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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA ANÁLISE DOS DADOS

As análises e resultados apontaram a existência de algumas lacunas em relação à determinação dos potenciais de recuperação e desagregação relativos aos Prédios A e B. Primeiramente cabe mencionar a divergência conceitual constatada, visto o referencial teórico [Rios, Chong e Grau (2015); Akinade et al. (2015); Guy, Shell e Esherick (2006); Kibert (2003); dentre vários outros] tratar o processo de desmembramento de edifícios sob duas óticas: demolição e desconstrução ou desmontagem. Contudo, foi verificado na pesquisa que o termo mais adequado, devido a sua abrangência, seria desagregação, o qual em ordem de falicilidade de desmembramento compreendeu as seguintes alternativas: desmontagem, desconstrução, demolição seletiva e demolição destrutiva.

Nesse sentido, quanto ao potencial relacionado à desagregação, foram verificadas e justificadas no item 5.7.1 duas situações: em relação à reabilitação e à concepção do prédio. A primeira diz respeito às operações realizadas pela intervenção (parcial), as quais resultaram aproximadamente 68% para o Prédio A e 82% para o Prédio B. Já a segunda situação avaliada refere-se ao prédio como construído (completo), onde neste panorama os percentuais encontrados foram significativamente menores, em torno de 14 e 18%, para cada prédio respectivamente. Estes baixos percentuais, em relação a concepção, corroboram a afirmação de Amoêda (2009), de que "os edifícios existentes, em sua maioria, não foram concebidos para serem desconstruídos".

No tocante ao potencial de recuperação, a pesquisa também constatou divergências. Os itens 2.2.2 e 2.2.3 do referencial teórico remetem ao tema, de maneira geral, como potencial de reutilização ou reciclagem. No entanto, a abordagem empregada no trabalho é mais abrangente

e genérica quando adota o termo recuperação, o qual compreendeu a análise das partes do edifício, conforme as seguintes possibilidades de cenário de fim de vida: reutilização no próprio local, reutilização em outro local, aplicação útil, inceração para recuperação de energia, reciclagem e aterro.

Contudo, tendo em vista os objetivos da pesquisa, foi significativo analisar o processo de reabilitação dos prédios sob duas óticas: potencial de recuperação e cenário de reutilização no próprio local. Dito isso, conforme visto nos itens 5.4 e 5.7.2, o potencial de recuperação considerou todos os cenários de fim de vida realizados durante a reabilitação, com exceção do aterro. Já o cenário de reutilização no próprio local, de maneira isolada, é utilizado para conhecer o quanto dos prédios foi mantido ou aproveitado.

Os resultados demonstraram que o potencial de recuperação determinado para os prédios A e B são semelhantes, variando entorno de 88 a 90%. Esta taxa é bastante parecida com a de 91,25% determinada por Saghafi e Teshnizi (2011) em um estudo desenvolvido no Irã, com objetivos semelhantes ao da pesquisa em tela. Cabe mencionar que o padrão da construção estudado pelos autores - edificação em alvenaria e concreto – é correlato à tipologia empregada comumente no Brasil e de acordo com as características definidas nos itens 2.2.6 e 3.1.2.

Quanto aos volumes destinados aos aterros, foi constatado 51,02m³ (9,96%) para o Prédio A e 40,63m³ (11,68%) para o Prédio B. Esta geração de resíduos é fundamentada por Durmisevic (2006) com a argumentação de que "os elementos que compõem as edificações são, em geral, fixados de forma integrada, o que por vezes impossibilita a sua separação, levando à demolição de todo o conjunto e à consequente geração de resíduos".

Já os volumes desviados do aterro, ou seja, os que foram recuperados, resultaram em 35,69m³ (6,97%) para o Prédio A e 22,12m³ (6,35%) para o Prédio B. Pode-se inferir que as práticas sustentáveis que ensejam um método racional ou mais sustentável em detrimento a habitual demolição, demonstraram no estudo realizado o desvio de 6 a 7% dos resíduos gerados de cada prédio analisado. Em parte, os resultados obtidos estão de acordo com a afirmação de Zahir et al. (2016) de que "os edifícios construídos em torno de 1950 são melhores candidatos à desconstrução, pois podem conter maiores quantidades de madeiras de lei e outras partes estruturais e ornamentais para recuperação". No entanto, também foi constatada a afirmação de Crowther (2005) de que "existem inúmeras barreiras técnicas para a recuperação bem-sucedida de materiais e componentes quando um edifício chega ao fim de sua vida útil, principalmente em função do padrão de construção atual".

Ainda, constatou-se que os volumes recuperados ou destinados aos aterros foram dependentes, em parte, da vida útil dos materiais e componentes existentes na edificação.

Conforme visto no item 5.2, a avaliação de desempenho realizada contemplou a análise comparativa da vida útil de projeto (VUP) prevista na norma ABNT NBR 15.575-1:2013 (ABNT, 2013) em relação ao tempo de uso constatado para cada parte do prédio. De maneira geral, a maioria das partes analisadas - em quantidade de itens e não volume - apresentou tempo de serviço, em anos, além dos limites previstos na referida norma, fato este que confirma a argumentação de Durmisevic (2006) de que "o ciclo de vida de utilização dos materiais é muito menor que o seu ciclo de vida técnico". Como resultado, para ambos os prédios a obsolescência foi a motivação mais recorrente para as intervenções.

Foi possível inferir, pela investigação de campo, que a durabilidade que resultou efetivamente em recuperação decorreu dos materiais e componentes mantidos nos prédios e para aqueles obsoletos, porém ainda em condições satisfatórias de uso, no caso reutilização em outro local. Também, o tempo de utilização acima dos limites estabelecidos pela norma não é indicativo de durabilidade, pois grande parte dos materiais e componentes enquadrados nesta situação não apresentaram condições satisfatórias de reutilização para os mesmos fins originais.

Para finalizar, a concepção da pesquisa tratando cada prédio em separado (Prédio A e B) foi observada positivamente em virtude dos comparativos possibilitados no decorrer de todo o processo de investigação, visto que cada etapa foi sendo realizada em paralelo. Esta consideração resultou em mais análises e consequentemente em mais trabalho. Porém, no contexto geral foi vantajoso pela quantidade e relevância dos dados obtidos.

5.8.1 Proposta de ações

Como produto das investigações realizadas na pesquisa, foram definidas algumas propostas de ações, de curto e longo prazo - voltadas à recuperação de materiais e componentes - as quais observaram as características e limitações da realidade local.

a) Ações de curto prazo

Os procedimentos imediatos ou de curto prazo estão relacionados à valorização de recursos existentes no âmbito do ambiente construído. Tendo em vista a realização de operações de desagregação, é de suma importância a adoção da desconstrução e desmontagem em detrimento da habitual demolição. Por meio destas práticas os materiais e componentes são removidos com o mínimo de danos, possibilitando condições adequadas para reutilização.

A realização de inventário para levantar os materiais e componentes existentes na edificação, bem como planejar as operações necessárias à intervenção se mostrou essencial para

o processo de recuperação. Ainda, durante a realização das operações, o processo de triagem possibilita a organização e separação que visa atender aos cenários de fim de vida definidos.

Uma das principais medidas necessária é incentivar e facilitar o acesso do usuário aos depósitos de materiais recuperados ou materiais de demolição, como popularmente são denominados. As redes sociais apresentam potencial de divulgação e permitem acessar informações acerca dos produtos e imagens que retratem o seu estado de conservação.

b) Ações de longo prazo

Tendo em vista que as edificações durante seu ciclo de vida estarão sujeitas a modificações por parte dos usuários, torna-se de suma importância a atuação dos arquitetos e engenheiros na divulgação e aplicação de critérios de projeto para desconstrução (PpD) ou desmontagem. Tais adequações devem ser preferencialmente facilitadas, prevendo o mínimo de intervenção pelo usuário, considerando sempre que possível elementos desmontáveis, flexibilidade de layout e materiais e componentes com potencial de reutilização e reciclagem.

Ainda, em relação à concepção das edificações, a fase projetual deve ser desenvolvida com a tecnologia BIM, sobretudo no que diz respeito aos órgão públicos, conforme determina o Decreto nº 10.306/2020, o qual “estabelece a utilização do BIM (Building Information Modelling) na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal”.

Relata-se a necessidade de implantação e disseminação de um plano de logística reversa, que promova a reinserção de materiais e componentes em condições de reuso, de modo a ampliar o ciclo de vida das edificações. Tal iniciativa deve partir preferencialmente do governo, com a proposição de legislação que incentive e oriente os profissionais e usuários, quanto as garantias e critérios técnicos envolvidos nos processos de reutilização ou reciclagem.