O desenvolvimento da presente pesquisa, possibilitou uma análise de como o ensino de língua portuguesa e a educação matemática podem ser abordados de forma a contribuírem para o processo de alfabetização na Educação de Jovens e Adultos. A experiência vivenciada na disciplina de Estágio Supervisionado no Ensino Fundamental II na escola municipal de Fortaleza onde foi realizada a pesquisa, foi fundamental para a coleta de informações que permitiram a reflexão sobre o trabalho pedagógico que deve ser realizado na EJA. Quando comparado à forma como esse trabalho estava sendo realizado na sala de aula onde foi desen- volvido este estudo, foi possível constatar algumas diferenças concernentes à prática docente no ensino de português e matemática, em relação às orientações estabelecidas pela Proposta Curricular para o primeiro segmento da EJA, uma vez que devem ser consideradas as especi- ficidades desse público no processo de ensino e aprendizagem.
As regências realizadas na sala de EJA, durante o estágio, permitiram a vivência práti- ca do ensino de português e matemática com base no estudo teórico sobre a Educação de Jo- vens e Adultos realizados na disciplina. Nesse sentido, foi possível compreender a realidade dos alunos da EJA, a partir do conhecimento do contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, identificar os conteúdos de língua portuguesa e matemática que são traba- lhados na EJA, no processo de alfabetização, de acordo com a Proposta Curricular para o pri- meiro segmento da EJA no país (BRASIL, 2001), descrever a forma como os conteúdos de língua portuguesa e matemática são trabalhados visando à alfabetização de jovens e adultos, além de, também, refletir sobre as contribuições da educação matemática para a formação do aluno da EJA no processo de alfabetização.
Acerca desses aspectos, os estudos realizados demonstraram que a modalidade Educa- ção de Jovens e Adultos deve ser tratada segundo as particularidades do seu público, princi- palmente em relação ao seu contexto econômico e sociocultural. Nesse sentido, ressalta Fon- seca
A diversidade das vivências e a diversidade das maneiras de com elas se relaciona- rem, que são patrimônio dos sujeitos, sejam jovens, adultos, adolescentes ou velhos, não impede que encontremos um modo de identificação do público de EJA pela ne- gação da condição infantil e, portanto, por seu não-pertencimento ao grupo etário para o qual aquele nível de ensino foi originalmente concebido. Aqui vai uma outra identificação que também encerra uma negação: grupo ou grupos socioculturais aos quais pertencem os alunos da EJA constituem parcelas da sociedade que só muito recentemente passaram a ser consideradas como público da Educação Escolar. (FONSECA, 2002, p.27).
Dessa forma, o ensino de português e matemática no processo de alfabetização, não pode negligenciar as características dos alunos da EJA, nem ser trabalhado de maneira frag- mentada, independente um do outro, pois para que a aprendizagem dos conteúdos seja signifi- cativa, faz-se necessário um trabalho pedagógico adequado a essas características, possibili- tando o acesso ao conhecimento científico por esses alunos, a partir de suas experiências.
A necessidade de mais valorização da modalidade Educação de Jovens e Adultos, por- tanto, torna-se evidente, pois mesmo diante dos direitos conquistados em relação ao acesso à educação, é notória a precariedade existente nessa modalidade, conforme foi observado, tam- bém, na escola onde esta pesquisa foi desenvolvida. Esse fato reforça o reflexo das ações do Governo voltadas para as conveniências impostas pelo sistema capitalista, que pouco se preo- cupam com a garantia na qualidade do ensino da Educação de Jovens e Adultos e acentuam ainda mais as desigualdades sociais já existentes em nossa sociedade.
Nós, enquanto educadores, precisamos trazer à tona os problemas e as necessidades ainda presentes na EJA, buscando promover discussões que permitam a conscientização dessa realidade por parte da população e que abram caminhos para a superação, mesmo que mini- mamente, dessas questões.
REFERÊNCIAS
AÇÃO EDUCATIVA. Organização não-governamental (ONG): história. Disponível em <http://acaoeducativa.org.br/sobre-nos/historia/>. Acesso em: 23 nov. 2017.
BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 5 de outubro 1988. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 29 out. 2017.
_______.CONFINTEA VI. Marco de Ação de Belém. Brasília: UNESCO, MEC, 2010.
_______.Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, 2013. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15548-d- c-n-educacao-basica-nova-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 23 nov. 2017.
_______.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº 9394, de 26 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 25 nov. 2017.
_______.Educação para jovens e adultos: ensino fundamental: proposta curricular - 1º segmento / coordenação e texto final (de) Vera Maria Masagão Ribeiro. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/propostacurricular/primeirosegmento/proposta curricular.pdf>. Acesso em: 29 out. 2017.
DI PIERRO, Maria Clara. Os desafios para garantir a educação de jovens e adultos. 2014. Disponível em: <.https://gestaoescolar.org.br/conteudo/114/os-desafios-para-garantir-a- educacao-de-jovens-e-adultos> Acesso em 29 out. 2017.
DI PIERRO, Maria Clara; JOIA, Orlando; RIBEIRO, Vera Masagão. Visões da educação de
jovens e adultos no Brasil. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001 (p.58-77).
FACEIRA, Lobélia da Silva. Estado, Política Educacional e Cidadania: política educacio- nal no contexto neoliberal. In: Revista Universidade e Sociedade nº 22 – ANDES Sindicato Nacional dos Docentes do Nível Superior, Brasília- DF, 2000.
FONSECA, Maria da Conceição Ferreira Reis. Educação matemática de jovens e adultos: especificidades, desafios e contribuições. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
FORTALEZA. CME. Resolução nº 07/2012 Estabelece normas para a organização e funcio- namento da Educação de Jovens, Adultos e Idosos, como modalidade do Ensino Fundamental da Educação Básica nas Instituições de Educação do Sistema Municipal de Ensino de Fortale- za. Fortaleza, 7 mar. 2012. Disponível em < fi-
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
______.Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HADDAD, Sergio; DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.14, p.108-130, 2000.
HADDAD, Sergio; DI PIERRO, Maria Clara.Transformações nas políticas de Educação de
Jovens e Adultos no Brasil no início do terceiro milênio: uma análise das agendas nacional
e internacional. Cad. Cedes, Campinas, n.36, p. 197-217, maio-ago 2015.
IBGE. Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais no Brasil. Diretoria de Pes- quisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí- lios 2007/2015. Disponível em: <https://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao/taxa-de- analfabetismo-das-pess>. Acesso em 29 out. 2017.
MEC. Ministério da Educação. Objetivos do Pronatec. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pronatec>. Acesso em 29 out. 2017.
MEC. Programa Nacional da Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/proeja>. Acesso em 29 out. 2017.
TONET, Ivo. Educação e Formação Humana. Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/proeja>.
UNICEF. Declaração Universal dos Direitos Huma-