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O processo Herói de Mil Sonhos vem como um afloramento da personalidade individual e utilização das percepções encontradas nos sonhos para a criação em dança. Assim como, Zimmermann (2009, p. 155) reforça em seu trabalho, o mesmo se “desenvolve num processo original, onde os impulsos criativos das camadas mais profundas se manifestam no campo de relações conscientes do eu”. Com isso, o sonho teve um grande papel precursor para a criatividade abraçar inúmeras dimensões psíquicas.

Sempre após os experimentos de improvisação, nos colocávamos em uma roda, as discutir as singularidades e percepções de cada um e encontrar as novas dimensões que o Herói de Mil Sonhos pode percor. Para Leal (2012, p. 124) a “percepção é única e acontece de acordo com a história, a memória e o relacionamento do individual com o coletivo, do corpo com o mundo, do eu com o outro”.

Essa coletividade gerou inúmeras formas de se dançar. Método aplicável a todos os públicos, inclusive no ambiente escolar. Diante do mundo fantasioso da criança e do jovem os recursos metodológicos aqui utilizados para criação, facilmente podem ser aplicados no contexto escolar. Tanto a teoria quanto a prática, da improvisação, psique, meditação para a dança servem de proposta ao aluno como procedimento metodológico e reconhecimento de si. Convém também ao professor para obter um olhar mais atento e mais profundo ao aluno, o qual se relaciona em sua aula diariamente. Úteis as disciplinas curriculares Dança e Arte.

Dentre esses métodos criativos, não buscamos um caminho diretamente terapêutico. Contudo, diante dos relatos e sensações de bem-estar observadas ao fim de cada processo, podemos dizer que para cada um de nós tomou um partido terapêutico, a caminho da satisfação de por diversas vezes abraçar a nós mesmos nessa dança coletiva.

32 Talvez, se eu não tivesse me atentado aos símbolos presentes nos meus sonhos, deixando-os esquecidos em minha memória, teria perdido uma grande oportunidade de promover a dança de uma forma tão curiosa. Terei perdido a chance enfrentar as mudanças e transições dessa agradável jornada. Como a filósofa Lúcia Helena Galvão (2017) comenta graciosamente, em um vídeo de acompanhamento da leitura do livro O Herói de Mil Faces, “não jogue no lixo aquilo que você não entende; você pode estar jogando fora um bracelete de ouro maciço”.

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APÊNDICE

Descrição do sonho: viagem a casa da sombra e do self

O sonho se inicia caminhando em um lugar pela noite cheio de neve pelos cantos. Há neste lugar algumas ruas e um amontoado de pessoas conversando entre si.

Neste caminho, encontro um jovem de mais ou menos 25 anos. Branco, com a altura em média 1,65, vestido casualmente. O mesmo sempre buscando chamar minha atenção. Este rapaz parecia um tanto inquieto e buscava sempre chamar minha atenção por meio de brincadeiras, piadas, danças, corridas, saltos aerodinâmicos e etc. Não se acalmava um instante se quer. Falava para ele se acalmar um pouco seu estado de euforia. Por fim, o jovem se em pendurou no teto de um alpendre de uma casa e começou a se deslocar sobre aqueles espaços. O que sustentava seu peso era uma era um pedaço de madeira que era sustentado por alguns pilares. Em certo momento, ele se locomoveu, ainda pendurado, a uma certa parte do alpendre que estava com a madeira desgastada e logo alí por cima da madeira, inexplicavelmente havia uma pedra. O rapaz eufórico parou neste lugar e neste começou a fazer acrobacias aumentando a pressão sobre a madeira desgastada. Como já esperado, a madeira se rompe sob o peso da pedra e impulso que o jovem fazia. A pedra cai sobre o jovem, por cima do ombro e braço direito do mesmo. Ele fica preso e mesmo naquela situação, dá uns sorrisos tímidos e diz que está bem. Consigo retirá-lo dalí, ele se levanta rapidamente, mexe o ombro os ombros para trás para demonstrar segura e afirma estar bem. Eu preocupado, peço para ele respirar e aquietar-se, ele assim o faz e começa a queixar-se de dor e sentir que algum osso havia quebrado.

Após toda euforia, o mesmo diz que vai ficar bem, eu me despeço e sigo minha viagem.

Logo em seguida, iniciei um passeio de trem, nele, observo os trilhos e bastante neve pela janela. Em poucos instantes, me vejo em um carro, com algumas pessoas, as quais não lembro quem são, contudo pareço conhecê-las e ter um certo grau de intimidade. Olho pela janela e vejo inúmeros lugares os

35 quais já visitei em outros sonhos; vejo cenas de prédios altos com luzes no topo e fogos de artifício sobre eles, em comemoração a algo, talvez o ano novo, não sei bem, mas sei que já havia visto aquelas cenas em sonhos anteriores.

Apesar da viagem longa, ainda estava de noite quando estacionamos em uma casa aparentemente desconhecida, de cor bege. A rua se encontrava bem movimentada. A casa tinha pouca iluminação, havia uma área logo na porta de entrada, onde poderia estacionar um carro lá dentro, mas o carro me deixou logo alí na rua e se foi.

Em frente à casa, a observá-la, vejo mulheres, várias, caminhando em fileira com um vestido e chapéu típico do século XVI a entrar, não em direção a porta da frente da casa, mas em direção ao beco da casa, entre o muro e a casa. Me trouxe a impressão de velório, não sei bem, fiquei inquieto com esta imagem, mas não a compreendia quando a vi.

Entro dentro da casa. Havia pouco móveis, ouvia vozes vindo da cozinha. Em seu interior, parecia uma típica casa da cidade de Assu, onde é por sinal, minha terra natal, até um pouco parecida com a da minha família onde vivi maior parte da vida. No entanto, havia um cômodo diferente, onde seria o meu quarto, o qual sempre dormi com minha irmã, era um pequeno banheiro. Algo me induzia a me aproximar desse cômodo, ouvia som de um chuveiro ligado, sabia que havia alguém lá dentro e eu precisava descobrir que era. Ao mesmo tempo, sentia a intuição que algo também me esperava em um quarto logo mais à frente. Nesta indecisão, opto por me aproximar do que estava mais próximo de mim, o banheiro.

Quando me aproximo, abro lentamente a porta, vejo que que a luz está apagada e do escuro, por trás da porta desse banheiro, surge um ser bem assustador. Era um homem negro, despido, com a aparência desagradável, de poucos pelos no corpo e bastante calvície, muitíssimo alto, bastante magro, com braços e pernas longas. De imediato, ao meu redor, surge pequenas imagens, pode-se dizer, que eram parecidas com pequenas projeções, do tamanho da tela de um celular flutuando alí próximo de nós. Nestas imagens, haviam cenas de festas, de consumo de álcool e libidinosas. Este ser, mesmo sem falar, parece me convidar a entrar no banheiro; toco seu rosto e me recuso a entrar. Me afasto

36 e no mesmo instante, um outro ser, também figura masculina, aparece por trás da porta. Mais um homem negro e despido, desta vez, com a aparência bastante próxima aos padrões de beleza impostos. Corpo bem definido, altura mediana, rosto harmonioso, cabelos cacheados e bem tratados. E mais uma vez me parecem convidar-me a entrar. Mais uma vez, me recuso. Senti, naquele momento, que algo estava errado e que parecia ser algum tipo de armadilha. Recuo e me afasto.

Decido então, seguir em frente e ir em direção ao quarto a frente em que fortalece mais ainda a sensação de que dentro adentrar nele. Caminho e logo a frente, estou de encontro a um quarto bem iluminado, com uma janela ao fundo oferecendo uma vista de luz solar, me surpreendi, pois, antes de entrar na casa estava de noite. Neste quarto, havia duas camas de solteiro, bem arrumadas e ao redor bastante organizado. Em umas das camas, a mais distante, próxima a janela, se encontrava um bebezinho cheio de pequenos pontos luminosos ao seu redor, o deixando com uma imagem turva, dificultando um pouco a visão de seu rosto. Me esforcei por muitas vezes para enxergar, talvez o meu sobrinho mais novo, mas não parecia ser ele, era uma representação distinta e luminosa, era eu mesmo, o self.

O bebezinho estava dormindo tranquilamente sobre um travesseiro. Me aproximo e me agacho próximo a ele e o observo. Daí, decido colocá-lo em meus braços, o toco vagarosamente. Aos poucos vou retirando-o do travesseiro ao qual estava deitado, com um pouco de dificuldade, tento suspendê-lo a vir para os meus braços. Quando o retiro, algo o faz desequilibrar e ele parece cair dos meus braços. Tento agarrá-lo para assegurá-lo, mas antes mesmo de cair dos meus braços, o sonho é interrompido pois o susto me fez acordar. Quando abro os olhos, me dou conta de que estou deitado com meus braços erguidos para cima em direção ao teto, como se estivesse pronto para assegurar que o bebê caísse em meus braços.

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