Este trabalho procurou estudar a influência de fatores individuais na demanda por consultas médicas, quanto ao número de consultas médicas, em âmbito nacional, tendo como objetivo verificar o comportamento das variáveis associadas ao tabagismo em relação à tal demanda. Para tanto, utilizou-se como variável dependente o número de consultas relatadas nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa (PNAD 2008).
Como variáveis dependentes foram incluídas variáveis socioeconômicas, outras relacionadas à saúde, e, obviamente, aquelas relacionadas ao tabagismo, classificando os indivíduos em fumantes, ex-fumantes e nunca fumantes, com suas subdivisões de frequência e intensidade.
Em concordância com a literatura investigada, constatou-se, por meio de análise descritiva e econométrica, que alguns fatores tiveram efeito positivo quanto ao número de consultas médicas, dentre os quais têm-se: plano de saúde, doença crônica, remédio diário, raça negra, anos de estudo, renda per capita, chefe de família e zona urbana.
Quanto ao efeito redutor no número de consultas, este pode ser influenciado pelas características sexo masculino, trabalhar e autoavaliação positiva da saúde.
As características raça branca, em quadrado da idade não foram significantes. A característica idade, de forma não esperada, teve efeito negativo, embora, em valor absoluto, bem próximo a zero.
Não foi verificada diferença significativa entre fumantes diários e não fumantes quanto ao número de consultas. Quanto aos fumantes não diários, observou-se que estes superam os nunca fumantes.
Quanto aos ex-fumantes, a análise descritiva e econométrica revelou um maior número de visitas ao médico por parte destes, concordando com os estudos de JEE et al. (1993), CAPILHEIRA & SANTOS (2006) e KAHENDE et al. (2009).
CAPILHEIRA & SANTOS (2006) argumentam que, possivelmente, indivíduos que pararam de fumar foram motivados por uma maior preocupação com a própria saúde, ou em decorrência de um problema de saúde, o que, dos dois casos poderia gerar um maior número de idas ao médico.
Talvez isso seja confirmado pela análise descritiva, na qual, dentre os que possuíam algum tipo de doença crônica, 17,9% eram fumantes e 25,4% ex-fumantes e, quanto aos que fazem uso de algum tipo de medicamento diário, 14,9% estavam na categoria de fumante e 27,5% de ex-fumantes.
Observe-se que entre os fumantes 18,4% possuíam plano de assistência médica, enquanto que, para os ex-fumantes, esse percentual é de 26,4%.
Portanto, conforme os resultados deste estudo, não foi encontrada diferença significativa no número de consultas médicas realizadas pelos fumantes e os que nunca fumaram, a não ser para aqueles fumantes intensivos que se auto- avaliam como tendo uma boa saúde. Estes procuram menos os consultórios do que os não fumantes. Por outro lado, o custo maior do tabagismo é compensado pelos ex-fumantes que realizam mais consultas em relação aos nunca fumaram, sendo este custo ainda maior para aqueles que fumavam diariamente.
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