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A Conferência Mundial sobre a Educação para Todos e a LDB destacam que uma das funções da Nação é proporcionar melhorias nas condições de trabalho do professor, uma vez que o Brasil é signatário da educação universal. Ao assumir as convenções mundiais que tratam sobre a inclusão, compete ao governo brasileiro proporcionar melhorias nas condições de trabalho nas escolas. Essas melhorias compõem também a organização do trabalho e são agenciadas pelos professores participantes da pesquisa. Por isso, é importante ouvir o que os professores demandam. Eles requisitam atualização na formação técnica e metodológica para o ensino especial, apontam o volume de alunos em sala de aula e carecem de reconhecimento profissional. Para que todas as pessoas gozem o direito de inserção e de permanência com qualidade na educação em instituições regulares de ensino, é necessário valorizar a imagem do professor. Nesse âmbito da inclusão, o professor é figura central no processo educacional. Ele sabe de suas importâncias social e educacional, porém, enfrenta dificuldades na execução da inclusão.

Este estudo promoveu momentos de escuta ao professor, pois objetivou analisar as estratégias de mediação do sofrimento desse profissional diante de um contexto educacional inclusivo; analisar a organização do trabalho com base nas discrepâncias entre o prescrito para o atendimento em turmas inclusivas e o real; descrever as vivências de prazer e de sofrimento dos professores no contexto de uma escola inclusiva; identificar as estratégias de mediação do sofrimento dos professores no processo educacional inclusivo; e analisar a articulação da educação especial inclusiva na perspectiva do prazer e do sofrimento dos professores, alcançando seus objetivos. Os professores participantes do estudo revelaram que sofrem diante das dificuldades vividas no eixo acadêmico. A figura do professor mostrou-se desestabilizada, pois necessita reinventar-se. A inclusão evidencia o sofrimento do professor, que carece de estratégias coletivas de enfrentamento do sofrimento, que possui uma técnica metodológica desatualizada e que é pouco reconhecido socialmente e pelo outro. Corre o risco, diariamente, bimestralmente ou semestralmente de viver uma alienação mental, social e cultural. Então, caso ele adoeça, ele busca saídas com remédios e se afasta da labuta.

Mesmo assim, o docente tenta lidar criativamente com os processos metodológicos e com seu próprio seu sofrimento. Os profissionais que permanecem saudáveis ou na busca do prazer se ressignificam em cada etapa. Na inserção do ANEE, os professores salientaram o

cumprimento de seu dever em atender a todos e o gozo do direito, por parte do aluno, em estar em um estabelecimento de ensino regular. Porém, perceberam que não basta o ANEE estar no ambiente escolar. É necessário oferecer-lhe atividades pedagógicas com qualidade. Nessa etapa, o professor entra em conflito consigo, com seus valores, com suas experiências profissionais e com seu amparo técnico. Busca suporte intrínseco e, assim, às vezes, reorganiza-se de forma solitária, estudando sozinho. Outras vezes, apropria-se de estratégias metodológicas desconexas que são respondidas pelos alunos ora com acertos, ora com erros. Percebe que o amparo técnico não atende mais à demanda do alunado e sofre.

A busca para confortar o sofrimento é retratada pelo apoio dos familiares e dos amigos. Amparado emocionalmente, o professor alimenta sua estrutura egoica e, em seguida, busca respaldo técnico. A literatura também alivia o sofrimento, ajudando a reconduzir estratégias pedagógicas anteriores e a formar novos paradigmas. Os momentos coletivos de que os professores participam são focados em observar os colegas nas reuniões de planejamento e de coordenação, em captar silenciosamente as dicas bem-sucedidas e ajustá- las em seu planejamento.

Apesar do apoio coletivo que o professor detém para se reorganizar, é na individualidade da sala de aula que ele se põe em xeque e sofre novamente. Ele, sozinho, com os 40 alunos chamados de normais e mais um ou dois alunos com necessidades educacionais especiais enfrenta a solidão e traz, à tona, as estratégias de enfrentamento. Gesticula, fala loucamente, observa os alunos, acalma-se, respeita o ritmo de cada um, reforça suas qualidades, tira as dúvidas e acolhe o aprendiz como sujeito capaz, potencialmente eficaz, dentro de suas capacidades. Percebe o outro lado da moeda. O aluno deixa de ser visto como deficiente.

Os professores participantes deste estudo autenticam que muito ainda tem de acontecer no processo educacional inclusivo. Pontuam que são essenciais instalações físicas mais apropriadas, sistematização dos treinamentos metodológicos e reconhecimento desses profissionais. Contudo, os professores valorizam o que já percorreram e seguem vivendo prazerosamente, buscando estratégias saudáveis para enfrentar cada sofrimento vivido. Por fim, envaidecem-se de serem professores em uma instituição de ensino médio regular inclusivo.

O presente estudo objetivou analisar as estratégias de mediação do sofrimento do professor diante de um contexto educacional inclusivo, com vistas a levantar ações que

potencializam o trabalho dos professores com turmas inclusivas. Especificamente, analisamos a organização do trabalho com base nas discrepâncias entre o prescrito para o atendimento em turmas inclusivas e o real; descrevemos as vivências de prazer e de sofrimento dos professores no contexto de uma escola inclusiva; identificamos as estratégias de mediação do sofrimento dos professores no processo educacional inclusivo e analisamos a articulação da educação especial inclusiva na perspectiva do prazer e do sofrimento dos professores.

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