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A mulher está cada vez mais mostrando à sociedade que é um ser de coragem, de força e determinação e esse sentimento de transgressão está totalmente ligado à arte da palhaçaria. Ser palhaça é encontrar caminhos onde todos acreditam que não existam. É remar contra a correnteza de desafios. É exercer sua liberdade de expressão e não ter medo de ser quem realmente é.

A Escola de Palhaças é uma das iniciativas mais inovadoras e corajosas do meio artístico, feita por mulheres e para mulheres. Inovadora por não existir, até então, no Brasil, uma escola de palhaçaria voltada às mulheres e corajosa por enfrentar as barreiras do machismo de uma sociedade patriarcal e de uma técnica que há muitos anos é “governada” por homens.

Sou mulher, palhaça e nordestina! Orgulho-me de mim e de tantas outras! Andrea Macera, Karla Concá; Adelvane Néia; aproveito para mencionar também a Gena Leão, a palhaça Ferrugem31 que é nascida e precursora da arte circense no Rio Grande do Norte, pela qual eu tenho imensa admiração por estar firme e forte no mundo circense apesar de todas as barreiras existentes no incentivo à cultura em nosso estado; Lily Curcio32; entre outras mulheres pioneiras na palhaçaria feminina brasileira, mostram cada vez mais que ser palhaça não é “para qualquer uma” como muitos pensam. Elas demonstram o quanto esta arte deve ser olhada com um carinho maior, mas com a mesma intensidade de respeito e seriedade. Não é qualquer pessoa que consegue conhecer-se ao ponto de expor seu íntimo, seus medos, suas verdades, seu ridículo e estar vulnerável. Demonstrar a pureza, a inocência, a humanidade interna e tocar as pessoas de diversas formas, é um estado difícil de ser alcançado.

O Palhaço Pepin, em entrevista para o livro “Palavra de Palhaço” enfatiza que:

Ser palhaço não é pintar a cara, botar o nariz, botar o sapato e sair, não. Tem que levar aqui no sangue. [...] O circo é assegurado pelos mastros, e o espetáculo, pelo palhaço. Se o circo não tem palhaço está quebrado (ACHCAR, Palavra de Palhaço, 2016, p. 124).

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Gena Leão, nascida em Angicos-RN, palhaça e proprietária do Circo Grock juntamente com seu esposo, Nil Moura, o palhaço Espaguete.

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Lily Curcio, palhaça, atriz, titeriteira, antropóloga etnopsiquiatra e diretora teatral. Faz 25 anos pesquisa a clowneria clássica e os pontos em comum entre o xamanismo e o palhaço, assim como as convergências entre o teatro de animação e a linguagem do palhaço. Integrante e uma das fundadores do Seres de Luz Teatro.

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Como mulher, nordestina e palhaça, foi de extrema importância esta experiência com a Escola de Palhaças, bem como a participação no II EIPIM - Encontro Internacional de Mulheres da Ilha do Mel (Vitória-ES, em Julho de 2019), pelo fato de que aqui, no Nordeste, são escassas as iniciativas que envolvem a palhaçaria, mais ainda as que são direcionadas às questões femininas. Fui iniciada palhaça no ano de 2013, pela mestra Adelvane Néia, mencionada neste artigo, e desde então despertei interesse por este ofício.

Marmita, já nasceu com fome; fome de tudo. Seu nome veio por possuir além desta fome, caber uma infinidade de coisas dentro dela. Sempre escutei “Mulher, como aguenta fazer tanta coisa?” ou “O que tu não sabe fazer?”. Através da palhaçaria eu compreendi o porquê de eu sempre arranjar um jeito pra tudo e de correr atrás pra que tudo desse certo. Por isso, comecei uma busca de conhecimento para saciar um pouco essa minha fome (que era também de Marmita), passando por alguns mestres, até chegar à Escola de Palhaças como aluna e no II EIPIM como oficineira de dança cômica a partir de movimentos das danças populares nordestinas, que ampliaram de uma forma absurda a minha visão de mundo, como mulher e palhaça. Mas ainda é apenas o inicio de uma jornada que poderá ser cheia de obstáculos, mas que com certeza valerá a pena.

Tendo isto em vista, continuarei alimentando-me de estudos, treinos e vivências, inspirando-me nestas grandes mulheres palhaças para eu possa ser também sirva de inspiração para outras. Repassarei o que for vivenciado e absorvido, combinando sempre com o que há dentro de mim e de onde venho, porque assim, a palhaçaria, sobretudo a palhaçaria feminina, construirá uma rede de conhecimento forte e com propriedade. E para além disso: transformar vidas.

Ser palhaça é tirar você do sério. Ser palhaça é brincadeira séria.

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Figura 20: Marmita no final do pequeno cabaré realizado no encerramento do Módulo I da Escola de Palhaças em 2018. Na foto estão além de Kathleen Louise como Palhaça Marmita, Adelvane Néia e Andrea Macera.

39 REFERÊNCIAS

Livros

ACHCAR, Ana. Palavra de Palhaço. 1 ed. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2016.

BOLOGNESI, Mario Fernando. Palhaços. Primeira edição. São Paulo: editora UNESP, 2003. BURNIER, Luis Otávio. A arte de ator: da técnica à representação, elaboração, codificação e sistematização de ações físicas e vocais para o ator. Campinas: Unicamp, 2001.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Trad.: Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. FELLINI, Frederico. Sobre o clown. Fellini por Fellini. Porto Alegre: L&PM, 1974

FERRACINI, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. Campinas: Unicamp; Imprensa Oficial do Estado – Imesp, 2001.

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Trad.: J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: Pespectiva, 2015.

LECOQ, Jaques. O Corpo Poético: uma pedagogia da criação teatral. São Paulo: Editora Sesc São Paulo: Edições Sesc SP, 2010.

REMY, Tristan. Entradas clownescas: uma dramaturgia do clown. São Paulo: Editora Sesc São Paulo, 2016.

Dissertações

JUNQUEIRA, Mariana Rabelo. Da graça ao riso: contribuições de uma palhaça sobre a palhaçaria. Dissertação de mestrado em Artes Cênicas. Rio de Janeiro: Centro de Letras e Artes - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2012.

MERIZ, Paulo Ricardo. O espaço cênico no circo-teatro: caminhos para a cena contemporânea. Dissertação de mestrado em Teatro. Rio de Janeiro: Centro de Letras e Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1999.

Artigos

CASTRO, Felícia. “Reflexões sobre a comicidade feminina”. Pã. Revista de Arte e Cultura. Disponível em: http://parevista.org/revista/index.php/component/content/article/31- colaboradores/121-felicia-de-castro.html em 27 de abril de 2011.

SANTOS, Sarah Monteath dos. “Reflexão acerca dos arquétipos da comicidade feminina como possibilidade para o surgimento de mulheres palhaças”. Anjos do Picadeiro 9 – Revista do Encontro Internacional de Palhaços. Rio de Janeiro: Teatro de Anônimo, 2011.

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PADILHA, Priscila G. Convívio e triangulação clownesca na potencialização do evento teatral: Substratos de uma montagem. Revista: Cena e Movimento – Edição nº 2 (2011). FERRACINI, Renato. O treinamento energético e técnico do ator. Revista LUME, 2012. P 95; 106.

Festivais

II EIPIM- Encontro Internacional de Palhaças da Ilha do Mel:

https://www.facebook.com/pages/category/Performance-Art/II-Encontro-Internacional-de- Palha%C3%A7as-na-Ilha-do-Mel-438202759939440/

Esse Monte de Mulher Palhaça:

http://www.essemontedemulherpalhaca.com.br/2018/ Anjos do Picadeiro:

http://www.anjosdopicadeiro.com.br/

Grupos e artistas

Escola de Palhaças: https://www.facebook.com/escoladepalhacas/

Circo di Sóladies: Escola de Palhaças: https://www.facebook.com/escoladepalhacas/ Casa 407: https://www.facebook.com/casa407/

Circo ViraMundo: http://circoviramundo.com.br/

Seres de Luz Teatro: http://www.seresdeluzteatro.com.br/ Gardi Hutter: http://www.gardihutter.com/en/

Rubra: http://www.palhacarubra.com.br/ Grupo LUME: http://www.lumeteatro.com.br/

Doutores da Alegria: http://www.doutoresdaalegria.org.br/ Palhaços sem Fronteiras: http://palhacossemfronteiras.org.br/

Dicionário do Circo Brasileiro: http://circodata.com.br/index.php?c=glossario&l=p

Vídeos

GABRIEL, Mariana e MINEHIRA, Ana. Minha Avó era Palhaço. Documentário. 50 minutos. Resultado de projeto apresentado e selecionado para o Prêmio Funarte Carequinha de Fomento ao Circo, categoria Pesquisa em 2014. São Paulo, 2016.

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