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Este trabalho começou por uma questão pessoal. Por eu sempre ter estudado em escolas tradicionais, onde o movimento só era permitido nas aulas de educação física ou então nos recreios, cresci sentindo muita falta de poder me movimentar mais, de brincar com maior liberdade e de poder interagir mais com as outras pessoas. Foi só depois de entrar na faculdade, e de trabalhar com crianças que realmente comecei a ver como o movimento é essencial para a vida dos seres humanos, e que a falta dele pode causar mais danos do que eu imaginava, por isso resolvi elaborar uma pesquisa empírica onde procurei entender melhor a questão do movimento e buscar: compreender se o movimento era parte constitutiva da aprendizagem e do desenvolvimento da criança; como se dá o processo de aprendizagem pelo movimento e identificar como o movimento é compreendido e trabalhado pelos professores da Educação Infantil.

Assim, a partir das premissas levantadas neste estudo, constatei que realmente os movimentos são fundamentais para a vida das crianças biologicamente, psicologicamente e socialmente, pois o movimento faz parte da vida do ser humano e o corpo representa para a criança a sua maior via de comunicação e expressão; é a partir dele que a criança expressa o que pensa, sente e deseja.

Como diz Mukhina (1996, p. 88) “todos esses movimentos e ações são degraus

que conduzem às formas de comportamento que caracterizam o homem”. Logo, através

do movimento a criança vai aprendendo a ter autonomia, confiança em si própria, interage com o mundo e vai construindo sua personalidade. Hoje posso afirmar que o movimento deve ser explorado e vivenciado pela criança, porque eles são a base para o desenvolvimento e para a sua aprendizagem.

Aquilo que a criança vivencia durante os seus primeiros anos tem uma repercussão muito importante na sua vida, e é por isso que nós, educadores, temos que dar muita importância a esse período para poder proporcionar um desenvolvimento saudável e um aprendizado realmente valioso para a criança. São as primeiras experimentações, explorações, relações de confiança, contato, comunicação que vão ser de máxima importância para criança.

As escolas devem trabalhar com atividades de movimento possibilitando um rico repertório motor, principalmente nos dias atuais, em que as crianças sofrem tanta privação de espaço e tempo para brincar.

Em cima desta idéia foi que partimos da hipótese de que: Os professores nem sempre tem clareza da relevância do movimento para aprendizagem e desenvolvimento da criança na Educação Infantil.

Aplicamos um questionário a cinco professores e as respostas mostraram que, de fato, muitos professores realmente não possuem clareza quanto a importância do movimento e acabam desvalorizando-o, embora existam professores, como os da Escola do Futuro, que não só sabem de sua importância como valorizam-no, estimulando as crianças através do movimento e da ludicidade.

Como pudemos ver nos capítulos deste trabalho, com o movimento lúdico desenvolvem-se os aspectos cognitivo, afetivo-social e motor conjuntamente, sendo uma forma mais saudável e motivadora de garantir um desenvolvimento global da criança, ou seja, um desenvolvimento onde inclua todos os aspectos importantes do ser humano de uma forma harmônica. É um modo de motivar, socializar, refletir e construir conhecimento. É preciso, então, compreender todas as necessidades da criança, estimulá-la e, principalmente, deve contribuir para que ela se desenvolva harmoniosamente, levando para a vida adulta uma imagem positiva da sua infância, de si própria, de seu corpo e do mundo em que vive.

O movimento precisa ser trabalhado para que desenvolva o individuo integralmente, porque “o foco é sempre a criança por inteiro, com emoções, com

sentimentos, com expressões, com dificuldades, com facilidades, com expectativas, ávida em dar sua opinião, com sugestões e vontades, com medos, com limites, com timidez, com agressividade, etc” (MELLO, 2001, p. 98).

Através desta pesquisa também foi constatado que o movimento não pode ser visto somente como algo relacionado ao aspecto físico, isto é, não pode ser visto separadamente dos aspectos emocionais, cognitivos e sociais, já que através dele a criança se desenvolve e aprende de todas as maneiras. Educar deve, portanto estar sempre dentro de uma totalidade; deve-se educar pessoas inteiras fazendo interagir todas as dimensões da vida do ser humano.

A valorização pelo educador do movimento, do lúdico, dos jogos e brincadeiras torna o espaço de sala de aula adequado ao desenvolvimento da criança, assim como a aprendizagem dos conhecimentos escolares. E, levando-se em consideração que esses aspectos são inerentes à criança, as escolas deveriam utilizá-los como ponto estratégico no desenvolvimento físico e intelectual do aluno.

Se o professor tiver consciência de que enquanto se movimentam ludicamente as crianças também adquirem conhecimentos úteis e interessantes, desabrochando assim para a vida e ficando mais fácil aprender outros conteúdos dados em sala de aula, já terá dado um grande salto qualitativo. O professor precisa confiar nele mesmo e acreditar no que esta fazendo, porque “se não tiver clareza do sentido das atividades

que desenvolve com as crianças e, ainda, se não identificar nas suas ações qual a intencionalidade que esta imprimindo a essa atividade, pode adotar como concepção de trabalho aquela que lhe é mais cômoda em relação ao contexto em que exerce sua função” (MELLO, 2001, p. 64).

Precisa compreender o que as crianças necessitam para que seja o mediador da criança com os objetos de conhecimento, “organizando e propiciando espaços e

situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais e cognitivas” (Brasil, 1998, p. 30).

O espaço, o ambiente e a organização das matérias também são fundamentais para o desenvolvimento integral da criança. A criança interage com o meio, então deve se sentir protegida, amparada e segura para arriscar, explorar e aprender mais sobre si mesma, sobre os outros e sobre o mundo à sua volta. O educador deve também usar a seu favor o ambiente e o espaço na construção das relações afetivas e, ser o mediador entre a criançae o conhecimento.

Em suma, devo trabalhar com a criança, tomando como ponto suas características individuais e aquilo que ela precisa em forma de estímulos para o seu crescimento e desenvolvimento, de forma a poder possibilitar-lhe fatores fundamentais como a criatividade, a autonomia e a segurança. Isso significa redimensionar as atividades pedagógicas na aprendizagem infantil, onde o movimento lúdico representa a oportunidade da criança se desenvolver, aprender e viver de uma forma mais gostosa, participativa, alegre e saudável.

REFERÊNCIAS

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BRASIL, Ministério da Educação e do Deporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Volume 3: Conhecimento de Mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998;

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