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No presente trabalho procurou-se fazer um estudo mais aprofundado da transação penal. Inicialmente, fez-se um breve apontamento sobre a justiça consensual e sua influência para a criação, no Brasil, dos Juizados Especiais Criminais.

Viu-se que o Direito Penal deve ser utilizado apenas como ultima ratio, não podendo ser este o ramo jurídico o primeiro socorrista dos problemas oriundos e inerentes à sociedade.

A descriminalização e a despenalização são reflexos do atual momento pelo qual passa o sistema penal, que já há muito não se mostra eficiente no combate à criminalidade, nem com relação à pequena criminalidade (a de “bagatela”), nem à grande.

Os Juizados Criminais surgiram como resposta a este momento, como uma forma de se implementar meios consensuais de resolução de conflitos penais, deixando-se de lado a ideia da necessidade de pena privativa de liberdade. Para tanto, a Lei nº 9.099 inovou quanto à criação de três mecanismos que, procurando solucionar o conflito, o faz de forma a não se socorrer à privação de liberdade: a composição civil dos danos, a suspensão condicional do processo e a transação penal.

Quanto a essa última, que faz parte do objetivo principal deste trabalho, indicou-se alguns dos conceitos que a doutrina lhe aponta. O que resta claro é que a transação penal é instituto de natureza bilateral, sendo decidida entre o órgão do Ministério Público e o acusado. Isso não quer dizer que o magistrado ocupa mera posição homologatória, mas que não lhe é permitido intervir na discricionariedade do Ministério Público quanto à oferta da proposta, nem tampouco tentar impelir o acusado a aceita-la, posto que tal decisão é personalíssima.

No entanto, viu-se também que, como forma de garantir ao acusado o pleno direito à ampla defesa, o legislador achou por bem condicionar a homologação da proposta ao aceite tanto do interessado quanto de seu defensor, seja ele nomeado ou constituído. Quando ambos discordarem sobre o aceite ou não da proposta, deverá prevalecer a vontade do acusado, posto que o que está em jogo é seu interesse.

Viu-se, ainda, que, mesmo não sendo mera importação de entidade estrangeiro, a transação penal guarda certas similitudes com alguns institutos de outros ordenamentos. O que fica claro é que em todos há a relativização do princípio da obrigatoriedade de oferecimento da ação penal, princípio este direcionado ao Ministério Público. Não poderia ser diferente, posto que para transacionar, é necessário que o Parquet possua alguma liberdade quanto à propositura de opções outras que não seja a ação penal, com vistas ao encarceramento.

A Lei 9.099/95 trouxe grandes inovações, dentre as quais se destacam a maior importância dada aos princípios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade. Outra grande virtude é a mudança de paradigmas: passa- se a priorizar medidas alternativas de pena, em detrimento da privação de liberdade. Analisou-se os requisitos da transação penal, mesmo que sem muita profundidade, visto que a lei parece não deixar, neste ponto, nenhuma brecha para grandes discussões.

Por outro lado, observou-se que, em certos pontos, o legislador foi negligente.

Ao utilizar-se da expressão “poderá”, no caput do art. 76, da Lei nº 9.099/95, deixou brecha para interpretações conflitantes. Em decorrência deste “descuido”, acabou por criar na doutrina discussão sobre a natureza da transação penal: se é direito subjetivo do acusado, ou se está limitado à discricionariedade do Ministério Público. Viu-se, porém, que mesmo os que defendem ser adstrito à discricionariedade ministerial, ao acusado deve ser feita a proposta, se presentes os requisitos legais.

Em outro momento, a utilização da palavra “pena”, quando deveria se referir à uma prestação alternativa (art. 76, § 4º), gera controvérsias quanto à natureza da sentença que homologa a transação penal. Não se pode falar em “pena”, quando não houve processo. Isto gera certa celeuma, pois alguns entendem ser a sentença de natureza condenatória, e outros, de natureza homologatória, sendo esta posição a mais aceita.

Ainda com relação à transação penal, foram apontados os elementos e requisitos para sua aplicabilidade, estando dispostos na legislação, em especial no art. 76. Tratou-se do procedimento da transação penal, apontando-se a intenção do legislador em provê-lo de informalidade, economia processual e celeridade,

buscando, sempre que possível, a reparação dos danos porventura sofridos pela vítima.

No último capítulo, fez-se uma análise de dados levantados em pesquisa de campo, realizada no Juizado Especial Criminal de Imperatriz.

Após análise dos referidos dados, depreende-se que, aparentemente, não há uma necessária ligação entre o cumprimento ou não do acordo com a presença, durante sua celebração, de defensor.

Não ficou evidente grande diferença de cumprimento ou não a partir do fato de o acusado estar ou não acompanhado quando da homologação do acordo. Ficou clara, no entanto, a importância de a parte constituir defensor, posto que na imensa maioria das vezes em que o acordo foi recusado, o recusante fazia-se acompanhar por advogado contratado.

Fica clara a necessidade de o órgão no qual se fez a pesquisa adotar medidas que visem a correta utilização do sistema de que dispõem, a fim de que este se mostre capaz de indicar, quando necessário, quantos e quais procedimentos estão, por exemplo, em situação de atraso no cumprimento. Não sendo questão apenas de utilização do sistema, mas sim de impossibilidade mesma de este emitir tais tipos de informação, caberia ao Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão implementar tal recurso no sistema, dotando-o de mais essa possibilidade, o que, por certo, tornaria muito mais célere a verificação e acompanhamento das transações homologadas.

Resta evidente, também, a necessidade de um estudo mais aprofundado acerca da temática, de aplicação empírica, em especial junto aos agentes que atuam na situação, inclusive os jurisdicionados.

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ANEXO A – Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1.995

LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.

Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I Disposições Gerais

Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência. Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

[...]

Capítulo III

Dos Juizados Especiais Criminais Disposições Gerais

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006)

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Seção I

Da Competência e dos Atos Processuais

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei. § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.

§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.

Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei. Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.

Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.

Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

Seção II Da Fase Preliminar

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.

Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.

Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.

Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82