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Infecções pelo vírus herpes simplex continuam a ser das infecções mais comuns no homem. Em recém- nascidos e indivíduos imunocomprometidos (doentes com SIDA, transplantados, ou com patologias hematológicas malignas) são geralmente graves e podem ser fatais.

Até ao momento não existe vacina preventiva eficaz contra a infecção pelo HSV ou tratamentos que curem esta patologia definitivamente. O seu grande obstáculo é o estado de latência que sucede à infecção, por isso é de grande importância a máxima supressão vírica.

Embora haja no mercado agentes anti-herpéticos, a supressão da replicação viral ainda é incompleta e não sustentada, pois está a verificar-se o insucesso terapêutico, essencialmente devido ao aparecimento de resistências ao aciclovir, o medicamento mais utilizado pela sua baixa toxicidade e grande eficácia, o que obriga à procura de novas estratégias farmacológicas.

Pela revisão da literatura efetuada verifica-se grande interesse no estudo de potenciais efeitos antivirais de extratos de plantas, como alternativa atual, e muitos estudos têm vindo a ser realizados.

Os produtos naturais continuam a ser as maiores fontes de agentes terapêuticos inovadores em variadas situações, nomeadamente contra doenças infecciosas (Astani et al., 2011). O conhecimento do uso tradicional de plantas com propriedades medicinais tem sido explorado numa perspetiva de seleção de alternativas terapêuticas para o tratamento de patologias em que as estratégias convencionais se revelam ineficazes, nomeadamente no caso da infeção pelo herpes simplex (Palmeira de Oliveira et al., 2011).

Plantas das Famílias Asteraceae e Lameaceae são desde há milhares de anos usadas como chás na medicina popular mas são raros os estudos em extratos aquosos destas plantas.

Os extratos aquosos das espécies H. italicum e S. virgaurea estudados neste trabalho revelaram reduzida citotoxicidade na linha celular Vero e altos níveis de atividade antiviral (em concentrações não tóxicas para as células Vero) contra o HSV-1 e o HSV-2, sendo superiores para este último.

Reduziram a infecciosidade dos vírus quando foram incubados com suspensões virais (103 pfu) durante 1h à TA (efeito virucida): o HSV-1 foi inibido em cerca de 81% pelos extratos das flores de H. italicum (a 0,3 mg/mL) e em cerca de 94% pelos das folhas/caules de H. italicum (a 0,24 mg/mL) e de S. virgaurea (a 0,2 mg/mL). O HSV-2 foi inibido cerca de 99,9% pelos extratos das flores de H. italicum (a 0,2 mg/mL) e cerca de 99% pelos das folhas/caules de H. italicum (a 0,24 mg/mL) e de S. virgaurea (a 0,2 mg/mL).

Na análise electroforética das proteínas virais, após incubação dos extratos na sua CMNC com suspensões virais (~106 pfu de HSV-1 e de HSV-2 durante 1 hora, à TA), observamos diferenças nos perfis polipeptídicos comparando com suspensões virais equivalentes mas não tratadas com os extratos, o que deverá estar relacionado com a diminuição da infecciosidade atrás referida, sugerindo efeito virucida por degradação de proteínas estruturais.

O estudo do efeito destes extratos no ciclo replicativo dos vírus também permitiu verificar que a produção de novas partículas virais infecciosas era afetada no geral, quando se adicionaram às células infectadas, os extratos aquosos, na CMNC, no período de adsorção viral e no período compreendido entre as 4 e as 18 horas p.i..

As inibições do HSV-1 no período de adsorção foram de 80% pelas flores de H. italicum, 75% pelas folhas/caules de H. italicum e 99% pelas folhas/caules de S. virgaurea. No período entre as 4 e as 18 horas p.i.

foram de 97% pelas flores de H. italicum, 99% pelas folhas de H. italicum e 71% pelas folhas/caules de S.

virgaurea.

As inibições do HSV-2 no período de adsorção foram de 59% pelas flores de H. italicum, 96% pelas folhas de H. italicum e 97% pelas folhas/caules de S. virgaurea. No período 4 a 18 horas p.i. foram de 89% pelas flores de H. italicum, 99% pelas folhas de H. italicum e 86% pelas folhas/caules de S. virgaurea.

Este estudo também permitiu caraterizar a ação anti-herpética do composto de síntese química (apesar de ser utilizado como referencia - controlo positivo), de igual modo e nas mesmas condições dos extratos. No geral apresentou inibições da infecciosidade dos dois vírus superiores aos extratos, resultados esperados tendo em conta que se trata de um composto puro, mas não tão superiores que evidencie uma atividade anti-herpética muito destacada, pois foi estudado nas mesmas concentrações dos extratos.

Os extratos não demonstraram no geral, efeito na produção de novas partículas virais infecciosas quando foram adicionados às células Vero antes da infeção, durante 24 horas ou 2 horas antes da adsorção viral (pré- tratamento das células). Também não revelaram, no geral, efeitos significativos quando expostos às células Vero nos períodos 0 a 1 hora p.i. e 1 a 4 horas p.i., exceto o extrato de S. virgaurea que inibiu em 85% a produção do HSV-1, no período 0 a 1 hora p.i.. O estudo das proteínas no ciclo replicativo revelou um perfil de polipeptídeos semelhante em células infectadas tratadas e em células infectadas não tratadas, para todos os tempos estudados. Mas há que ter em conta que a metodologia usada não foi a mais adequada, revelando baixa sensibilidade na distinção de polipeptídeos virais.

Os resultados obtidos no presente estudo, demonstram claramente o efeito destes extratos afetando o HSV-1 e HSV-2. A combinação da atividade no ciclo replicativo com a atividade virucida, aliadas às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes destes extratos, sugerem grande interesse na continuação dos estudos como possíveis promissores agentes anti-herpéticos, no entanto é necessário trabalho experimental mais aprofundado, algum já referido na discussão desta dissertação. Os fármacos atuais fazem a prevenção da multiplicação do vírus mas não o destroem. É importante que o vírus seja destruído no seu local de infeção e os extratos estudados revelaram um efeito virucida significativo, efeito este, importante na prevenção da ocorrência da latência e na prevenção da transmissão, por isso estes extratos poderão agir como complemento aos antivíricos conhecidos.

Estes estudos foram realizados em células Vero, pelo que é necessário em estudos futuros, o estudo da citotoxicidade e da atividade anti-herpética em diferentes linhas celulares, nomeadamente de origem humana., como por exemplo queratinócitos, que são um bom modelo para o estudo da interação do vírus com a célula hospedeira com agentes antivirais, pois as lesões observadas em culturas celulares por HSV são similares às observadas na patologia humana (Andrei et al., 2005). Seria também interessante o estudo destes extratos em estirpes resistentes aos atuais fármacos.

Até que a ciência descubra uma maneira segura de curar, eliminar o vírus por completo do organismo, há que controlar as infecções por Herpesvírus, diminuindo e evitando a sua replicação no organismo e a sua transmissão. Apesar de todas as limitações deste trabalho, esperamos contribuir para os esforços desenvolvidos em todo o mundo, na procura de tratamentos e curas eficazes tanto para as doenças provocadas por estes vírus como para a própria doença viral em geral.

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