição da Cide-royalties e que auxilia na correta delimitação de sua natureza;

3) A natureza da Cide-royalties guarda substancial similaridade com a natureza do imposto de renda, visto que ambos possuem o mesmo fato gerador, base de cálculo e sujeito passivo, atraindo, assim, a incidência do parágrafo 4º do art. 2º da Convenção-Modelo da OCDE, respeitada, nesse ponto, a data da assinatura dos tratados celebrados pelo Brasil;

4) Por fim, a boa-fé no cumprimento dos tratados coíbe as práticas legislativas abusivas por parte de um Estado contratante, que impõem obrigações não acordadas a outro Estado, corroborando a necessidade de reconhecimento da aplicação dos tratados celebrados pelo Brasil antes de 29.12.2000 às Cide-royalties. 6 REFERÊNCIAS

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