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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS

7.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, efetivou-se o desenvolvimento e a aplicação de microcápsulas e carreadores lipídicos micro e nanoestruturados (CLN e CLM) olfativos, contendo óleo essencial de Lavandula angustifolia, em suporte de madeira (madeira-balsa) para análise e conhecimento da interface meio-objeto-usuário, elucidando os fatores físicos e perceptivos, com foco no “bem-estar” do usuário através da percepção olfativa e da liberação controlada do aroma e dos componentes ativos.

Este estudo mostrou primeiramente os resultados alcançados quanto ao desenvolvimento e à aplicação de microcápsulas. Estes resultados revelam aspectos de caracterização das microcápsulas satisfatórios quanto às questões morfológicas e dimensionais. Para a aplicação das microcápsulas, foram definidos critérios de dimensionamento adequado, conforme sulcos do suporte (madeira-balsa) e aparência morfológica das microcápsulas. Utilizou-se a madeira-balsa como suporte, com sulcos de aproximadamente 3 a 4 micrometros (µm), e microcápsulas poliméricas cuja variação de tamanho foi de 1.8 micrometros (µm) a 2.3 micrometros (µm). As microcápsulas cerâmicas tiveram uma variação de 1 µm a 8 µm. Os testes elaborados apresentaram melhores resultados quando ocorreu a utilização do surfactante Tween 80 para as microcápsulas cerâmicas e poliméricas. Também é importante salientar que a escolha deste tensoativo (Tween 80) se deve por esse ser não iônico e amplamente usado.

Quanto à aparência do suporte (madeira-balsa), após a imersão, verificou-se que as microcápsulas permaneceram de forma residual (pó) na superfície. Vale ressaltar que as microcápsulas poliméricas e cerâmicas, quando soltas na superfície, podem ser inspiradas, podendo causar danos à saúde devido aos constituintes como a sílica (TEOS - Tetraetil ortosilicato), melamina e formaldeído.

Por esses motivos aventados anteriormente, definiu-se dar sequência no trabalho, em busca de uma solução mais efetiva quanto aos quesitos de aparência e também quanto ao “bem-estar” do usuário na interface com o produto. A solução

encontrada estabeleceu-se no desenvolvimento de carreadores lipídicos micro e nanoestruturados (CLM e CLN), estabelecendo-se assim a interação entre pesquisadores das duas áreas (Design e Farmácia).

Este estudo mostrou que a elaboração de carreadores lipídicos nano e microestruturados para a aplicação de produtos elaborados em madeira torna-se um diferencial no que tange ao design com interface na área da farmácia. Os resultados alcançados no presente trabalho superaram as expectativas iniciais e revelaram aspectos de caracterização das microcápsulas e carreadores lipídicos micro (CLM) e nanoestruturados (CLN) satisfatórios quanto às questões morfológicas, dimensionais e volatização dos princípios ativos.

Em relação à aparência do suporte (madeira-balsa), após a imersão, verificou-se que os carreadores lipídicos alcançaram um resultado interessante, uma vez que o lipídio orgânico utilizado foi a cera de abelha, resultando em uma aparência lustrosa do suporte (madeira). Além disso, os carreadores não permaneceram de forma residual na superfície como, por exemplo, o “pó” que se apresenta nas microcápsulas.

Diante da revisão bibliográfica referenciada, a literatura não delineia relatos de estudos anteriores sobre esse sistema desenvolvido quando se trata de design de produtos. Pode-se verificar a presença de inúmeros estudos na área da Farmácia quando falamos de micro e nanocápsulas ou carreadores lipídicos nano e microestruturados que contenham, no seu núcleo, óleo essencial ou qualquer outro medicamento, que preze pelo bem-estar humano. Porém, a aplicação destas em suportes como a madeira é inédito. Além disso, a interação entre pesquisadores destas duas áreas, para desenvolvimento de produtos, que, na sua composição, não utilize elementos prejudiciais à saúde e ao bem-estar humano, ainda é incipiente.

Todo este trabalho desencadeou um produto final, a saber: o relatório de patente. Este relatório foi registrado no SEDETEC/UFRGS, diante de uma análise detalhada de patentes existentes e estudos relacionados a Carreadores Lipídicos Nanoestruturados (CLN) ou Microestruturados (CLM). Percebe-se que todos têm um foco na aplicação terapêutica do ser humano por inalação, uso tópico ou ingestão. O foco do presente relatório submetido está baseado na impregnação de madeiras,

com o óleo volátil e o desprendimento gradual de seu aroma (compostos voláteis) ao longo do tempo.

Os carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN) são um tipo de nanopartícula lipídica sólida (NLS) em que há uma mistura de óleo líquido e sólido no carreador. No presente trabalho, o óleo líquido é o próprio óleo volátil, enquanto que o sólido é uma cera que é usualmente empregada para lustrar a madeira; no caso, representada pela cera de abelha, podendo ser outra. O desenvolvimento de CLN ou NLS é bastante descrito na área farmacêutica para encapsulamento de princípios ativos. No caso, reforça-se que a inovação está em aplicar esse tipo de sistema na área de design/materiais, especificamente madeiras, onde o caráter lipídico do material confere uma vantagem sob o ponto de vista estético, ao mesmo tempo que funcional (de liberação do aroma). Não foi observado nos sistemas patenteados que citam a lavanda a composição/estrutura dos sistemas propostos neste estudo de doutorado. Importante salientar que a volatilização do óleo inicia a uma temperatura ambiente, tornando importante o monitoramento da temperatura adequada não ultrapassar 50C, pois, segundo Radünz et al. (2006), acima desta temperatura existe uma perda no teor do óleo. Este fator se torna importante quando se vislumbra uma produção industrial do carreador e sua aplicação.

Os suportes impregnados foram submetidos a alguns testes como, por exemplo, a microtomografia. Neste teste, verificou-se a presença dos carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN) tanto na superfície externa do suporte quanto na área interna da amostra, em menor quantidade. Também houve testes de cromatografia à gás, o qual permitiu observar um controle gradual da volatização dos componentes ativos do CLN e CLM. Esse tipo de teste já vem sendo utilizado com sucesso no estudo da volatização de componentes ativos de óleos voláteis, simulando um “nariz”, no caso do nosso estudo. As amostras foram impregnadas pelo método de pistola e submetidas à cromatografia à gás, para monitoramento do desprendimento do linalol, principal marcador do óleo, sendo 150 amostras impregnadas com carreadores lipídicos microestruturados (CLM) e 150 impregnadas com carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN). A hipótese da diferenciação de grau de volatilização dos carreadores conforme o tamnho (nano vs micro) se comprova quando observa-se que o decaimento do teor do marcador principal é

maior a partir dos CLN, o que pode ser explicado pela maior superfície de exposição. As questões referentes à liberação do óleo essencial, distribuição homogênea do volátil no produto, aspecto estético e aroma foram alcançadas conforme previsto inicialmente.

Outra questão relevante é que o emprego da técnica de homogeneização à alta pressão (HAP) poderá encarecer o processo. Por esse motivo, e em função dos resultados obtidos na cromatografia à gás, os quais mostram um declínio rápido dos componentes ativos dos CLN em relação aos CLM, chega-se à conclusão de que a impregnação em suportes de madeira com carreadores lipídicos microestruturados é satisfatória pela performance analisada e pelos tamanhos dimensionais alcançados. Quanto ao quesito impregnação, diante dos sucessivos testes efetivados ao longo do processo, a saber, impregnação à vácuo, por imersão e por sistema de pistola, conclui-se que o sistema de pistola apresentou o melhor resultado e condiz com as práticas de pintura e impregnação já utilizadas pela indústria, podendo desta forma facilitar o processo.