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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se entender que na condução coercitiva o acusado ou investigado é detido, possuindo o seu direito de ir e vir restringido por um determinado período de tempo, em que deve ser acompanhado até a presença de autoridade competente, visando prestar esclarecimentos sobre a investigação preliminar ou do ato processual penal em que a sua presença seja tida como indispensável. Vale lembrar que na condução coercitiva o investigado não é preso, ou seja, não há que se falar em prisão preventiva nem temporária.

Nota-se que ao ser conduzido coercitivamente o acusado/investigado não é obrigado a prestar esclarecimentos, pois não é obrigado a produzir prova contra si mesmo, detendo o direito de permanecer calado, não sendo ainda a sua condução coercitiva para ser interrogado, pois este procedimento está protegido pelo direito ao silêncio. Neste caso, não há nexo para que o acusado seja conduzido coercitivamente para um ato no qual se possa calar.

Todavia, para fins de reconhecimento é permitida a condução coercitiva, pois o citado procedimento não está protegido pelo direito de produzir prova contra si mesmo ou pelo princípio do nemo tenetur se detegere, sendo conhecido como um ato que não demanda nenhum comportamento ativo por parte do acusado/investigado, ou seja, será apenas tolerado nesta parte o reconhecimento. Observa-se, ainda, que em se tratando de figura pública ou de notória publicidade não se faz necessário a medida.

Nucci (2014) entende que, caso o acusado/ investigado for conhecido e já qualificado, poderá optar por não comparecer, fazendo valer o seu direito ao silêncio, sem a necessidade de qualquer medida coercitiva para obrigá-lo a se fazer presente em juízo, pois, como descrito ao longo do desenvolvimento da pesquisa, a condução coercitiva não é a regra, como aparenta ser pela redação do art. 80, mas uma exceção, que somente se deve determinar a sua condução coercitiva se o tiver sido intimado e as suas declarações forem fundamentais para a produção da prova, caso contrário tem o seu direito de permanecer calado.

Diante de exposto, conclui-se que quanto ao acusado/investigado, o procedimento da condução coercitiva se dá em casos excepcionais, após de ser regularmente intimado, que se negando a comparecer injustificadamente, e desde que tenha o condão de ser qualificado ou se trate de ato em que sua presença seja

indispensável, buscando nesta situação levar sempre em consideração a todos os casos de suas garantias individuais.

Embora a condução coercitiva não esteja elencada no rol de medidas cautelares diversas de prisão, pode-se considerar a referida condução como medida cautelar de coação pessoal, possuindo natureza urgente que recai sobre a liberdade de locomoção do acusado/investigado ou do acusado, estando resguardados o presente argumento nas transcrições dos artigos 319 e 320 do Código de Processo Penal Brasileiro.

Por fim, o Código de Processo Penal Brasileiro não especifica quem é a autoridade competente para expedir mandado de condução coercitiva, falando somente em autoridade sem especificar que autoridade seria, com isso passou a existir dois entendimentos distintos: o primeiro entende que somente o juiz possui o poder de condução coercitiva, não cabendo à autoridade policial, uma vez que a medida, mesmo que por curto período de tempo, importa em restrição de liberdade; e o segundo entendimento é que tanto as autoridades judiciárias no curso do processo, quanto à autoridade policial no decorrer do inquérito policial possuem legitimidade para determinar a condução coercitiva do acusado/investigado, encontrando respaldo na Teoria dos Poderes Implícitos.

Arrazoa a Teoria dos Poderes Implícitos, que se a Constituição Federal preceitua fins, deve permitir a utilização dos meios necessários para o cumprimento dos fins determinados por ela, sempre resguardando as garantias individuais estabelecidas pela própria Carta Magna.

Nesse sentido, segue o julgado do Supremo Tribunal Federal (2011) de nº 107.644-SP, da 1ª Turma, do rel. Min. Ricardo Lewandowski, que trata do Habeas Corpus no aspecto Constitucional e Processual Penal, quanto à Condução do Investigado à Autoridade Policial para esclarecimento ficou evidente a aplicabilidade do § 4º, do art. 144, da CF/88 e do art. 6º do CPP no contexto dessa temática; além de poder constatar na prática alguns pontos que foram levantados e debatidos nesta pesquisa.

Conclui-se que o entendimento mais plausível é o que afirma ser cabível a condução coercitiva pela autoridade policial no curso do inquérito policial, após a devida autorização judicial para este ato, uma vez demonstrada à importância do mesmo para atingir os fins da atividade policial, sempre resguardando as garantias

individuais, encontrando a referida conclusão respalda também, no que preconiza o Código de Processo Penal.

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