• Nenhum resultado encontrado

Abstração em termos de conhecimento significa retirar da realidade um elemento que a ela pertence e que nela está misturado a todos os outros. Abstrair, neste sentido, significa separar, isolar, algo de seu contexto original. O objetivo deste isolamento é a possibilidade do conhecimento. Etapas fundamentais para a constituição do conhecimento, como a nomeação por exemplo, dependem desse passa, é preciso separar para conhecer.

Esta separação, no entanto, não significa, necessariamente, um isolamento absoluto e permanente. O ideal é que ele não seja. O ideal é que exista um retorno constante daquilo que foi separado ao seu contexto original, isto tanto porque cada separação que nosso aparato cognitivo promove não é per-feita (acabada) como porque é preciso voltar à realidade no sentido de completar o sentido da transformação do mundo por meio do conhecimento.

No caso da abstração própria ao capital, o sentido é outro. Apesar de também encontrarmos aí um movimento de isolamento este se refere a um isolamento efetivo de elementos da realidade que não colaborem diretamente para com o objetivo pré- estabelecido segundo os padrões da valorização do valor. É neste sentido que a abstração do capital tende a eliminar barreiras e, ao mesmo tempo, se realiza por meio da eliminação de tais barreiras. Estas barreiras eliminadas pela posição do capital são aquelas que impediam-no de se realizar, aquelas que impedem constantemente o processo de abstração pelo qual um elemento é isolado da realidade complexa à qual pertence. Mas é justamente esta realidade complexa que exige, para que se produza a abstração do capital, a geração de outras tantas barreiras.

É neste sentido que se dá exacerbação do privado em detrimento do público. O público pode estar ligado ás relações comunitárias, numa perspectiva mais tradicional, ou à esfera pública característica do Estado moderno, claro, numa perspectiva menos tradicional. Mas de uma maneira outra, o público procura abarcar algum nível de complexidade social que, de qualquer forma é mais amplo que o âmbito provado.

Este último, por sua vez, funda-se na abstração. A opção pelo privado reafirma a fragmentação, entendo que privadamente é possível se resolver os problemas que afligem

cada um em sua vida. O problema dessa opção é que ela corrobora com a abstração, com a desconsideração de elementos que realmente existem e que vez ou outra impõe sua existência.

Nas semanas que finalizei este trabalho, os “atentados” do Primeiro Comando da Capital aterrorizaram grande parte da classe média brasileira, principalmente paulista. Apresentadores de TV e outros tantos representantes da “opinião pública” nacional pediram mais rigor nas prisões e nas ruas. Afinal, entenderam que a segregação que se promove no Brasil é fraca demais. Ilusão.

O que poucos perceberam foi que aquilo era, justamente, uma crise. Uma extrapolação das contradições que marcam o modelo excludente de sociedade que temos. Segundo dados dos jornais o número de presidiários a cada 100 mil habitantes triplicou no Estado de São Paulo ao longo dos vintes e um anos que se passaram do fim da ditadura militar. O número de shopping centers já passa de 600 no território nacional e a moda dos investimentos turísticos são os Resorts dentro dos quais os turistas podem aproveitar, isolados, suas férias. Há segregação de um lado e do outro e toda ela está diretamente ligada ao processo de territorialização abstrata.

Quando se põe, porque a sociedade permite que se ponha, a valorização da riqueza abstrata como norma soberana e inquestionável de reprodução não há como se evitar esta fragmentação. O filtro da valorização impõe que se deixem de lado todos aqueles conteúdos que lhe são exteriores, que lhe servem como obstáculo. A territorialização acontece mesmo assim, ela tem de acontecer de qualquer forma. Mas ela é seletiva e daí seu caráter de redes territoriais. Se estas redes, no entanto, questionam o poder do Estado por cima, em direção ao internacional, elas também o fazem como redes intraterritoriais. Nas revoltas do PCC existiam mais de 70 presídios amotinados. Presídios que, a priori, deveriam estar isolados, mas que por meio da comunicação efetivada por um dos instrumentos que melhor simboliza a exacerbação do individualismo – o celular – conseguiram formar uma rede que comandou o “caos” fora dela. As pessoas de fora dessa rede correram para outras redes, a dos condomínios, dos telefones e da Internet.

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON, Perry. “Balanço do neoliberalismo”. In SADER, Emir; Gentilli, Pablo (org) Para além do neoliberalismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

ANTAS Jr., Ricardo Mendes. “Elementos para uma discussão epistemológica sobre a regulação do território”. In Revista GeoUSP, nº16, 2004.

ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX. São Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

__________. “Globalização e macrosociologia histórica.” In Revista de Sociologia e Política n° 20, UFPR, Curitiba, jun 2003.

ARANTES, Paulo Eduardo. “Cavalaria Global”. In Revista Margem Esquerda nº 04. São Paulo: Boitempo, 2004.

__________. “Último round”. In Revista margem Esquerda nº 05. São Paulo: Boitempo, 2005.

BELLUZZO, Luiz G.M.. Valor e Capitalismo. São Paulo: Bienal, 1987.

__________. “Dinheiro e as transfigurações da riqueza”. In TAVARES, Maria da C.; FIORI, José, L. Poder e Dinheiro: uma economia política da Globalização. Petrópolis: Vozes, 1998.

BENSAÏD, Daniel. Cambiar el Mundo. Madrid: Catarata, 2004.

BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo. Lisboa: Teorema, 1989. BRENNER, Robert. O boom e a bolha. Rio de Janeiro: Record, 2003.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. __________. “‘Novas’ contradições do espaço”. In CARLOS, Ana Fani Alessandri & DAMIANI, Amélia Luisa & SEABRA, Odette C. Lima. O Espaço no fim de século: a nova raridade. São Paulo: Contexto, 1999.

__________. “São Paulo hoje: as contradições no processo de reprodução do espaço”. In Scripta Nova Revista Eletrônica de Geografia y ciencias sociales: Barcelona: Universidad de Barcelona, Nº 88, 1 de mayo de 2001.

CARNEIRO, Ricardo. “Globalização Financeira e Inserção periférica”. In Revista Economia e Sociedade n°13, Instituto de Economia – Unicamp; Campinas, 1999. CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.

CICCOLELLA. Pablo José. “Hacia um capitalismo sin fronteras? O la historia recien comienza”. In ESCOLAR, Marcelo; MORAES, Antônio C. Robert. (Org). Nuevos Roles Del Estado em el reordenamiento Del território: aportes teóricos. Buenos Aires: UBA, 1998.

DAMIANI, Amélia Luisa. “As contradições do espaço: da lógica (formal) à (lógica) dialética, a propósito do espaço”. In CARLOS, Ana Fani Alessandri & DAMIANI, Amélia Luisa & SEABRA, Odette C. Lima. O Espaço no fim de século: a nova raridade. São Paulo: Contexto, 1999.

__________. “A propósito do espaço e do urbano: algumas hipóteses”. In Revista Cidades, volume 1, número 1, Janeiro-Junho 2004.

DE ANGELIS, Massimo. “Marx and primitive accumulation: the continuous character of capital’s ‘enclosures’” in The Commoner, n° 2, September 2001. (pode ser encontrado no endereço: www.commoner.org.uk/02deangelis.pdf)

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto, 1997.

DUPAS, Gilberto. Tensões contemporâneas entre o público e o privado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

FAUSTO, Ruy. Marx, Lógica e Política vol. I. São Paulo: Brasiliense, 1987, 2ª edição. FERNANDES, Bernardo Mançano. “Movimentos socioterritoriais e socioespaciais. Contribuição teórica para uma leitura geográfica dos movimentos sociais”. In

(http://osal.clacso.org/espanol/html/documentos/Fernandez.doc) 2005. FILGUEIRAS, Luiz. História do Plano Real. São Paulo; Boitempo, 2000.

FIORI, José Luis. O Vôo da coruja. Para Reler o desenvolvimentismo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2003.

__________. 60 lições dos 90. Uma década de neoliberalismo. Rio de Janeiro: Record, 2001.

__________. “De volta à questão da riqueza de algumas nações” In FIORI, José Luis (org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 2000. __________. “Estados, Moedas, desenvolvimento”. In FIORI, José Luis (org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 2000 a.

192 __________. “Globalização, Hegemonia e Império”. In TAVARES, Maria da C.; FIORI, José, L. Poder e Dinheiro: uma economia política da Globalização. Petrópolis: Vozes, 1998.

FREITAS, Maria Cristina Penido de (org). Abertura do sistema financeiro no Brasil nos anos 90. São Paulo: Fundap: Fapesp; Brasília; Ipea, 1999.

FREITAS, Maria Cristina Penido de; PRATES, Daniela Magalhães. “Sistema

Financeiro e Desenvolvimento: as restrições das novas regras do Comitê da Basiléia sobre os países periféricos”. In Seminário Don Raul Prebisch

(www.ie.ufrj.br/prebisch/index.html), 2001.

GERMER, Claus M. “Fundamentos teóricos da análise marxista do sistema monetário internacional”. In (http://www.gre.ac.uk/~fa03/iwgvt/files/00germer.rtf), 2000.

GOMES, Marcio Fernando. “O caminho para revelar a territorialidade das instituições financeiras”. In Anais do I SEPEGE: Pesquisa em Geografia no Século XXI, DG-FFLCH- USP, 2003.

GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e Desnacionalização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

GUTTMANN, Robert. “As mutações do capital financeiro”. In CHESNAIS, François (org). A mundialização financeira. São Paulo: Xamã, 1999.

GRESPAN, Jorge Luis. O Negativo do Capital. São Paulo: Hucitec: FAPESP, 1998. __________. “A crise na crítica à economia política” in Vários Autores. A obra teórica de Marx: atualidade, problemas e interpretações. São Paulo: Xamã, 2000.

__________. “Capital e crise: os desafios da teoria” in Revista Margem Esquerda nº 4. São Paulo: Boitempo, 2004.

HABERMAS, Jürgen. “Entre ciencia y filosofia: el marxismo como critica”. In Teoría y práxis. Madrid: Tecnos, 2000.

HAESBAERT. Rogério. “Da desterritorialização à multiterritorialidade”. In Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. USP, 2005.

HARVEY, David. O novo imperialismo. São Paulo: Edições Loyola, 2004 __________. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

__________. Los límites del capitalismo e la teoría marxista. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1990.

__________. “O ‘novo’ imperialismo: sobre arranjos espaciotemporais e acumulação por despossessão”. In Revista Margem Esquerda n° 05. São Paulo: Boitempo editorial, 2004. HEGEL, Georg W. Friedrich. A Razão na História. Lisboa: Edições 70, 1995.

HEIDRICH, Álvaro Luiz. “Fundamentos da Formação do Território Moderno”. In http://www.ilea.ufrgs.br/nerint/arquivoartigos/content523/content523_2/FUNDAMENTOS .html.

HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder. São Paulo: Viramundo, 2003. HOBSBAMW, Eric. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

JAMESON, Fredric. “Cultura e capital financeiro”. In __________. A cultura do dinheiro. Petrópolis: Vozes, 2001.

KOSELLECK, Reinhart. Crítica e Crise. Rio de Janeiro: Eduerj: Contraponto, 1999. KURZ, Robert. “A falta de autonomia do Estado e os limites da política” in: KURZ, Robert. Os Últimos combates. Petrópolis: Vozes, 1997a.

__________. “Para além de Estado e Mercado” in: KURZ, Robert. Os Últimos combates. Petrópolis: Vozes, 1997b.

__________. “A virtualização da economia – mercados financeiros transnacionais e a crise da regulação”. Folha de São Paulo, 23 de maio de 1999.

__________. “A ascensão do dinheiro aos céus” (http://obeco.planetaclix.pt/ rkurz101.htm), 2002.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Editora Moraes, 1991. __________. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

__________. A respeito do Estado. Tradução para o Português do Del’ Etat. GESP (Grupo de Estudos São Paulo) - Laboratório de Geografia Urbana – FFLCH/USP, 2004, mimeo. __________. A produção do Espaço. Tradução Laboratório de Geografia Urbana... __________. O fim da história. Lisboa: Dom Quixote, 1971.

__________. A re-produção das relações sociais de produção. Lisboa: Escorpião, 1978. MACHADO, Lia Osório. “Sistemas, Fronteiras e Territórios”. In (www.igeo.ufrj.br/ fronteiraspesquisa/fronteira/p02avulsos01.htm). 2003.

__________. “Limites, Fronteiras, Redes”. In Vários Autores. Fronteira e Espaço Global. Porto Alegre: AGB-Porto Alegre, 1998.

194 __________. “Comércio ilícito de drogas e a geografia da integração financeira: uma simbiose?” In http://www.igeo.ufrj.br/gruporetis/pesquisa/droga/p01pub02.htm. 2002. MARTINS, José de Souza. “As temporalidades da história na dialética de Lefebvre”. In __________ . (org.) Henri Lefebvre e o retorno à dialética. São Paulo: Hucitec, 1996. MARTINS, Sérgio. “Crítica à economia política do espaço”. In CARLOS, Ana Fani Alessandri & DAMIANI, Amélia Luisa & SEABRA, Odette C. Lima. O Espaço no fim de século: a nova raridade. São Paulo: Contexto, 1999.

MARX, Karl. O Capital. Crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1988. __________. Capítulo VI inédito de O Capital. São Paulo: Editora Moraes, 1985.

__________. “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” in Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005.

MATOS, Carlos A. de. “Globalizacion, movimentos del capital, mercados de trabajo y concentracion territorial expandida”. In Vários Autores. Fronteiras na América Latina. Espaços em transformação. Editora da Universidade.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da Formação territorial do Brasil. São Paulo; Hucitec, 2000.

NOVY, Andréas. A des-ordem na periferia: 500 anos de espaço e poder no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

OLIVERIA, Ariovaldo Umbelino de. “Espaço e tempo: compreensão materialista e dialética”. In: Santos, Milton (org). Novos rumos da Geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982.

OLIVEIRA, Francisco. A economia da dependência imperfeita. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

__________. Crítica à razão dualista e O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2003. __________. Os direitos do antivalor. Petrópolis: Vozes, 1998.

__________. “Os sentidos do capital pós-Bretton Woods”. In Revista Margem Esquerda nº 04. São Paulo: Boitempo, 2004.

PAULANI, Leda Maria. “A atualidade da crítica da economia política”. In Vários Autores. A obra teórica de Marx: atualidade, problemas e interpretações. São Paulo: Xamã, 2000.

__________. “Sobre dinheiro e valor; uma crítica às posições de Brunhoff e Mollo”. In Revista de Economia Política, vol.14, nº 3 (55), julho-setembro / 1994.

__________. “Brasil delivery: razões, contradições e limites da política econômica nos primeiros seis meses do governo Lula”. (www.lpp-

uerj.net/outrobrasil/Referencias_Destaque.asp?Id_Sub_Referencia=8), 2003.

ROSDOLSKY, Roman. Gênese e Estrutura de O Capital de Karl Marx. Rio de Janeiro: Eduerj: Contraponto, 2001.

SANTOS, César Ricardo Simoni. “Brasília: do tempo ao espaço e a constituição de uma hegemonia estatista”. In Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. USP, 2005.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SMITH, Neil. Desenvolvimento Desigual. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. SPOSITO, Eliseu Savério. “A noção de território. Uma leitura pela noção de

desenvolvimento”. In Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. USP, 2005. SPOSITO, Eliseu Savério & SANTOS, Leandro Bruno dos. “A globalização e suas facetas; grupos econômicos globais e territórios locais na aurora do século XXI”. In Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. USP, 2005.

VELTZ, Pierre. Mundialización, Ciudades y Territórios. Barcelona: Editorial Ariel, 1999.

__________. “Hierarquias e redes”. In BENKO, Georges; LIPIETZ, Alain. Regiões Ganhadoras. Oeiras (PT): Celta, 1994.

WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo Histórico e Civilização Capitalista. Rio de Janeiro; Contraponto, 2001.

WOOD, Ellen Meiksins. A Origem do Capitalismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. __________. Democracia contra Capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2003.