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Deixando o contexto específico em que viveram Mosca e Pareto, deixando a época que surgiu a teoria das elites e, principalmente, retirando a carga valorativa que existe na proposição de que em toda a época sempre existirá uma minoria organizada, frente a uma maioria desorganizada, colocando assim questões às democracias modernas, e colocando questões para os estudos de diversos grupos que ocupam posições no topo da hierarquia social, ou seja, colocar a questão do

Quem Governa? Procurando caracterizar essas elites, não somente em relação a

sua ação política, pois se perde todo um aparato anterior que muitas vezes motiva essas ações, i.e., as características dessa elite, demonstrando, ou não, homogeneidade e coesão desses grupos de destaque na sociedade. Uma teoria que no passado, como foi demonstrado, estava atrelada a interesses políticos específicos, como uma corrente anti-democrática e anti-comunista, nos dias de hoje, retirando toda a carga normativa, apresenta-se como um método, uma linha que norteia determinados estudos na sociologia política.

1 4,8% 3 14,3% 8 38,1% 2 9,5% 2 9,5% 2 9,5% 3 14,3% 21 100,0% Esquerda Centro-esquerda Centro Centro-direita Direita Extrema-direita NR Total F %

Faz-se necessário, nesse momento, uma retomada aos diversos dados apresentados neste trabalho, mas de forma direta, apontando os principais e os articulando com a teoria.

Os primeiros dados apresentados são referentes à trajetória política da elite empresarial paranaense. Como essa questão é normalmente voltada a uma elite política, sendo que a elite tratada aqui não se caracteriza só por essa atividade, ocorreram algumas perdas de informações empíricas, pois foram colocadas questões de atividade política específicas, como pertencimentos a partidos, ocupação de cargos públicos, sendo que uma pequena parcela desta elite participou desta trajetória pública, não sendo esta via que possibilita o acesso da elite empresarial ao cargo de presidente das entidades. Mas, por outro lado, conseguiu- se captar que existe uma via de acesso que facilita a chegada no topo. Evidencia-se isso ao observar que 17 (81%) dos 21 entrevistados, já haviam ocupado cargos de direção em outras entidades de representação empresarial e, mais da metade (52,9%) ocuparam o cargo de presidente dessas entidades previamente, número que sobe para 70,5% ao agregar presidente e vice-presidente.

Estes dados mostram uma característica da elite, que se refere a experiência prévia que os indivíduos possuem antes de ocupar o cargo, ou seja que existe toda uma trajetória prévia, ocorrendo um afastamento da atividade da política pública, mas uma homogeneidade de determinadas vias específicas para esta atividade de representação empresarial. Sendo assim a questão metodológica de

vias de acesso que facilitem a entrada na elite foi evidenciada, sendo até mais

específica, pois se coloca uma via de acesso, o pertencimento prévio a cargo de direção de outras entidades, colocando-se um peso ao 2 cargos mais altos de direção da entidade. Por se ter vias de acesso restritas, evidenciadas em uma homogeneidade de trajetória política, chega-se a uma primeira evidencia do grau de recrutamento desta elite, que tende a ser fechado.

No bloco de origem social, observa-se uma homogeneidade muito forte em relação aos atributos naturais, apesar de Keller não utilizar a religião como atributo natural, constata que as elites são muito mais homogêneas em relação a esses atributos do que aos adquiridos.

Assim, pode-se caracterizar a elite como sendo homens, brancos, católicos, ocorrendo uma super-representação dos três grupos em relação ao estado do Paraná. Outro ponto abordado é a idade do entrevistado, que em média possui mais

que 46 anos, sendo que esta informação é tanto considerada como um atributo natural, como referente a uma experiência prévia, como já foi tratada na trajetória política.

Observa-se, também, uma característica comum de local de nascimento, ou seja, uma homogeneidade de pessoas que nasceram em Curitiba, que fica mais forte quando se agrega as cidades do Paraná, corroborando um recrutamento local desta elite, tanto na capital, quanto no estado.

Ao analisar os atributos adquiridos, primeiramente referentes ao estrato social, observa-se que poucos entrevistados vieram de estratos sociais baixos, exemplificado pela origem social desses, onde apenas 3 entrevistados tem seu pai no estrato social baixo. E, ao analisarmos os indivíduos da elite, apenas 1 está no estrato social baixo, demonstrando assim um ascensão social em relação ao pai. Em relação ao grau de escolaridade a mobilidade ascendente também foi observada, mas nesse caso a ascensão social ainda é mais visível, demonstrando a característica de alta escolaridade desta elite, com 85,7% nessa categoria.

Em suma, tanto em relação aos atributos naturais, quanto aos atributos adquiridos existe uma homogeneidade dessa elite, evidenciando uma origem social comum. Essa questão se traduz em um recrutamento fechado da elite, apanhando indivíduos com atributos, tanto naturais quanto adquiridos, específicos para serem seus membros, pertencentes a grupo social determinado. Sendo que por serem deste grupo, muitas vezes possuem a mesma socialização, que, como se aborda nesse trabalho, a homogeneidade dos indivíduos que freqüentaram determinadas instituições de ensino superior e cursos de graduação semelhantes.

Esses aspectos abordados até aqui caracterizam a elite desse estudo, mostrando sua homogeneidade diante das questões anteriormente tratadas, e evidenciando o padrão de recrutamento existente nessa elite. Já quando são abordadas as questões de coesão das elites frente aos seus valores políticos, procurou-se encontrar as crenças das elites, pois é a partir delas que as elites organizam a sua ação (DAHL, 1995). Portanto serão retomadas as questões onde se constata a coesão dessa elite, para, assim, caracterizá-la.

Apesar de tratar apenas da coesão, não se pode deixar de lado o aspecto importante da análise dos valores políticos que é o fato de que a existência de uma dada coesão não significa a inexistência de aspectos nos quais esta elite possa não

ser tão coesa, dado que foi constatado, em menor escala, a divisão e a dispersão das opiniões dos entrevistados frente a algumas questões24.

Embora este estudo não contemple as ações concretas da elite empresarial e priorize as suas atitudes frente à política e a democracia, observa-se um alto grau de adesão à democracia com o mesmo número de entrevistados (81%) que tanto concordam que a democracia é a melhor forma de governo, quanto concordam que o Brasil é hoje uma democracia. Mas sobre a concepção dessa democracia, a maioria (95,2%) a entende como sendo de forma delegativa, onde haja apenas a participação pelo voto, e, em menor escala aceitam outras formas mais participativas, tais como o orçamento participativo, o plebiscito e a participação direta nas decisões políticas.

A elite empresarial paranaense pode ser caracterizada com uma tendência a ter uma postura mais conservadora ou liberal, ou seja, reticente em relação às formas de participação política e defensora da idéia de que o Estado não deve controlar a economia, mas atender aos serviços básicos para a população, pois, apesar de estarem cientes de diversos problemas sociais como a segurança pública, a desigualdade de renda e o analfabetismo, e de considerá-los como obstáculos à democracia, atribuem ao Estado o dever de cuidar desses assuntos. Entretanto, se no aspecto econômico da relação entre sociedade, mercado e Estado a postura é mais liberal, ela não deixa de sê-lo quando se é considerada também no sentido

político, vide a preferência da liberdade (61,9%) em detrimento da igualdade

(28,6%), mostrando também que, apesar da adesão à democracia, não há uma preocupação com a promoção da igualdade como condição de sua sustentação. Essa questão é evidenciada quando questionados sobre políticas que promoveriam algum tipo de inclusão social (cotas para negros, reforma agrária, renda mínima etc.), e se mostraram contrários a praticamente todas, com exceção da universalização da saúde pública.

Por fim, todas as características expressas por esta elite, não deixam de ser um reflexo da sua posição no espectro ideológico, que apesar de existir uma maioria que se aproxima do centro, tanto na centro-esquerda, quanto na centro-direita, há casos de direita e extrema-direita.

24 Entre os exemplos de aspectos não coesos dos valores da elite empresarial paranaense, estão a

Em suma, ao realizar um estudo baseado na Teoria das Elites com um grupo que não possui apenas uma natureza política, que é o caso da elite empresarial, surgem mais questões do que respostas. Por isso este trabalho é mais um ponto inicial do que um ponto final, pois este campo ainda é virgem em produção e estudos científicos, tendo pouco material de diálogo que trata do tema ou que o aborda com o mesmo rigor metodológico. Algumas questões que este trabalho suscita é, em primeiro lugar a importância de estudos sobre as elites de um modo em geral, não considerando apenas a elite política, e sim todos os grupos que ocupam postos-chave na hierarquia social. Em segundo lugar a importância de estudos sobre as dimensões locais ou regionais da política como um todo, como realizar um estudo com entidades que se encontram no em outras cidades que não sejam a capital do estado, para identificar as possíveis diferenças entre capital e interior. Em terceiro lugar, tentar verificar como se dá, e testar algumas inferências sobre, a circulação das elites que foram sugeridas acima (Ver TABELA 2), abordando também mais questões de socialização intra-elite empresarial e intra- elites de um modo geral. Em quarto lugar, a partir das atitudes e da caracterização da elite testar a sua coerência, analisando o seu comportamento, ou seja, a sua ação.

Por fim, pudemos verificar que a recorrência aos estudos e às metodologias de pesquisa sobre elites políticas nos permite uma melhor e mais profunda caracterização dos líderes empresariais, ao menos daqueles que ocupam cargos em entidades de representação, bem como um uso sociologicamente mais interessante para certas expressões correntes nas análises sobre o assunto. Este tipo de estudo pode inclusive trazer contribuições tanto para a própria análise das elites políticas, quanto para as pesquisas sobre o empresariado, em particular no que diz respeito à relação entre este grupo social e a questão do funcionamento da democracia e de suas instituições, e também o estudo de sua ação concreta frente ao funcionamento do regime político democrático, contribuindo, portanto, para uma Sociologia Política da democracia no Brasil.

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