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Para muitos economistas o Brasil está vivendo uma tempestade perfeita. O momento atual não está favorecendo em nada a economia do país. A atual conjuntura econômica é de inflação elevada, juros elevados, taxa de desemprego alta e se elevando ainda mais, diminuição do consumo das famílias, endividamento alto das famílias, não conseguindo honrar nem mesmo com itens básicos como conta de luz e água, investimento em queda, não só por parte do governo para conseguir fechar suas contas, mas também pela iniciativa privada que em meio a toda insegurança possível não se vê confiante a investir. E, se não bastasse, vivemos agora uma das piores crises políticas e a perda do grau de investimento.

O ano de 2015 encerrou trazendo fortes dificuldades para a vida dos brasileiros, com uma inflação final de 10,67% e um PIB negativo de 3,8%, num claro processo de estagflação, repetindo alguns momentos da história nacional. Entretanto, o que realmente torna esse momento mais difícil, em relação aos demais, é a falta de perspectiva quanto a uma solução sustentável ao problema. O fundo do poço de tal crise não foi em 2015, devendo se definir em 2016 apenas. Todavia, a grande incógnita

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é por quanto tempo a economia nacional ficará no fundo do poço até iniciar um processo de recuperação sólida.

Nenhum indicador de reversão desse quadro político-econômico foi sinalizado até agora. Com investimentos em queda e canalizados para a especulação, o setor produtivo está sendo duramente penalizado. Como visto nesse artigo, a inflação no país sempre foi combatida restringindo a demanda ou importando produtos para forçar a empresa nacional a não elevar seus preços. Ao mesmo tempo, o governo, nos últimos anos, segurou artificialmente os preços administrados (combustíveis, energia elétrica etc...). Essa estratégia teve vida curta e, a partir de 2015, foi necessário, em função da crise nas contas públicas, liberar tais preços. Isso reforçou o processo inflacionário em um momento de economia em total paralisação.

Tal realidade atinge em cheio a população brasileira que assiste a seu poder de compra ser diluído, o aumento da insegurança quanto à manutenção do seu emprego, a corrosão de seu salário nominal etc. Além disso, como é sabido, a inflação incide em maior proporção sobre as classes de menor poder aquisitivo, tornando a atual crise econômica nacional um elemento de reversão na pequena melhoria da qualidade de vida obtida em anos anteriores. Muitas famílias, que haviam alcançado a chamada classe C nacional, voltam a cair para as classes D e E. Na prática, levou-se mais de 10 anos para melhorar minimamente as condições de vida dos mais pobres e em dois anos as conquistas foram eliminadas. Contraditoriamente, as empresas, mesmo com vendas abaixo do normal e sem perspectivas imediatas de melhoria, não diminuem seus preços. Pelo contrário, chegam mesmo a elevá-los, visando manter seus lucros, caracterizando um processo inflacionário inercial.

Este artigo abre caminho para outros estudos, como a piora do país no índice de Gini, que trata da concentração de renda, na medida em que a inflação é uma forma negativa de transferência de renda, das classes mais pobres para as classes mais ricas. Estudos quanto à carga tributária, que penaliza o setor produtivo, tornando-o sem competitividade no mercado mundial, visto que nos últimos anos a indústria vem perdendo considerável importância no PIB, tendo como destaque o setor de serviços, também são recomendáveis. Em outra dimensão, recomenda-se um estudo aprofundado sobre a abertura comercial do país, pois ainda vivemos com um mercado muito fechado e de pouco expressividade internacional, com exceção apenas ao setor

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de produtos básicos, onde o país é muito competitivo e possui grande importância para o mundo, porém, em uma pequena quantidade de bens.

Enfim, o artigo atingiu seu objetivo, mostrando os efeitos e a importância de uma relação direta entre alta de preços e recessão econômica, tomando como exemplo o caso brasileiro a partir de 2014. Destaca-se, que a esse processo nacional está sendo motivado, pelo lado da inflação, particularmente por uma inflação de custos, especialmente em função da correção dos preços administrados.

Infelizmente, a “nova matriz econômica”, com forte cunho desenvolvimentista se mostrou irresponsável na prática, especialmente a partir de 2011, levando o país a uma crise econômica, com estagflação, que não era vista há décadas. A saída de tal crise será difícil e custosa socialmente à Nação Brasileira, pois será de longo prazo, desde que politicamente o país tenha um projeto concreto para tal desfecho.

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