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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Cleber Vanderlei Rohrer.pdf (páginas 101-108)

“Abelardo Barbosa está com tudo e não está prosa.”

Essa pesquisa mostrou a trajetória de Chacrinha na televisão. O apresentador iniciou sua carreira artística no rádio, ainda na década de 1940, na qual com sua irreverência e sua maneira nada habitual de apresentar, conseguiu chamar a atenção do público em um momento que havia uma mesmice na programação do rádio brasileiro.

Influenciado pelo circo, pelas festas populares nordestinas, pelos pastoris, pelos carnavais cariocas das décadas de 1930 e 1940, Chacrinha se mostra atento ao que o público queria e conquistou seu lugar no rádio, o veículo de comunicação mais importante do período.

A televisão é inaugurada no Brasil em 1950 e Chacrinha estréia nela em 1957. O apresentador erra ao tentar fazer rádio na televisão, e aos poucos vai se aprimorando, entendendo as particularidades do novo meio, e então quebra novamente os padrões: apresenta-se fantasiado, grita, agita o público a todo momento, buzina os calouros sem pudor, faz brincadeiras taxadas de pornográficas,politicamente incorretas e apelativas mas que se tornam uma marca registrada do apresentador.

Chacrinha foi uma das figuras mais polêmicas e marcantes da cultura de massa brasileira. Com sua irreverência, criatividade e seu senso de observação dos meios de comunicação, conseguiu entender como poucos, o que era fazer um programa de televisão.

Pode-se afirmar que Chacrinha foi um inovador na linguagem televisual pela utilização de elementos como as fantasias, as cores em toda sua produção mesmo quando a televisão ainda era transmitida em preto e branco, o pioneirismo da ocupação de todos os espaços na tela e a agilidade das câmeras durante os seus programas.

Seria leviano afirmar que hoje ele teria o mesmo destaque na grade das emissoras, uma vez que todo o panorama mudou, está mais segmentado, existe uma maior abertura para a criatividade, e em certos momentos um apelo para alguns elementos. No entanto quando se procuram alternativas para a mesmice dos programas de auditórios, Chacrinha é sempre citado como um elemento diferenciador de todo o cenário.

Chacrinha rompe com a maneira tradicional de apresentar programas de auditório e de fazer televisão. Com ele podemos constatar uma desconstrução dessa linguagem televisual. A pesquisa se fundamentou em teóricos como Muniz Sodré, que na década de 1970, fortemente influenciado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, fez duras críticas a televisão brasileira, mas também em Arlindo Machado e Décio Pignatari que, ao analisarem a televisão apresentam um panorama diferenciado, e destacam diversas produções televisuais, entre elas os programas do Chacrinha. Outros teóricos como Bahktin e Umberto Eco foram discutidos para se evidenciar as influências da cultura popular que foram as bases para Chacrinha.

Ao longo desse trabalho, refletiu-se também sobre a falta de cuidado com que as grandes emissoras da televisão brasileira tiveram coma a produção desde os seus programas pioneiros até a sua história mais recente. Embora tenha ficado três décadas no ar e trabalhado nas mais importantes emissoras de televisão brasileira, há pouquíssimo material de seus programas nos acervos. Outro ponto destacado é a importância do apresentador para o Tropicalismo, em que Chacrinha é apontado como um tropicalista antes do nascimento do movimento artístico.

Novamente, é possível afirmar que o diferencial de Chacrinha era saber utilizar como ninguém a televisão como veículo de comunicação de massa, como um veículo único, por entender que o que ele fazia não era circo, não era carnaval, não era rádio: era circo, carnaval e rádio na televisão. Este é o grande ponto que o qualifica ainda hoje como um dos maiores comunicadores do Brasil.

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