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O presente trabalho procurou tratar do fenômeno de expansão do sistema de ensino superior vinculado a diferenciação institucional que ocorreu no interior desse nível educacional que proporcionou as condições necessárias para que as reformas na educação superior surtissem o efeito desejado de atender à demanda por acesso e democratização do ensino superior.

Contudo, nota-se que a massificação do ensino superior não escapou de uma estratificação no interior dos sistemas de ensino superior. O sistema terciário de ensino, a partir de então, pode ser dividido em termos de modelos de universidade como um pirâmide estratificada, em que o modelo de universidade de ensino e pesquisa se encontra no topo, sendo privilégio de poucos; no meio estariam as universidades de ensino, que ainda comportam um caráter da universidade clássica, e, compondo a base dessa pirâmide, também com o maior percentual de indivíduo, estão as universidades de caráter tecnológico, vocacional, que são as grandes responsáveis pela massificação desse nível de ensino. (PRATES, 2005).

Conforme, apresentamos o modelo de expansão variou de acordo com as regiões e países, sendo distintos os tipos de massificação, a partir de diferenciação institucional, da formação de institutos tecnológicos, da delegação ao setor privado desse caráter de formação mais vocacional, ainda com a manutenção do sistema tradicional, não segmentado, com controle maior ou menor do estado. (ROKSA, 2008; PRATES, 2005; WAGNER, 2000 apud PRATES, 2005). O sistema americano destaca-se como grande exemplo de diversificação institucional, de variedade de programas, e, conseqüentemente, de sistema tipicamente massificado, universal nos termos de Trow (1970, apud PRATES, 2005), com importantes inovações, como os community colleges que repercutiram em todo o mundo. (SCHWARTZMAN, 1993; ROKSA, 2008).

No Brasil, o processo de diferenciação institucional se dá mais pelo setor privado. Após a reforma de 1968, o sistema sofre importantes modificações institucionais e inicia a massificação do seu sistema de ensino superior no modelo de privatização. A legislação e os incentivos do mercado possibilitam a criação e

desenvolvimento de várias instituições isoladas espalhadas pelo país que posteriormente, mediante novos incentivos legais e de mercado, iniciam um processo de fusão e se tornam universidades, atraídas também pelo prestígio associado a esse nível. (CUNHA, 1983; MARTINS, 2009). Conforme, tipificação de Prates (2005), desenvolve-se no país a mercantilização de tipo mais econômico propriamente, sendo baixo o controle do estado, deixando mais a cargo do próprio mercado de instituições de ensino superior o controle de expansão e qualidade de instituições e cursos.

O setor tecnológico; apesar de existir a mais tempo no país, tendo também uma legislação a respeito na reforma de 1968, não muito clara, é verdade; não se caracterizou como um meio de expansão e massificação no Brasil. O baixo incentivo político e de mercado, além da pouca atratividade dos cursos contribuiu para isso, ao contrário do que foi observado em outros países, onde esse setor foi o responsável pela ampliação do sistema de ensino superior. (CUNHA, 1983) Contudo, após a nova política para a educação profissional instituída em 1997 (BRASIL, 1997), sendo reformulada em 2004 (BRASIL, 2004), o Brasil passa a contar com uma política mais clara de ensino profissional no nível terciário, conferindo o grau de Tecnólogo para os que optam por essa carreira. (TAKAHASHI e AMORIM, 2008). Nota-se que nos últimos anos, a graduação tecnológica cresce aceleradamente a cada ano, em termos de instituições, cursos, matrículas e concluintes. Schwartzman (2005) sugere que há uma diferenciação no interior desse sistema, com a melhor absorção e valorização dos estudantes formados nos institutos de educação tecnológica pública de excelência, como o Sistema “S” (SENAI, SENAC), as Faculdades tecnológicas do Centro Paula Souza, os Centros Federais de Tecnologia (CEFETs), e os atuais Institutos Federais de Educação Tecnológica (IFETs) em detrimento daqueles formados no setor privado. Contudo, há uma tendência desses institutos tecnológicos de excelência buscarem assimilar valores acadêmicos tradicionais, distanciando da vocação mais profissionalizante e técnica desses cursos, algo próximo do fenômeno internacional denominado academic drift (NEAVE, 2000).

Pensando nessas considerações, analisamos aqui as diferenças de prestígio ocupacional relacionadas a formação dos estudantes, em termos de quatro tipos de ensino superior: Ensino Tradicional Público, Ensino Tradicional Privado, Ensino Tecnológico Público e Ensino Tecnológico Privado.

Foram 4 modelos analisados, orientados pela discussão teórica da expansão e diferenciação institucional, com o contexto do Brasil sendo crucial, é claro, já que foram utilizados dados secundários da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2007. O primeiro modelo buscou medir as diferenças de prestígio entre o modelo de elite do país, o Ensino Tradicional Público, em relação a todos os demais modelos juntos. O segundo modelo buscou ver as diferenças entre os modelos que historicamente orientaram o sistema de ensino superior brasileiro: o Ensino Tradicional Público e o Ensino Tradicional Privado. O terceiro modelo procurou analisar a situação dos modelos de ensino tecnológico, comparando-os com o sistema de elite, como referência. Por fim, o quarto modelo partiu da questão colocada por Schwartzman (2005) de uma situação diferenciada no mercado das Instituições Tecnológicas Públicas em relação às Tecnológicas Privadas. Para os quatro modelos, encontramos diferenças relevantes que apontavam no sentido de nossas hipóteses: o sistema de elite propicia cargos de prestígio muito maior que os outros, nos primeiros 3 modelos analisados, destacando-se a maior diferença entre os modelos analisados no modelo 3, com grande diferenciação entre o modelo de elite e o modelo tecnológico, mais vocacional; outra constatação é que há diferenças de status ocupacional entre o setor tecnológico público e o privado, apesar de não serem grandes e ter sido o modelo com menor consistência, dentre os analisados.

Esse trabalho chega a conclusão de que há uma estratificação de modelos do ensino superior evidente no Brasil, que se reflete posteriormente nos cargos que os indivíduos ocuparão no mercado de trabalho. Contudo, é importante a ressalva de que os dados são insuficientes para que se afirme categoricamente nesse sentido, que se queira comprovar algo determinante em relação ao status ocupacional dado pela formação de origem. Porém, não há como deixar de se ressaltar a importância dos indícios apresentados nessa direção.