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DA TRANSPARÊNCIA FISCAL PELA LEI Nº 12.741/

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica bem evidente, principalmente no parágrafo § 7º, que trata sobre a hipótese de incidência do imposto de importação (II) e do imposto sobre produtos industrializados (IPI), que esta regra alcança a todos os interlocutores da cadeia produtiva, obviamente, de forma restrita aos meios de formação do preço final do produto ou serviço.

Em seu artigo 2º o dispositivo possibilitou às empresas optarem por lançar mão dos recursos de instituições idôneas como o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) para cálculo aproximado dos valores, o que facilitou bastante a vida de micro e pequenos empresários.

Em atendimento ao artigo supracitado, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), dentro de sua metodologia, levou em consideração a alíquota média de todos os regimes tributários, com diversos fatores de ponderação, chegando ao valor aproximado para ser utilizado em todos os Estados e Municípios. De tal forma que, as alíquotas apresentadas no cupom fiscal são as mesmas para o regime Simples Nacional, Microempreendedor Individual (MEI), Lucro Presumido, Lucro Real e Lucro Arbitrado. Sendo assim, nos cálculos oferecidos pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), em atendimento ao referido dispositivo, as alíquotas são as mesmas para todos os regimes tributários, sendo diferenciadas em relação a cada Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), Nomenclatura Brasileira de Serviços (NBS) ou por itens da Lei Complementar 116.

O artigo 3º altera ainda o disposto no inciso III do artigo 6º da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, passando a vigorar com a seguinte redação:

"Art.6º... ... III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;" (BRASIL, 2012)

Assim, a discriminação do tributo incidente sobre produtos e serviços, passa a ser um direito básico de todo consumidor. Podendo este ser discriminado no

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próprio documento fiscal. Entenda-se por documento fiscal, todo aquele que serve para conferir idoneidade à operação, não se limitando exclusivamente a notas e cupons fiscais, mas podendo lançar mão de documentos tais como contratos, faturas, recibos, entre outros. Isso, por certo, quando não houver disposição legal determinando a emissão de um documento fiscal específico. Neste caso é possível, inclusive, utilizar-se de cartaz afixado no estabelecimento, para os casos de estabelecimentos que possuem um rol reduzido de mercadorias, como bares e restaurantes.

Com esta alteração do dispositivo do Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, o legislador reforça o viés consumerista da Lei 12.741/12, mesmo esta de natureza tributária.

Sendo assim, o cumprimento deste dispositivo legal pode ser objeto de fiscalização dos órgãos de defesa do consumidor. Bem como a aplicação de penalidades, que podem ser desde multas até a cassação de licença do estabelecimento ou da atividade.

Tal como normatiza o artigo Art. 5º, qual seja:

Art. 5º Decorrido o prazo de 12 (doze) meses, contado do início de vigência desta Lei, o descumprimento de suas disposições sujeitará o infrator às sanções previstas no Capítulo VII do Título I da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. (BRASIL, 2012)

Não obstante, o passo em direção a uma política fiscal mais transparente, proporcionado pela Lei 12.741/12, fica perceptível a longa caminhada que a sociedade brasileira ainda tem pela frente. Os argumentos e dados trazidos pela presente pesquisa evidenciam a necessidade de uma reforma profunda e estrutural de todo o sistema tributário, antes que se alcance o efeito pretendido com a Lei da Transparência Fiscal, como ficou conhecida a Lei 12.741/12.

Um bom começo seria a efetivação de uma reforma tributária, há tempos negligenciada. Um trabalho a ser amplamente debatido com sociedade, empresários e instituições. A reforma tributária poderá vir a ser um jogo em que todos ganham. Mais eficiência econômica, com a possibilidade de uma menor carga tributária, a eliminação de distorções que prejudicam os investimentos, um maior crescimento econômico do Brasil e a possibilidade da reparação de uma injustiça social antiga.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou em outubro de 201717 que desigualdade social elevada prejudica a coesão social, conduz à polarização política e pode reduzir o crescimento econômico. Um cenário bem comum no panorama político brasileiro, com polarizações políticas cada vez mais exacerbadas e sem perspectivas de uma solução satisfatória no médio prazo.

Pedro Herculano, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e autor de premiada tese sobre a desigualdade no Brasil, em sua excepcional tese alertou: “Há também um risco à democracia. Uma elite econômica muito concentrada tem maior acesso aos mecanismos para se perpetuar no poder, por meio do financiamento de campanha e lobby” (SOUZA, 2016)

E aconselhou ainda:

“O ideal seria o Brasil se aproximar da maioria do restante dos países desenvolvidos, que tem, à exceção dos Estados Unidos, uma aberração [entre os desenvolvidos], concentração de renda entre 5% e 15% no centésimo mais rico” (SOUZA, 2016)

Em entrevista a uma revista brasileira, em outubro de 2017, o economista irlandês Marc Morgan, ex-orientando de Piketty18 e estudioso do tema disse: “A reforma tributária é uma escolha óbvia entre as opções para buscar uma sociedade mais equitativa. É preciso resolver o fato de os muito ricos terem carga tributária menor que os pobres” (MILÁ, 2017)

Por tanto, é essencial, para a manutenção da democracia brasileira e para uma maior justiça social, que a reforma tributária brasileira acelere os passos no sentido de reparar um erro secular na condução da política tributária nacional. Este senão o maior desafio da nação para os próximos anos, com certeza é o maior drama vivido pelo povo brasileiro.

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https://blogs.imf.org/2017/09/20/growth-that-reaches-everyone-facts-factors-tools/

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Thomas Piketty é um economista francês que se tornou figura de destaque internacional com seu livro "O Capital no século XXI" (2013) e “A Economia da Desigualdade” (2015). Sua obra mostra que, nos países desenvolvidos, a taxa de acumulação de renda é maior do que as taxas de crescimento econômico. Segundo Piketty, tal tendência é uma ameaça à democracia e deve ser combatida através da taxação de fortunas.

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