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Objetivamos com este estudo investigar e analisar criticamente as perspectivas

oficias de capacitação docente a partir da década de 1990, tomando como principal

referência o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA). O

percurso trilhado possibilitou alcançar algumas conclusões sobre as problemáticas

abordadas. Algumas das questões propostas para estudo foram analisadas com maior

profundidade, o que nos possibilita realizar afirmações mais contundentes com relação

às conclusões sobre o estudo das mesmas. Outras questões foram abordadas de forma

pontual, o que nos permite apontar para reflexões que merecem maior aprofundamento

em decorrência da amplitude do tema.

Pudemos compreender que as reformas educacionais desencadeadas no Brasil a

partir da década de 1990, respondem às demandas da reestruturação produtiva para a

formação de um determinado perfil de trabalhador. Assim sendo, a produção flexível

exige uma formação de caráter mais geral, pautada pela formação de competências

técnicas e atitudinais que possibilitariam a atuação flexível e polivalente do trabalhador.

Nesse contexto, são valorizados os aspectos subjetivos ou sócio-psicológicos na

qualificação do trabalhador, elegendo o saber-fazer e o saber-ser como principais

conceitos de uma formação voltada para a empregabilidade, para a adaptação dos

indivíduos ao mercado de trabalho e para a formação de atitudes receptivas às

mudanças. A educação básica é, então, erigida como modalidade de formação

responsável pelo desenvolvimento de habilidades cognitivas e comportamentais

necessárias à atuação polivalente e flexível do trabalhador, e para a formação da

disposição para a atualização constante dessas habilidades em decorrência das

Esses conceitos tornam-se constitutivos das reformas políticas e educacionais

orientadas por organismos multilaterais internacionais e regionais que atribuem papel

central à educação para o desenvolvimento econômico dos países, determinando a

lógica de investimentos e de gerenciamento de recursos para a educação. O exame de

alguns dos documentos desses organismos, possibilitou-nos a percepção dos

alinhamentos existentes entre essas orientações e a reforma educacional brasileira,

especialmente no que se refere à importância estratégica do professor e de sua formação

para a implementação das reformas.

A análise das referências oficiais para a formação de professores, apontou para a

incorporação de alguns dos conceitos que definem a formação profissional em geral,

quais sejam: saber-fazer; saber-ser; formação por competências; formação continuada;

profissionalização e outros. Nesse sentido, a profissionalização do professor passa pela

definição de saberes e práticas considerados essenciais para sua atuação eficiente frente

às demandas sociais por educação e as necessidades específicas ao contexto do trabalho

educativo, cuja especificidade não pode ser apreendida pela reforma, mas pode

configurar como entrave para sua efetivação. Temos assim, uma formação docente

estruturada a partir da validade dos saberes para a atuação profissional do professor que

valoriza os saberes construídos “na” e “pela” prática em detrimento dos saberes

acadêmicos, científicos. Para justificar essa concepção de formação, são adotadas

teorias e orientações metodológicas que corroboram a ênfase na valorização da

experiência: a teoria do professor reflexivo, a pedagogia das competências e a

epistemologia construtivista.

A partir da descrição sobre a natureza e as características dos materiais que

compõem o PROFA, pudemos comprovar que a estrutura, os conteúdos, os objetivos e

as orientações metodológicas do Programa atendem à concepção oficial de capacitação

síntese do modelo oficial de formação de professores, uma vez que fundamenta-se sobre

os mesmos pressupostos políticos, ideológicos e epistemológicos que configuram o

ideário educacional contemporâneo. A presença das teorias do professor reflexivo, da

pedagogia das competências e do construtivismo no PROFA, e o exame da forma como

essas teorias se expressam no material, nos permitiu apontar para uma articulação entre

a perspectiva oficial de formação docente e as pedagogias do “aprender a aprender”.

Pudemos observar que a perspectiva oficial de formação continuada de

professores aponta ainda para “concepções negativas sobre o ato de ensinar”

(DUARTE, 1998), na medida em que descaracteriza o trabalho educativo como

atividade de ensino a partir das pedagogias do “aprender a aprender”. Considerando as

diferentes funções atribuídas ao professor como definidoras de sua atividade

profissional, também apontamos para a nova lógica de investimentos e de

gerenciamento das políticas neoliberais para a educação: eficiência, eficácia,

flexibilidade e gestão do processo de aprendizagem. Esta nova lógica conduz à

valorização do conhecimento tácito do professor para lidar com a complexidade da

realidade educativa.

O exame do papel da reflexão sobre a prática como atividade cognitiva e como

modelo de formação do PROFA, permitiu apontar que o processo formativo, pautado

pelos princípios da formação reflexiva, não possibilita ao professor a compreensão das

vinculações de sua prática com a prática social, uma vez que descarta a reflexão

filosófica sobre as determinações do trabalho educativo e o conhecimento científico,

indispensáveis para a compreensão totalizadora da realidade.

A defesa por uma “nova” racionalidade prática, no debate sobre os saberes

docentes e sua formação, confirma a questão do conhecimento tácito como tendência

dominante nas pesquisas e nas políticas de formação docente, configurando-se de modo

seja freqüentemente utilizado, é possível perceber a ausência de explicitação de seus

fundamentos filosóficos e epistemológicos.

Desejamos concluir este trabalho de pesquisa reafirmado um posicionamento

afirmativo com relação à especificidade da educação escolar, que consiste na

socialização do saber elaborado; e da atividade educativa, como atividade responsável

pela seleção, organização e transmissão-assimilação do saber. Em decorrência desse

posicionamento, defendemos a formação do professor como intelectual, capaz de

refletir com profundidade e rigor sobre os problemas que se colocam para o

desenvolvimento do trabalho educativo.

Tal como ressaltamos no terceiro capítulo, para a pedagogia histórico-crítica

(SAVIANI, 1996, 2003) a reflexão filosófica e os conhecimentos científicos

configuram-se como bases sólidas para a formação do educador, uma vez que oferecem

a possibilidade de compreensão do trabalho educativo em sua totalidade, em suas

relações com a prática social global. Essa compreensão é de extrema importância para o

encaminhamento de possibilidades efetivas para o desenvolvimento do trabalho

educativo pautado pela concepção histórico-social de formação humana, de