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O fenômeno do envelhecimento tem se modificado com o passar dos anos. A perspectiva de como este é tomado socialmente altera-se tanto para aquele que envelhece como para aquele que vê a velhice no outro.

Envelhecer já foi signo de importância pois, somente aquele que era velho possuía sabedoria e poderia interferir em assuntos familiares, podendo também ter grande influência para assumir papeis importantes em sociedade. Mesmo com todos esses privilégios por envelhecer, esse sujeito não era visto como alguém agradável por seu declínio corporal, passando assim a ser rejeitado muitas vezes por questões orgânicas. Os poetas antigos, em geral, falavam da velhice como uma fase da vida horrível de ser vivida pois, a imagem que é vista desse sujeito causa espanto para aquele que a vê.

Nos dias atuais, percebemos que algumas coisas não modificaram-se, mas, o idoso tem assumido novos papéis sociais. Este, tem sido descartado pela sociedade como se não proporcionasse mais nada para o meio em que vive. E o fato maior é que ele nem é visto mais como aquele que passa valores e tradições de geração para geração pois, hoje em dia, dá-se somente valor para aquele que é jovem, aquele que possui boa aparência.

Os asilos e casas de repouso, tem proporcionado uma reintegração do sujeito em seu convívio social, podendo assim, incluí-lo, já que ele é visto como alguém estranho e recusado até mesmo por seus familiares. Debert (1999, p. 119) nos relata que o asilo não pode ser entendido como representação do fim de uma carreira, mas antes sua continuação em um novo espaço social.

O sujeito nessa fase da vida já é visto como aquele que não possui desejos e como aquele que não almeja mais nada. A partir da criação desses asilos, cabe-nos pensar que fica a possibilidade do idoso encontrar formas de exercício de seu desejo já que está em aberto o lugar social que ele ocupa e que delimita muitas vezes o que esse sujeito pode desejar ou fazer.

Algumas questões referentes ao envelhecimento ficam para nós, entre elas destaca-se do desejo desse sujeito. Observa-se que o idoso possuí ainda muitos desejos e que nunca parou de desejar. Obviamente ele já não deseja da mesma forma que em outras fases de sua vida e também, já não deseja os mesmos objetos e pessoas que antigamente. O sujeito vai modificando-se com o passar dos anos e

adquirindo novas experiências, com elas vão surgindo novas pessoas e novos interesses para a vida deste que deseja.

Outra questão que fica e que Mannoni nos relata é a de que se o sujeito envelhece ou não. Como podemos perceber, o ser humano passa por um grande ciclo vital e que é irreversível, envelhecendo seu corpo e também possivelmente prejudicando tudo o que é da ordem cognitiva e motora do sujeito.

Porém, o sujeito do desejo, da alma, não envelhecerá. Não importa a idade cronológica do sujeito mas, sim, algo que não precisa de tempo para desejar, sentir ou envelhecer. Isso vem de cada sujeito. Há jovens que se sentem velhos como há velhos que se sentem jovens. O desejo de sentir-se vivo e de poder fazer tudo o que é de sua vontade não se dá somente para aquele que possui saúde física e idade limitada mas sim, para qualquer pessoa, sendo este também, um idoso.

A sociedade atual rotula muito quem está envelhecendo e o coloca limites, excluindo-o e vendo-o como o “estranho” que vaga pela cidade sem serventia nenhuma. Mesmo criando os asilos para recreação e inclusão de idosos, pensa-se que esse desejo não está partindo de quem envelhece mas sim, da sociedade que o demarca.

Penso que o trabalho com idosos é de extrema importância pois, nos dias atuais, as pessoas costumam dar atenção apenas para aquilo que é da ordem do novo, do jovem. Envelhecer faz parte do processo da vida humana, entretanto, não é muito bem aceito por aqueles que o vê e também pode ser negado por aquele que está envelhecendo.

Há várias questões que devem ser trabalhadas com esses sujeitos, reestruturando e relembrando o papel que eles ocupam em sociedade, deixando-o livre para a constituição de seus desejos. É importante a construção das instituições para idosos pois, eles poderão ter acesso a uma rede de apoio e também continuar participando de sua vida familiar, dando a oportunidade para aqueles que ainda querem conviver com esse que envelhece.

A psicologia tem um papel muito significativo quando fala-se em envelhecer e é nela que o sujeito encontrará um espaço para a fala. Nas instituições asilares é possível oferecer esse suporte psicológico para o idoso, onde ele poderá falar de suas questões, medos, inseguranças e alegrias sem censura. Escutar o idoso é de extrema importância, podendo assim, proporcionar uma melhoria em sua saúde mental e qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, C.F.A. CRUZ, R.A. A Qualidade de Vida dos Idosos

Institucionalizados. Publicado na Edição de Maio de 2012. Categoria: Desenvolvimento Humano. Artigo publicado no site Psicologado. Disponível em: <https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/a-qualidade-de- vida-dos-idosos-institucionalizados>. Acesso em: 20/10/2015.

BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

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<http://www.planalto.gov.br/cCivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm>. Acesso em:

10/10/2015.

CARDOZO, J.P. As atuações do psicólogo em instituições de longa permanência para idosos. Universidade do Vale do Itajaí; Centro de Ciências da Saúde; Curso de Psicologia. Itajaí (SC), 2009. 71 p. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Jessica%20Pereira%20Cardozo.pdf>. Acesso em: 15/10/2015.

DEBERT, G.G. A reinvenção da velhice: Socialização e processos de re- privatização do envelhecimento. 1ª ed. São Paulo: USP, 1999.

GRAEFF, L. Instituições totais e a questão asilar: uma abordagem compreensiva. In: Estud. Interdiscip. Envelhec. Porto Alegre, v.11, p. 9-27. 2007.

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