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Este estudo encontrou evidências sobre a viabilidade da adoção de métodos ágeis em OP, mostrando ser possível aplicá-los neste contexto também. Porém, muito do que se sabe sobre os efeitos da adoção de métodos ágeis em OP não são relativamente novos para a comunidade de ES porque eles praticamente repetiram-se em outros tipos de organizações e corroboram com as teorias existentes de métodos ágeis. Isto se explica porque nos dias atuais há pistas de que as OP têm aplicado tecnologias e metodologias bem depois delas terem sido experimentadas e avaliadas pela indústria de software e a academia. Ou seja, a indústria de software e a academia, muitas das vezes, são protagonistas das mudanças em tecnologias e metodologias, criando-as, experimentando- as e avaliando-as primeiramente. Mais tarde, as OP percebem oportunidades externas e as absorvem, procurando repetir muitas das experiências já conhecidas.

Mesmo que as histórias e os problemas encontrados no setor público possam parecer repetidos comparativamente a outros setores aparentando não haver algo novo para a comunidade de ES, o universo tecnológico está em constante mudança e evolução e essas histórias e problemas sempre apresentam nuances que tornam a busca de soluções diferentes e inovadoras algo extremamente estimulante [Car14]. Assim, a luz da ciência, este estudo contribui com um conjunto de recomendações - além de um arcabouço de resultados teóricos e empíricos - para as OP começarem a refletir sobre seus métodos atuais de trabalho encorajando-as aos métodos ágeis de modo a alcançar seus benefícios de maneira responsiva.

O arcabouço de resultados teóricos e empíricos e o conjunto de recomendações para a adoção de métodos ágeis é mais uma tentativa na busca de respostas e passos consistentes em direção ao desenvolvimento ágil de software em OP, trazendo informações úteis de como adotar métodos ágeis nesse contexto. As análises apresentam indícios de que uma boa alternativa é iniciar a adoção de métodos ágeis com equipes piloto dispostas a mudanças fortemente apoiadas pela alta gerência em projetos-piloto importantes; depois a mudança dependerá da ampliação e interação com outras equipes visando alcançar a grande maioria da organização; na sequência, essas pessoas trabalham pela constituição de um ecossistema de aprendizado e melhoria contínua para não acomodar-se conscientemente ou inconscientemente com as primeiras conquistas e subsequentemente com a zona de conforto. Isto demonstra que as pessoas realmente precisam praticar métodos ágeis, a fim de entendê-los melhor. Do ponto de vista da pesquisa científica, a legitimação do conjunto de recomendações proposto para a adoção de métodos ágeis em

OP é endossada pelo processo de pesquisa como um todo, descrito no capítulo 2 e na seção 4.1.

Por último, em 2001, quando os dezessete proponentes do desenvolvimento ágil de software chegaram a uma nova visão para o desenvolvimento de software, eles individualmente continuaram por muito tempo ensinando sobre práticas essenciais, como “escrever estórias em cartões de papel”, “trabalhar em equipe”, “escrever bons testes”, “tornar o trabalho visível”, “obter feedback do cliente toda semana”, etc. Isto mostra que a compreensão dos valores e princípios do manifesto ágil é de fácil assimilação, porém praticá-lo é mais difícil. Como constatado, o desenvolvimento de software no governo guiou- se por métodos prescritivos durante décadas. Isto significa que aqueles que trabalham com desenvolvimento ágil em OP precisam compartilhar suas experiências e ajudar uns aos outros, a fim de dar a este método a chance de acontecer o mesmo.

7.1 Contribuições da Pesquisa

Muitas pessoas estão interessadas em métodos ágeis no governo, porém elas não sabem como começar, então elas precisam de estudos introdutórios sobre a adoção de métodos ágeis no setor público. Neste sentido, as principais contribuições desta pesquisa são o arcabouço de resultados teóricos e empíricos e o conjunto de recomendações para a adoção de métodos ágeis. O conjunto de recomendações é mais uma contribuição para as OP refletirem, atualizarem, melhorarem e expandirem sua competência no desenvolvimento de software por meio da visão de modernidade e agilidade proposta pelos métodos ágeis.

Não obstante, esta pesquisa retroalimenta o conhecimento científico da área agregando à academia algumas características sobre as OP, bem como, alguns aspectos sobre o desenvolvimento de software e a adoção de métodos ágeis no setor público. Por último, este estudo aprofundou os conhecimentos do aluno em métodos ágeis, tornando-o um profissional apto a contribuir com a academia e OP como potencial especialista no assunto.

Com relação a questão de pesquisa deste estudo, ela foi respondida ao longo do processo de elaboração do conjunto de recomendações, identificaram-se algumas evidências científicas, algumas publicações governamentais e uma obra especializada sobre o tema, formando a base teórica sobre o assunto e mostrando a viabilidade da adoção de métodos ágeis em OP. Nesta fase, identificaram-se as principais razões, benefícios, problemas e desafios, práticas utilizadas e lições aprendidas sobre o tema. Adicionalmente, o resultado do estudo teórico formou o arcabouço de resultados teóricos e empíricos

preliminar. Posteriormente, este arcabouço foi ampliado e consolidado com os resultados dos estudos empíricos executados em duas OP de médio e grande porte respectivamente. Na sequência, estes estudos teóricos e empíricos forneceram informações para criação do conjunto de recomendações para a adoção de métodos ágeis em OP, o qual foi revisto, avaliado e endossado por dois servidores públicos com experiência em gestão de mudanças em OP envolvendo TI.

7.2 Limitações da Pesquisa

Durante a execução deste estudo, identificou-se algumas limitações, as quais são apresentadas a seguir. Em primeiro lugar, a revisão sistemática contribuiu para identificar estudos primários dentro do domínio pesquisado. Embora a escolha das bases de dados para consulta tenha procurado abranger o máximo das principais alternativas científicas disponíveis para execução de uma revisão sistemática, é possível que outras fontes de publicações científicas não utilizadas neste estudo também contenham artigos sobre o desenvolvimento ágil de software em OP. Portanto, não é possível garantir a cobertura total de artigos científicos sobre esse assunto.

Em segundo lugar, a definição à priori da estratégia de busca faz com que o conhecimento seja visto como algo bem definido e explícito. Entretanto, nesta pesquisa novos conhecimentos foram descobertos durante a execução da revisão sistemática, o que poderia ter resultado em uma reformulação da estratégia de busca, juntamente com uma nova execução de todo o processo com as novas descobertas. Isto significa que uma descrição inicial precisa da realidade torna difícil a aplicação desta prática com êxito, uma vez que o conhecimento pode ser também mal definido, tácito e difuso.

Em terceiro lugar, o conjunto de recomendações para a adoção de métodos ágeis que deve ser interpretado com cautela. Ele foi construído com base em estudos teóricos e empíricos executados especificamente em OP, onde recomendações para projetos de órgãos governamentais não são generalizáveis para projetos do setor privado [Ban08]. Porém, ao contrário da percepção comum, o estudo de Krogstie [Kro12] realizado com OP norueguesas não encontrou diferenças significativas na eficiência no desenvolvimento de novos sistemas e manutenção de sistemas existentes entre o setor público e o setor privado. Ademais, Ewan Ferlie [apud Ban08] argumenta que, apesar das diferenças, as OP não são radicalmente diferentes das organizações privadas na sua estrutura organizacional.

Em quarto lugar, o número de projetos estudados na parte empírica da pesquisa, restringe a generalização dos resultados obtidos. Não obstante, eles foram dominados por casos que foram percebidos como bem-sucedidos pelos sujeitos. Isto pode ter limitado ou influenciado os resultados da pesquisa. Deve-se, entretanto, destacar que especificamente o arcabouço de resultados teóricos e empíricos e o conjunto de recomendações são apoiados também na base teórica estudada, o que permite uma maior segurança nas constatações e conclusões obtidas.

Em quinto lugar, esta pesquisa concentrou-se apenas em projetos de desenvolvimento de software. Outros tipos de projeto, como infraestrutura de TI e subcontratação também são comuns e poderiam contribuir com percepções relevantes. Por último, o conjunto de recomendações trata-se de uma proposta inicial.

7.3 Trabalhos Futuros

Se esta proposta inicial se generalizar, então várias implicações práticas surgem principalmente para gerentes de projeto, desenvolvedores, clientes e usuários. Essa perspectiva aponta para a realização de uma revisão pós-aplicação (RPA) incluindo explicitamente uma avaliação das recomendações e suas fases. A RPA é uma oportunidade para avaliar e melhorar o conjunto de recomendações e garantir que as lições aprendidas serão incorporadas em projetos subsequentes.

Como visto, métodos ágeis para o desenvolvimento de software estão sendo gradativamente adotados em vários projetos de governo. Sua abordagem fornece meios para resolver muitos problemas comuns enfrentados no desenvolvimento de software na AP, incluindo o tempo de entrega e a aderência do produto de software as necessidades dos clientes. Governos têm aplicado diversas práticas para superar esses desafios comuns, incluindo o desenvolvimento iterativo com base em entregas frequentes priorizadas por valor de negócio, maior participação do cliente no processo de desenvolvimento de software, testes automatizados, integração contínua, etc. Como estas e outras práticas estão tornando-se cada vez mais prevalentes na indústria e no governo para o desenvolvimento de sistemas de informação, vislumbra-se a oportunidade de incorporá-las no desenvolvimento de software científico também, semelhantemente ao que aconteceu no projeto da NASA Langley Research Center e conforme apontou um dos entrevistados do CNPTIA. Identifica-se grande potencial de crescimento nesta linha de pesquisa, onde os pontos fortes envolvem uma parceria estável entre a academia e centros de pesquisa, criando condições de experimentação e aprendizagem únicas para o estudo de métodos ágeis no desenvolvimento de software científico.

Além disso, com o crescimento gradativo de métodos ágeis em OP, levantar como está o estágio atual de adoção de métodos ágeis no governo brasileiro é importante para mostrar como as OP como um todo estão em relação aos métodos ágeis. Assim, vislumbra- se a oportunidade de executar uma pesquisa quantitativa para identificar o estado da prática de métodos ágeis em OP, tomando como base o trabalho da empresa VersionOne [Ver15], bem como, a pesquisa executada pelo Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) [MSC+12]. Por último, como OP não visam lucros financeiros e os maiores benefícios de métodos ágeis para a AP concentram-se na satisfação das pessoas com os resultados alcançados e a forma como eles foram atingidos. Então, novas estratégias de gerenciamento de benefícios e novas medidas de performance e resultados precisam ser estudadas, elaboradas e avaliadas, incluindo, por exemplo, a percepção da melhoria na qualidade de vida pelos empregados, a percepção do cliente da melhoria no processo de trabalho e na qualidade do produto, os benefícios que o produto de software estão proporcionando para as pessoas produzindo lucros sociais entre outros.