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A escolaridade se apresenta como um tema central na determinação dos salários dos indivíduos. A teoria do capital humano, mais especificamente, tem contribuído para preencher lacunas quanto às razões para os diferenciais de rendimentos vislumbrados no mercado de trabalho. Assim, a representação da escolaridade para capturar esses diferenciais salariais seguia o padrão anos de estudo do indivíduo. No entanto, novas abordagens possibilitaram condicionar outros fatores à escolaridade, como a correspondência entre a escolaridade do indivíduo e ocupação que o mesmo desempenha no mercado de trabalho.

Dado a expansão de novas oportunidades de análise, o intuito desse trabalho foi de explorar as particularidades da incompatibilidade educacional sobre os rendimentos no mercado de trabalho brasileiro. Para tanto, buscou-se aprofundar a análise ponderando os setores de atividade econômica e os gêneros. Assim, o problema a ser investigado foi baseado na seguinte questão: quais os reflexos nos rendimentos dos trabalhadores dado a incompatibilidade nos setores primário, secundário e terciário da economia brasileira em ambos os gêneros? A problemática concernente a incompatibilidade é verificada tanto em países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento, e os resultados dessa situação, à nível do trabalhador, é de perda salarial. A literatura econômica que lida com essa realidade verifica que a melhor situação para o trabalhador, em termos salariais, é estar compatível no quesito escolaridade adquirida e a requerida pela ocupação desempenhada.

No Brasil, a busca por melhor qualificação, condicionada à melhores prospectivas de emprego/rendimento, tem contribuído para a evolução média dos anos de estudos da população. Diante disso, faz-se necessário avaliar os reflexos desse maior nível educacional no mercado de trabalho. Ainda não há um consenso quanto às explicações para a situação de incompatibilidade, podendo estar atrelada à situações temporárias ou representar uma ausência de qualificação necessária. Assim, apesar da ausência de consenso quanto ao seu advento, a verificação dos reflexos da incompatibilidade sobre os rendimentos dos trabalhadores suscita espaços para explorá-la.

Dessa forma, acredita-se que o presente trabalho pôde contribuir em demonstrar os reflexos que a incompatibilidade fornece ao mercado de trabalho brasileiro. Sendo que ao restringir por gênero e atividade econômica nos dois períodos de tempo, percebeu que à respeito da incidência houve aumento na proporção de mulheres e homens sobreeducados e adequados e redução de subeducados de 2004 a 2014, em todos os setores. Apesar de as taxas evidenciarem o desajuste entre ocupação e a escolaridade possuída pelos trabalhadores no Brasil, as mulheres

estão em melhores condições que os homens no que tange a compatibilidade. Isso porque, em 2014 aproximadamente 40% das mulheres estavam adequadas com relação a escolaridade exigida pela ocupação contra 31% dos homens em igual situação. Fato que pode ser compreendido devido ao aumento da escolarização das mulheres (OLIVEIRA E COLOMBI, 2015).

Com relação ao efeito nos rendimentos dos trabalhadores, utilizou-se dois métodos existentes na literatura (DUNCAN E HOFFMAN, 1981; VERDUGO E VERDUGO, 1989). Mediante a isso, pode-se concluir que apesar da utilização de diferentes métodos para mensuração das variáveis de incompatibilidade, os resultados apresentados são similares com relação aos impactos causados nos rendimentos dos trabalhadores. Em todos os casos analisados, a situação em que o indivíduo está adequado com relação ao nível de escolaridade possuído e o exigido pela ocupação, proporciona melhores ganhos nos rendimentos para o trabalhador.

Em uma análise por setor e por gênero, os resultados estimados no ano de 2004 mostrou que o setor primário se distancia dos demais setores, se analisado as mulheres sobreeducadas e os homens sobre/subeducados. O efeito do rendimento nesse setor é positivo, indicando que ser sobreeducado ou subeducado é melhor do que ser adequado. Essa constatação é plausível, uma vez que no setor primário outros fatores podem se sobrepor à escolaridade, como a posse de terras, o esforço dedicado ao trabalho e os conhecimentos agrícolas, por exemplo. No setor secundário, a inferência se faz apenas para a situação da subeducação, e percebe-se que a penalidade na renda associada é maior para as mulheres do que para os homens. Quanto ao setor terciário, a incompatibilidade reproduz os decréscimos salariais em ambos os gêneros, além do setor apresentar a penalidade da subeducação como a mais severa.

A mesma análise, mas para o ano de 2014, indicou uma redução na penalização da incompatibilidade de uma forma geral. O setor primário manteve a mesma dinâmica para os homens. No setor secundário as mulheres sobreeducadas sofrem maiores penalidades salariais que os homens, no entanto, a dinâmica se inverte para a situação de sobreeducação. É interessante notar que no setor terciário a maior penalidade nos rendimentos é associado aos homens.

De forma geral, evidencia-se que as penalidades ao longo dos anos diminuíram. Em média, o setor primário é associado a remuneração de outros quesitos que nem sempre estão relacionados diretamente a escolaridade formal. O setor secundário reproduz decréscimos salariais semelhantes para homens e mulheres. No entanto, os homens setor terciário eram os que detinham as maiores penalidades nos rendimentos.

Assim, apesar de ter sido possível responder à questão central desta pesquisa, outros questionamentos foram suscitados ao final da investigação, a saber: (a) a migração e a imigração estariam contribuindo para intensificar o problema de sobre/subeducação? E de que forma a qualidade no ensino no país contribui para a manutenção dessas incompatibilidades. Pois acredita-se, assim como Santos (2002), que a educação oferecida pode não estar proporcionando aos indivíduos condições de se integrar ao sistema produtivo do país; (b) existem transformações significativas nas incompatibilidades em períodos de crise econômica? Destarte, como proposta para futuras pesquisas sugere-se: avaliar a mobilidade em períodos de instabilidade econômica como o período de crise, isso porque acredita-se que na presença de tal fenômeno as incompatibilidades podem desencadear uma dinâmica diferente da apresentada no presente estudo, haja vista que os indivíduos estão sujeitos a fatores externos a própria escolaridade.