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1 INTRODUÇÃO. 1 O conceito de elite empresarial paranaense será detalhado adiante.

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Academic year: 2021

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1 INTRODUÇÃO

Essa monografia é um dos resultados de uma pesquisa mais ampla: “Quem

governa? Mapeando as elites políticas e econômicas no Paraná contemporâneo”,

que está ligada ao Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná. Nessa pesquisa, procura-se mapear as elites dentro do estado do Paraná, tendo assim duas frentes: uma política, que abrange os principais cargos do executivo, os deputados federais e os presidentes de partidos com representação na assembléia legislativa; e outra frente que se dedica aos presidentes de entidades de representação empresarial. Nessa monografia será tratada somente desta segunda elite, a elite empresarial paranaense1.

Qual seria a validade do estudo de elites? Para o marxismo, não faz sentido querer saber quem governa, pois tanto faz quem ocupa os cargos da burocracia, pois a função objetiva do Estado, que é reproduzir o capitalismo, está sendo cumprida. Dessa forma se faz uma sociologia dos efeitos políticos e não dos agentes, um exemplo disso é a questão baseada em qual é a reprodução social das políticas públicas, não importando quem as formula (THERBORN, 1989). Já os teóricos da escolha racional atribuem uma racionalidade aos políticos, que procuram os meios mais adequados para atingir seu fim, maximizando seus objetivos, que seria o caso da reeleição, pautando, assim, todas as suas ações para atingir este objetivo (DOWNS, 1997).

Ao tratar da elite empresarial, observa-se que poucos estudos são dedicados a esta parcela da sociedade que é minoritária, mas que ocupa um espaço privilegiado dentro dela. Apesar de se constituir em uma minoria, não se pode retirar a validade do objeto, como mostra Almond e Powel (1980) quando atribuem um valor fundamental para o estudo da cultura política da elite para se ter conhecimento de como esta conduzirá o regime democrático. Dahl (1997) enfatiza o sistema de crenças elaborado que as elites possuem, sendo assim possuem uma maior capacidade de agir politicamente. A partir dessa questão se colocam três razões que justificam o estudo de elites. A primeira seria referente à relação que existe entre as elites políticas e as decisões políticas. Considerando que a “elite A” tenha uma

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“decisão X” que produza o “efeito1”, não se pode cair no voluntarismo, como ocorre com o marxismo, que haja uma ligação direta entre a “elite A” e o “efeito 1”, pois os efeitos não são relacionados com as intenções da “elite A”, esta não tem a capacidade de prever o que irá acontecer no futuro. Mas diferentes elites produzem efeitos diferentes, por isso saber a natureza da elite é importante para entender a sua decisão, dessa forma ocorre uma ligação da “elite A” com a “decisão X”, não ocorrendo mais uma relação de causalidade direta entre a “elite A” e o “efeito 1”. A segunda questão que defende o estudo da natureza das elites se refere às opções que estas tomam no processo político, identificado principalmente em processos de mudança onde surgem novas elites, com opções alternativas, para um mesmo acontecimento2. A última razão está no fato da possibilidade de estabelecer uma relação entre as elites políticas e a estrutura social, como se as elites políticas fossem um sismógrafo das mudanças sociais, onde as mudanças nas elites significariam mudanças nas estruturas, necessitando neste caso de um estudo diacrônico (PUTNAM 1976). Depois de colocados esses tópicos, defende-se a necessidade de colocar uma questão anterior à análise da ação política propriamente dita, a questão da caracterização dos agentes dentro do processo decisório.

Neste ponto encontra-se o objetivo desse trabalho que é apresentar uma caracterização da elite empresarial, e a partir disso defender esse tipo de abordagem do empresariado e de sua elite, e, de outro, colocar algumas problemáticas típicas dos estudos sobre elites políticas3. Apesar disso não estamos colocando uma abordagem em oposição à outra, pois só a caracterização dos agentes não está completa sem uma posterior análise da ação, bem como uma análise do processo decisório sem saber quem são os agentes que dele participam é incompleta.

Por se tratar de uma pesquisa empírica, certas delimitações nos são impostas, por isso esse trabalho possui um recorte abordando apenas o estado do Paraná nos anos de 1995 a 2005. Sendo assim foram escolhidas algumas entidades de representação empresarial de maior influência dentro do estado, tomando o devido cuidado para contemplar tanto as entidades de caráter associativo quanto sindical, como também os diversos setores de atividade empresarial. O critério de

2 Como é o caso de CARVALHO que será tratado na revisão bibliográfica. 3 Essas questões serão detalhadas mais adiante ainda na introdução.

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escolha dos entrevistados foi guiado pelo método posicional4, utilizado tanto em estudos clássicos (MILLS, 1985; MILIBAND, 1982), quanto em pesquisas mais recentes sobre o caso brasileiro (CARVALHO, 1996; LOVE, 1982). Esse método consiste em conceituar a elite pela posição de direção dentro das instituições, sendo elite os que ocupariam os cargos máximos dentro de uma hierarquia institucional, dessa forma ocupar as posições estratégicas de determinadas instituições equivale a tomar as decisões (MILLS 1985). Portanto adotamos essa definição como elite empresarial neste trabalho, i.e. os presidentes das entidades de representação empresarial. É claro que o processo de tomada de decisão é complexo e seria simplista dizer que somente os presidentes das entidades exercem influencia na decisão final, mas pelo contrário não seria uma presunção aceitar que, nestes casos, aquele que ocupa o cargo máximo realmente detém poder, devido ao grau de institucionalização destas entidades. Outra questão é que este método geralmente é utilizado para o estudo de cargos públicos ou estatais, sendo que esta elite possui uma natureza tanto econômica — os empresários —, quanto política, — os dirigentes de entidades que representam interesses do empresariado frente à sociedade e o Estado.

Assim foi definido um universo de onze entidades. Torna-se necessária uma caracterização, ainda que breve, das entidades contempladas pela pesquisa, no sentido de se obter um quadro aproximado do âmbito de seleção e atuação desta elite empresarial, permitindo maior precisão no alcance das inferências. Não se trata aqui, em todas suas implicações, da questão da representação política. Portanto, não foi feita uma análise detalhada dos setores que efetivamente as entidades representariam, dado que isso exigiria uma análise de sua agenda de interesses e de sua ação política.

Apresenta-se abaixo uma caracterização das entidades de acordo com os setores e segmentos que elas representam, a partir do seu auto-posicionamento, ou seja, na descrição que elas próprias fizeram de seu campo de representação e atuação (ver TABELA 1). As entidades contempladas estão entre as mais importantes do estado, atuam tanto em âmbito estadual quanto nacional, representam os setores mais importantes da economia do estado e são de natureza tanto sindical quanto associativa, com predominância daquelas deste segundo tipo.

4 Existem outros métodos, como é o caso do decisional (DAHL 1970), que será apresentado na

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Dois aspectos convêm ser destacados em relação à inclusão do Instituto Liberal. Em primeiro lugar, sua existência no Paraná se deu entre os anos 1995 e 1998 e, embora não seja especificamente uma entidade de representação do empresariado, se caracteriza pela tentativa de difundir uma visão liberal da sociedade, da economia e do Estado, portanto, está relacionada à questão dos valores políticos.

TABELA 1

ENTIDADES E RESPECTIVOS SETORES DE REPRESENTAÇÃO

ENTIDADES SETOR REPRESENTADO

ACP – Associação Comercial do

Paraná Setores comerciais diversos de pequeno e médio porte

APEOP – Associação Paranaense de

Empresários de Obras Públicas Setor imobiliário - atende os segmentos de construtoras, imobiliárias e administradoras ADEMI-PR – Associação dos

Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná

Setor de obras públicas APRAS – Associação Paranaense

dos Supermercados

Setor de atividades no sistema de venda de produtos alimentícios e bens de consumo em geral FACIAP - Federação das

Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná

Associações principalmente do setor do comércio, com destaque para o segmento varejista, com o porte de micro-empresário

FAEP – Federação da Agricultura do

Estado do Paraná Sindicatos rurais

FECOMÉRCIO – Federação do

Comércio do Estado do Paraná Sindicatos do comércio de bens, serviços e turismo FIEP – Federação das Indústrias do

Estado do Paraná

Sindicato da Indústria, com destaque para o segmento de alimentos, atendendo todos os portes de indústrias

IL – Instituto Liberal do Paraná Não se aplica SECOVI – Sindicato da Habitação e

Condomínios Sindicato de imobiliárias e condomínios

SINDISEG-PR – Sindicato das Empresas de Seguros Privados e Capitalização no Estado do Paraná

Sindicato de seguradoras privadas, entre eles o HSBC

Em relação ao número de entrevistados, ou seja, os que ocuparam o cargo de presidente, das entidades a cima, no período de 1995 a 2005, temos um universo de 35 presidentes, destes 21 foram entrevistados. Como foi colocado anteriormente, foram contemplados no universo 3 presidentes de atividade industrial, 8 do comércio, 1 da agricultura5 e, as demais atividades, ao todo contam com 9 entrevistados6. Referente à natureza das entidades temos 13 presidentes de

5 Apesar de ser composta por apenas um presidente, é necessário fazer uma ressalva que este

ocupou a presidência da FAEP durante todo o período estudado.

6 Foi dado destaque à indústria, comércio e agricultura, pois estas atividades são as que mais se

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entidades associativas e 8 de entidades sindicais. Sendo assim este trabalho possui uma boa representatividade das entidades empresariais no estado do Paraná e períodos significativos de cada entidade (Ver TABELA 2). E deve-se considerar que se trata de um estudo sincrônico e sem a pretensão de acompanhar questões como a dinâmica de constituição e circulação das elites empresariais no Paraná ou o seu grau de renovação.

TABELA 2

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS NA PRESIDÊNCIA DAS ENTIDADES

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 ACP ADEMI APEOP APRAS FACIAP FECOMERCIO FAEP FIEP8 IL SECOVI SINDSEG

Apesar de o universo ser pequeno, estatisticamente falando, tem que ser colocado um peso sociológico observando a influência e o destaque social que possuem as entidades contempladas e dessa forma seus presidentes. Por outro lado não se tem como objetivo neste trabalho, e, não se pode, fazer generalizações sobre o empresariado, pois se trata de um estudo de caso dentro de um estado, por isso todas as análises e conclusões se restringem ao grupo contemplado, e, portanto, como 60% foram entrevistados, tem-se uma representatividade significativa desta elite, não comprometendo as análises.

Os dados foram coletados através de um questionário padrão dividido em três blocos9: i) trajetória política, ii) origem social e iii) valores políticos. No bloco de trajetória política, buscam-se informações que dizem respeito dos cargos ocupados, procurando traçar uma via percorrida na representação política do empresariado e aos seus vínculos institucionais. Já no bloco de origem social as informações são

8 Em praticamente todo o período contemplado pela pesquisa, a presidência da FIEP foi ocupada por

José Carlos Gomes de Carvalho, conhecido como Carvalhinho, cuja morte em 2003 impossibilitou a sua participação. Esta entidade foi representada na pesquisa pelos seus então vice-presidentes.

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referentes à família do entrevistado, que profissão exerciam, grau de escolaridade, entre outras questões. Em relação aos valores políticos, abordam-se as opiniões mais específicas sobre o regime democrático, sobre algumas políticas públicas e alguns pensamentos políticos mais gerais.

A partir destes dados coletados e com a luz da Teoria das elites10 este trabalho tem como objetivo, primeiramente caracterizar a elite empresarial frente às três questões colocadas a cima e, após, demonstrar o seu grau de homogeneidade e coesão. Procurando, por fim, demonstrar o grau de abertura desta elite. Sobre a segunda questão, a homogeneidade será tratada em relação à trajetória e origem social, e, a coesão, frente aos valores políticos expressados. Para tanto este trabalho se inicia com a revisão bibliográfica, primeiramente, sobre a Teoria das elites e posteriormente sobre o Empresariado, onde colocamos a particularidade deste trabalho. Assim fecha-se a revisão Bibliográfica. Na sessão 3 os dados obtidos pela pesquisa são apresentados, sendo que este capítulo possui 3 divisões, cada uma referente aos blocos do questionário. Por fim, as questões de maior importância são retomadas, para estabelecer as conclusões deste trabalho.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Como foi apresentado anteriormente, esse trabalho possui duas revisões bibliográficas, a primeira, referente à Teoria das elites, onde são apresentados os trabalhos clássicos dos seus formuladores – Mosca, Pareto e Michels – mas também autores mais atuais e empíricos. Já na revisão bibliográfica sobre o empresariado, pretende-se mostrar como esse grupo foi abordado até o momento, demonstrando assim, o caráter específico desse trabalho ao conciliar a teoria das elites com o tema do empresariado.

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2.1 A TEORIA DAS ELITES

A constituição das ciências sociais como disciplina autônoma, no século XIX, foi fortalecida por diversos autores que estavam criando novas teorias e que, a partir dessas, novas pesquisas eram orientadas. Uma dessas foi a teoria das elites, que surge no final do século XIX e início do século XX, como uma crítica aos movimentos democráticos e socialista que também estavam ganhando destaque na mesma época. Essa crítica se baseia no fato de que seus principais formuladores, os italianos Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, apresentaram uma lei sociológica que “em qualquer sociedade, em qualquer grupo, em qualquer época ou lugar, havia sempre uma minoria, uma elite que, por seus dons, e sua competência e seus recursos, se destacava e detinha o poder, dirigindo a maioria.” 11 (GRYNSZPAN, 1999, p.11). E nesse caso nem o sufrágio universal impediria isso, pelo contrário, legitimaria o poder da minoria. (GRYNSZPAN 1999).

Albert O. Hirschman em A retórica da intransigência é um exemplo de oposição a idéias mais igualitárias, pois apresenta uma análise muito parecido com Mosca e Pareto, mas em relação às teses de Thomas H. Marshall. Marshall coloca três dimensões do conceito de cidadania, i)a cidadania civil, composta dos direitos à liberdade individual, ou seja, a igualdade perante a lei; ii)a cidadania política, composta do direito de participar do exercício político, que é o sufrágio universal; e iii) a cidadania social que seria alcançada pelo Welfare State. Mas Hirschman aponta três reações contrárias às investidas progressistas de Marshall: i) a tese da perversidade, que “qualquer ação proposital para melhorar um aspecto da ordem econômica, social ou política só serve para exacerbar a situação que se deseja remediar” (HIRSCHMAN, 1992, p.15); ii) a tese da futilidade “sustenta que as tentativas de transformação social serão infrutíferas” (Ibid, P.15); e iii) a tese da ameaça “argumenta que o custo da reforma ou mudança proposta é alto demais, pois coloca em perigo outra preciosa realização anterior” (Ibid, P.15). Apesar de esta questão ser mais atual, Hirschman demonstra como já estavam presentes, nas discussões científicas do século XIX, esse ceticismo referente à democracia, que é o caso de Le Bon.

11 Grifo nosso

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Gustave Le Bon publica pela primeira vez em 1895 seu livro Psicologia das

multidões, sendo outra reação clara às idéias democráticas, como mostra este

trecho em que o autor define o termo multidões: “Poucas aptas ao raciocínio, as multidões se mostram, ao contrário, muito aptas apara a ação” (LE BON, 1895, p. 8), mas essa ação não seria para o bem pois para ele as multidões “só tem força para destruir” (Ibid,p. IX). Essa multidão não seriam somente os trabalhadores, incluindo também os intelectuais, sendo assim, qualquer agrupamento de pessoas seria uma multidão, não importando a o seu grau de instrução. A questão aqui colocada é a dicotomia entre o indivíduo e massa, sendo que para Le Bon, apenas o primeiro possui racionalidade, já com o segundo a consciência individual (racionalidade) desaparece, ocorrendo uma unidade mental que por sua vez leva a multidão a praticar atos que isoladamente não cometeriam. Desse modo, devido à debilidade das massas, elas não podem exercer o poder. Le Bon chega a ser cético até mesmo com o sistema parlamentarista, pois de uma forma ou de outra seria uma multidão, mas acredita que como as leis são projetos individuais, possuem racionalidade.

Onde no começo era mais uma reação às teses igualitárias e democráticas, a teoria das elites, passou a ser aceita para analisar o regime democrático, pois se chega à conclusão que mesmo com este regime, atualmente, ainda percebem-se elites ocupando postos-chave. Como é o caso de Schumpeter que discute a doutrina clássica da democracia, pois as bases desta doutrina seriam a vontade geral e o bem comum, mas para ele a vontade do povo não existe, porque não se sabe qual é o bem comum pensado racionalmente, dessa forma a o modelo democrático criado por Schumpeter se faz necessário uma minoria que tomaria as decisões políticas. Sendo que esta minoria teria a capacidade de racionalidade, avaliação crítica e decisão ponderada (SCHUMPETER, 1961). Pode-se perceber como este autor, ao contrário de Le Bon, analisa a capacidade da elite, e não somente a debilidade das massas, e com essa perspectiva é que são apresentadas as discussões de Mosca Pareto e Michels.

Mosca realiza um esforço para pensar a política como ela é, focando na questão da elite e procurando mostrar essa superioridade moral por um viés sociológico, recusando as explicações biológicas ou o darwinismo social, que eram duas explicações recorrentes na época. Desde Aristóteles a questão era quantos

governam? Pois de acordo com a resposta o sistema político poderia ser

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em todas as sociedades sempre existiria uma minoria que governa e uma maioria de governados, em suas palavras:

Entre os fatos e tendências constantes encontrados em todos os organismos políticos, um é tão óbvio que é invisível até ao olhar menos atento. Em todas as sociedades – desde as parcamente desenvolvidas que mal atingiram os primórdios da civilização até as mais avançadas e poderosas – existem duas classes de pessoas – uma classe que dirige e outra que é dirigida. A primeira, sempre a menos numerosa, desempenha todas as funções políticas, monopoliza o poder e goza das vantagens que o poder traz consigo, enquanto a segunda, a mais numerosa, é dirigida e controlada pela primeira de uma forma que ora é mais ou menos legal, ora é mais ou menos arbitrária e violenta... (MOSCA).

Sendo que essa minoria só possui este domínio, pois é organizada, enquanto a maioria é desorganizada:

O domínio de uma minoria organizada, obedecendo ao mesmo impulso, sobre a maioria desorganizada é inevitável. O poder de qualquer minoria é irresistível ao se dirigir contra cada um dos membros da maioria tomado isoladamente, o qual se vê sozinho face à totalidade da minoria organizada. Ao mesmo tempo, a minoria é organizada exatamente por ser uma minoria.(MOSCA).

A partir desta lei sociológica que uma minoria governa, Mosca se propõem a estudar essa minoria, mudando a questão para quem governa?, realizando estudos para examinar a composição da própria elite, ou como ele denomina, classe dirigente.

Ao se analisar a definição de Pareto para o termo elite, observa-se que há uma semelhança com Mosca, mas também há uma diferença, pois as explicações que Pareto utiliza abordam o tema das elites com questões de ordem psicológica, e não sociológica como faz Mosca.

Coloca-se então definição proposta por Pareto:

“Suponhamos que em todos os ramos de atividade humana seja atribuído a cada indivíduo um índice que represente um sinal de sua capacidade, de maneira semelhante àquela pela qual se conferem notas nas diversas matérias em exames escolares. Ao tipo superior de advogado, por exemplo, será dado nota dez. ao homem que não consegue um cliente será atribuído nota um – reservando-se o zero para o que for completamente idiota” (PARETO)

Concluindo assim que “Estipulemos, portanto, uma classe dos que tem os mais elevados índices no ramo de sua atividade, à qual daremos o nome de classe

eleita (elite)” (PARETO 1984). Após a divisão da sociedade em dois estratos – a

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classe eleita, sendo esta: i) a classe eleita de governo e ii) a classe eleita não de governo, composta de indivíduos que não possuem a “etiqueta”12 necessária para o cargo que ocupa.

Como foi colocado anteriormente, pode –se perceber que tanto Pareto, quanto Mosca estão abordando o tema das elites referindo-se a grupos políticos que exercem o poder dentro da sociedade, ou que possuem a capacidade de fazê-lo e, para ambos, essa minoria – classe eleita ou classe dirigente -, sempre existirá para controlar o restante da sociedade. Mas de tempos em tempos essa minoria sofre mudanças, o que se dá a nomenclatura de circulação das elites, seja por um recrutamento de indivíduos de estratos inferiores, seja pela incorporação de um novo grupo, ou, até mesmo, pela substituição total da elite, como ocorre nas revoluções, onde uma contra-elite toma o poder. (BOTTOMORE, 1974)

A questão de divergência é que Pareto explica a capacidade de comandar e essa circulação através de questões psicológicas, que seriam os resíduos e derivações que as elites possuem. Os resíduos seriam sentimentos, instintos que o homem possui e que se manifestam através das derivações, que seriam as justificativas da conduta, como se fosse um véu sobre a conduta humana. Conclui Pareto que, a causa dos distúrbios sociais ocorre devido ao acúmulo de resíduos considerados importantes para o exercício do poder nos estratos inferiores e, da mesma forma, a diminuição desses resíduos nos indivíduos que ocupam os postos de elite, dessa forma ocorrendo a mudança na classe eleita. Mosca apresenta essa justificativa por vias sociológicas, explicando o surgimento de novos elementos dentro da elite pelo aparecimento de novas forças sociais que representam novos interesses, colocando que a fórmula política é compatível com o tipo social que está colocado. Assim o recrutamento da elite será na forma do sufrágio dentro de ideais liberais ou, pelo contrário, será uma imposição se a sociedade for autocrática, da mesma forma dentro de uma sociedade democrática pode ocorrer um recrutamento em diferentes camadas da sociedade, ao contrário do que ocorreria em uma sociedade aristocrática, onde a origem social determina o pertencimento ou não a elite.

Outro autor que também é considera um dos formuladores da teoria das elites é o alemão Robert Michels que escreveu Sociologia dos partidos políticos,

12 Pareto usa este termo para definir os atributos que colocam os indivíduos dentro de determinados

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neste livro o autor segue duas linhas para chegar à sua conclusão, a sociologia das organizações e a psicologia das multidões. A sociologia das organizações pode ser definida como a necessidade de organização de uma classe para atingir seus objetivos, sejam eles econômicos ou políticos, pois, com a organização, pode ser criada uma vontade coletiva, e como ela é baseada no princípio de economia de forças, uma classe fraca organizada13 se torna uma arma contra uma classe forte (MICHELS, 1982). Mas por outro lado, como se viu com Le Bon, questiona a capacidade das massas de possuir racionalidade para tomar decisões, como se pode observar neste trecho:

Atos e palavras são menos pesado pela massa que por indivíduos ou por pequenos grupos que a compõem. Este é um fato incontestável. Ele é uma manifestação da patologia das massas. A multidão anula o indivíduo, e, desse modo, sua personalidade e seu sentimento de responsabilidade (MICHELS, 1982, p.17)

Neste caso Michels está naturalizando a psicologia das massas, como se estas tivessem uma propensão inata para serem comandas, uma necessidade de chefes. Assim como as massas são incompetentes, volta-se à questão da organização, pois se torna necessário um pequeno grupo organizado que responda por essa massa. Este grupo por sua vez, e devido ao aumento de institucionalização, acaba sendo um grupo especializado, possuindo um monopólio do saber, em função das exigências organizacionais, e tem a necessidade de responder de maneira rápida e eficiente a certas questões. Dessa forma cria-se um direito moral à delegação, tornando, os antes representantes organizados das massas, agora profissionais da organização com interesses próprios. Essa questão é exemplificada por Michels quando analisa os delegados do partido operário e chega à conclusão que “Num partido, os interesses das massas organizadas que o compõem estão longe de coincidirem com os da burocracia que os personifica”. Assim Michels elabora a lei de bronze da oligarquia, que, em suas palavras, pode ser definida assim: “a organização é a fonte de onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os que os delegam. Quem diz organização, diz oligarquia” (MICHELS, 1982, p. 238).

É interessante ressaltar um ponto deste autor, pois não coloca como “elite” somente os que ocupam cargos políticos de governo, analisando outros casos,

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como o partido operário, sendo assim, semelhante às questões propostas por esse trabalho, que também não tem como objetivo estudar a elite política de governo, e sim uma elite que representa apenas uma parcela da sociedade, no caso os empresários. Assim a questão da elite proposta por esse trabalho é bem colocada nessas palavras “O termo ‘elite (s)’ é hoje em dia em geral aplicado, na verdade, referindo-se a grupos funcionais, sobretudo ocupacionais, que possuem status elevado (por uma razão qualquer) em uma sociedade” (BOTTOMORE, 1974, p.15). Estes termos apenas corroboram com a definição de elite que se utiliza neste trabalho, pois se analisa os presidentes das entidades de representação empresarial no estado do Paraná,

Em todos os estudos de elite, há uma outra discussão que se faz necessária que é a questão do poder, já que ela está interligada com essa teoria, pois ao responder quem exerce poder se responde quem é a elite. Assim se conduz ao ponto referente ao método utilizado e das questões teóricas que embasam os dados.

Wright Mills procura demonstrar que nos Estados Unidos, na época, existia uma elite do poder, que era composta pela elite militar, econômica e política, sendo que essa elite do poder não possui o poder, ou seja, o poder não é inerente a ela. A elite goza desse atributo, pois ocupa posições-chave dentro das instituições. Assim coloca Mills: “Podemos definir a elite segundo suas posições na direção das instituições: a elite são os que estão no topo das principais hierarquias e organizações da sociedade moderna” (WRIGHT MILLS, 1985, p. 63) e continua “O poder não é de um homem; a riqueza não se encontra na pessoa do rico; a fama não é inerente a ninguém. Essas coisas exigem instituições e públicos como meios através dos quais são exercidas; de fato, estas são condições indispensáveis à sua existência” (WRIGHT MILLS, 1985, p. 68). A partir dessas questões elabora o método posicional, que é adotado nesse trabalho, definindo a elite pelo cargo de presidência ocupado dentro da entidade. Esse método se contrapõe ao método decisional elaborado por Robert Dahl (1970), que procura analisar o processo decisório, criticando o método de Wright Mills, pois este, de acordo com Dahl, cai na falácia de atribuir poder a alguém somente por ela ocupar um cargo. Como já foi comentado anteriormente, na introdução, as sociedades de hoje são complexas e seria pouco provável que não haja a institucionalização do poder, mas, considerando-se, que não são apenas estes que exercem poder. Assim os recursos

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seriam distribuídos desigualmente, ocorrendo uma estratificação social, mas não somente entre os que têm e os que não tem poder, podendo haver outras camadas, como os influentes ou os ativistas, ocasionando uma influência direta ou indireta (PUTNAM 1976).

Outra questão colocada por Wright Mills é relacionada com o grau de

homogeneidade e coesão das elites, pois para o autor há um processo de formação

de altas rodas onde se encontra e onde é recrutada a elite do poder. A questão é que acabam se assemelhando as origens sociais e a carreiras dos membros que compõem a elite, em suas palavras: “Quando as exigências dos altos postos em cada uma das principais hierarquias se tornam semelhantes, os tipos de homem que os ocupam – pela seleção e pelo treinamento – se tornam semelhantes” (WRIGHT MILLS, 1981, p. 339) e ainda admite que “Com o aumento, em volume e importância, dos negócios entre as três ordens, também aumenta o tráfego de pessoal” (Ibid, p. 339) o que contribui para o aumento da unidade desta elite, pois torna o seu recrutamento fechado.

Outros dois autores que tratam das questões de homogeneidade e coesão são Anthony Giddens e Suzanne Keller. Giddens elabora uma tipologia para classificar os dados sobre elites envolvendo três dimensões: i)recrutamento/canais sociais, ou seja qual o grau de abertura do recrutamento da elite, se é aberto ou fechado, e quais seriam as avenidas de acesso percorridas pelos que chegam a elite; ii)organização/estrutura, procurando analisar qual é o grau de integração social entre os grupos de elite, e o quanto estas elites compartilham idéias e um ethos moral; e iii)o poder efetivo, isto é, analisar até que ponto o poder está concentrado nas mãos das elites ou difuso na sociedade. A partir na análise dessas três estruturas, pode-se caracterizar um tipo de elite, como exemplo, elite coesa e elite abstrata (GIDDENS, 1974). Já Keller procura analisar a questão da “meritocracia” que o indivíduo possui, ou seja, se o indivíduo ocupa determinada posição pelos seus próprios méritos, ou se é por outros meios, que não este. Desta forma a autora vai analisar os atributos que as elites possuem, pois estes não apenas caracterizam os indivíduos, mas os papéis particulares que eles assumem, dividindo estes atributos em três tipos principais: i)naturais, que se referem a características que diferenciam os indivíduos, como cor, sexo e idade; ii)conquistados, que podem ser conseguidos pelo indivíduo através dos seus esforços, como honra, riqueza ou popularidade; e iii)funcionais, que são referentes a capacidade de liderança, de

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solução de problemas e eficiência. Uma questão observada pela autora é que as elites tendem a ser mais homogêneas quanto a atributos naturais do que quanto a atributos conquistados (KELLER, 1967).

Existem alguns trabalhos que abordam as elites brasileiras que é o caso de Love e Carvalho. Love discute não só origem social como também padrões de carreira política, sobre a elite política paulista, no período de 1889 a 1937. Segundo Love, a elite brasileira era, em geral, recrutada dentro das mesmas camadas sociais, cuja identidade era dada por experiências e valores partilhados em comum e por padrões de carreira semelhantes. Love analisa que o fato de nunca ter incluído um elemento proveniente da classe trabalhadora é um bom indicador do grau de homogeneidade da liderança política paulista. Outro indicador de homogeneidade apontado por ele é dado pela extensão e tipo de educação recebida pelos membros da elite paulista, pois mais de três quartos eram bacharéis em direito ou medicina. Observa, também, o grau de regionalismo que a elite possui, pois a maioria era recrutada localmente (LOVE, 1982)

Carvalho também analisa o caso brasileiro, mas referente à independência. O autor parte da idéia de que a decisão de fazer a independência com a monarquia, de manter unida a ex-colônia, de evitar o predomínio militar, de centralizar as rendas públicas, foi uma opção política entre outras possíveis na época. Mas por serem decisões políticas, isso é, escolhas entre alternativas, é necessária a busca da explicação no estudo de quem tomou essas decisões, ou seja, o estudo da elite política. A partir dessa questão se coloca o grau de homogeneidade da elite, pois quanto mais homogênea for, seria mais estável o processo de formação do Estado. Expõem que esta homogeneidade pode provir de várias fontes, dando o exemplo do caso inglês que é de natureza social (origem de classe), porém observa que raramente este tipo de homogeneidade era suficiente para dar coesão às elites. Sendo assim havia outros fatores que proporcionavam, com muito mais eficácia, essa coesão, não havendo a necessidade da elite ser recrutada em setores homogêneos da população, mas que através da educação, treinamento e carreira, eram desenvolvidas características que as levavam a agir coesamente (CARVALHO, 2003).

Após essa revisão bibliográfica sobre teoria das elites, pode-se demonstrar todo o embasamento teórico que possui a essa pesquisa, não sendo uma coleta de dados a bel-prazer, pois se segue uma linha de discussão teórica que dá suporte as

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questões sobre carreira política, origem social e valores políticos, bem como a questão geral deste trabalho, que se refere à homogeneidade e à coesão desta elite.

2.2 O EMPRESARIADO

Este trabalho se propõe a estudar um grupo reduzido e específico da sociedade, no caso, aqueles que assumem postos-chave de representação de um grupo econômica e socialmente importante, que foi conceituada como elite

empresarial. Como foi apresentada anteriormente, a questão do poder está muito

ligada à questão da elite, e isso significaria que, ao se tratar de uma elite que exerce importantes atividades econômicas, poder-se-ia restringir essa elite a aqueles que possuem um grande poder econômico, mas o problema desse recorte é que ele é reduzido, observando apenas os critérios referentes à propriedade e ao controle dos meios de produção e deixando de lado questões como a ação política e a representação deste grupo, desconsiderando os agentes que atuam nessas áreas, e que também são importantes tanto na economia quanto na sociedade e na política.

Pahl e Winkler fazem um interessante estudo sobre a “economic elite”, com os objetivos de, por um lado, captar as implicações de um estudo sobre os diretores de companhias nas concepções mais gerais da teoria das elites, e, por outro, discutir sobre as elites e a sociedade em geral. Enfim colocam o capital como o recurso fundamental, e o objeto acaba se restringindo aos executivos, ou seja, aqueles que desempenham papel fundamental no processo decisório interno à empresa (PAHL & WIKLER, 1974).

O problema desta perspectiva é, além de restringir a elite àqueles que atuam no interior da empresa, deixa de lado a questão da ação política, ou seja, de outro tipo de poder, o de representação de um grupo social relevante. E é justamente essa a abordagem que se busca dar ao termo elite empresarial nesse trabalho, não definindo o objeto somente a partir da posse da propriedade ou capacidade de gerenciar grandes empresas, mas sim em relação a questões de representação política, por isso a definição de elite empresarial como sendo os presidentes de entidades de representação empresarial.

(16)

Sobre a bibliografia específica do empresariado, são postas algumas dificuldades, pois os estudos sobre “elites econômicas”, “elites empresariais” ou “empresariado”, há uma flutuação e algumas vezes imprecisão teórica e metodológica que marca o uso destas expressões, pois nem sempre possuem um conceito definido14, por sua vez, as análises que se voltam para as instituições representativas do empresariado nem sempre tomam a relação com as experiências democráticas no Brasil como centro da reflexão, privilegiando o processo de definição da política econômica (MINELLA, 1988; DINIZ e BOSCHI, 1993; LEOPOLDI, 2000). Mas há trabalhos que tiveram um papel importante, não só para o estudo do empresariado, como também indicam variáveis importantes para o estudo desse grupo como elite.

Os estudos de Fernando Henrique Cardoso, possuem um propósito muito maior que deste trabalho – analisar a constituição deste grupo no processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil e a na América Latina -, mas se podem destacar alguns aspectos metodológicos que são interessantes para os objetivos aqui colocados. Além da utilização do survey como instrumento de coleta de dados, em seu estudo sobre as elites empresariais latino-americanas, Cardoso mobiliza variáveis como a ocupação do pai, o nível educacional e a trajetória, no caso, à posição de gerente. Enfim, de um lado utiliza “critérios adscritivos” (CARDOSO, 1967), e, de outro, critérios relacionados aos valores, não propriamente políticos, mas sim relacionados às motivações e incentivos para sua própria atividade empresarial e sua personalidade gerencial, por parte desta elite. Tais critérios são considerados enquanto formas de pensar o processo de recrutamento que caracteriza a constituição da elite. Destacando, também, que Cardoso, entre outras constatações, conclui que “... a explicação da mentalidade, dos valores e das ideologias, das possibilidades de atuação dos empresários latino-americanos, tanto como chefes de empresa, como em sua atuação organizada como classe social”, depende de uma referência às condições concretas específicas de cada contexto social (CARDOSO, 1967). Enfim, constata-se a importância dada pelo autor às variáveis relacionadas ao recrutamento e aos valores como forma de estudar e

14 Podem-se mencionar os diversos trabalhos de Eli Diniz e Renato Boschi (por exemplo, 2000 e

2004) sobre o empresariado no Brasil, bem como o de Maria Rita Loureiro e Cecília Olivieri (2002), que consideram como “elite econômica” o empresariado industrial e os dirigentes governamentais encarregados das áreas de gestão da economia.

(17)

caracterizar as elites empresariais, consideradas em seus respectivos contextos, e de estudá-las enquanto um dado tipo de manifestação da classe social.

O que se pretende enfatizar é a importância, e ao mesmo tempo a complexidade e escassez de estudos que articulam o estudo do empresariado ao de sua elite e dos valores que ela comporta, mas especificamente relacionados à política e à democracia. É nesse sentido que, pretende-se defender um outro viés metodológico, dando importância às atitudes e valores políticos das elites empresariais frente à democracia, e a caracterização desta elite frente às questões da teoria das elites.

É importante ressaltar que em nenhum momento se está reduzindo o grupo social somente à sua representação. Entretanto, entende-se que os estudos dos que ocupam os cargos principais em entidades de representação dos interesses de diversos setores do empresariado, podem ser considerados como estudos da elite

empresarial, e que as suas características se constituem em uma questão

importante tanto para a análise das elites políticas, quanto do próprio empresariado.

3 RESULTADOS DA PESQUISA

Neste capítulo são apresentados os dados referentes à pesquisa desenvolvida, colocados em três blocos, trajetória política, origem social e valores políticos, e, a partir destas três questões, será caracterizada a elite empresarial e será testado o seu grau de homogeneidade e coesão. A trajetória política se refere especificamente às vias de acesso percorridas antes de entrar para o universo, i.e., os cargos anteriores de ocupar a presidência da entidade, deixando para o bloco de origem social outras questões de trajetória pessoal, que não sejam políticas. As questões do segundo bloco procuram traçar a origem familiar da elite, ou seja, procurar captar se existe um recrutamento em determinado grupo específico ou este se dá de uma forma aberta. Abordando também questões de atributos, tanto naturais quanto adquiridos, como é o caso da socialização prévia do indivíduo, que, através do grau de escolaridade e a instituição de ensino superior, pode ser traçada. Como foi colocada anteriormente, esta questão também pode ser considerada

(18)

referente à trajetória, mas será abordada como um recurso do entrevistado. Não se distanciando da questão do recrutamento, procura-se traçar uma tendência de atributos que facilitem o ingresso nessa elite. Sobre os valores políticos, como foi explicado já na introdução, e, de acordo com a literatura, são os responsáveis por orientar o comportamento da elite. Assim são colocadas questões gerais para captar as crenças desta elite, principalmente em relação à democracia, procurando assim uma coesão de valores desta elite, e uma caracterização do posicionamento desta elite frente ao regime democrático.

3.1 TRAJETÓRIA POLÍTICA

No bloco de trajetória política, procura-se tratar dos cargos prévios que o presidente ocupou antes de chegar à presidência da entidade, ou seja, buscam-se algumas vias de acesso comuns que facilitariam, mas, que não sejam pré-requisitos necessários, para se chegar à elite.

Em primeiro lugar, observa-se a baixa participação dos membros desta elite em cargos políticos para além da representação empresarial. Entre os entrevistados, menos de um terço (28,6%) ocuparam cargos públicos, e, dos que ocuparam, apenas 2 entrevistados foram deputados federais, ou seja, ocuparam cargos eletivos, os outros 4 entrevistado, que ocuparam cargos, são referentes a executivos não-eletivos. Esses são os cargos estritamente políticos ocupados, os únicos durante toda a trajetória política, não havendo nenhuma outra ocupação nessa ordem. Outra questão é o pertencimento a algum partido político, onde também se observa uma baixa participação. Antes de ocupar a presidência 23,8% pertenciam a partidos e este número cai para 14,3% de presidentes que possuem filiação partidária durante a ocupação nas entidades. Pode-se observar a pouca participação dessa elite nas atividades políticas em geral, pois se constata tanto a não ocupação de cargos políticos, como a baixa filiação a partidos. Entretanto não se pode desconsiderar isso como um dado importante, pois demonstra justamente um afastamento desta elite com as questões públicas, questões essas que ultrapassam a atividade empresarial. Assim, ao contrário das demais elites políticas estudadas

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por essa pesquisa, não é por essas vias que será traçada uma trajetória comum dessa elite.

Em relação à ocupação de cargos de direção de outros tipos de instituição, como instituições religiosas, instituições estatais e direção de movimentos sociais, também se observa uma baixa participação, dando destaque somente ao pertencimento na direção de instituições sociais e culturais durante o período, nas quais um terço (33,3%) participou. Apenas para questão de curiosidade, pois não se pretende aprofundar a questão, a participação nas instituições a cima são baixas, mas somente na participação no cargo de direção de entidades de trabalhadores é que não há nenhuma ocorrência.

Em contrapartida, quando o pertencimento é em relação a entidades de mesma natureza, observa-se uma grande participação prévia na direção destas, dado que dos 21 entrevistados, 17 (81%) já tinham ocupado cargos de direção em outras entidades de representação empresarial. Outro dado relevante é que destes 17, mais da metade (52,9%) já haviam exercido o cargo de presidente e esse número aumenta para 70,5% ao agregar os cargos de presidente e vice-presidente15. Nesse ponto pode ser observado que existe uma trajetória comum forte, pois apenas quatro membros da elite, não haviam ocupado cargos de direção previamente em entidades empresariais, e pode ser dado destaque a ocupação do cargo de presidente.

Enfim, mesmo considerando que se trata de uma elite que não se caracteriza pela ocupação de cargos políticos estatais ou partidários, não se pode desconsiderar que exista uma trajetória predominante no que diz respeito à ocupação do cargo de presidente de entidade de representação empresarial. Portanto, isso indica um aspecto da carreira, ou seja, uma via predominante que condiciona o recrutamento, no caso, de um lado, o afastamento em relação aos cargos públicos e eletivos e, de outro, a experiência em entidades de representação, em especial do próprio empresariado.

(20)

3.2 ORIGEM SOCIAL

Neste bloco serão observadas as questões de origem social da elite empresarial, buscando traçar uma homogeneidade de atributos, tanto naturais como adquiridos, e, procurando encontrar algumas peneiras que valorizem certos bens em detrimento de outros, que dessa forma facilitem a entrada de quem os pertence na elite estudada. Ou seja, ainda está sendo trabalhada a questão de recrutamento da elite.

Em relação aos atributos naturais desta elite, ou seja, os atributos que a elite já nasce com eles, como é o caso do sexo e cor, a primeira informação básica e que salta aos olhos é em relação ao sexo dos entrevistados, pois 100% deles são homens, não havendo nenhuma representação feminina no universo total. Outra questão é que 95,2% dos entrevistados se declararam da cor branca e somente 1 se declarou como sendo da cor parda, ocorrendo a ausência de declarações da cor preta16. Há outro predomínio quando se trata da religião, pois 81% se colocaram como sendo católicos romanos, e apenas um como sendo de religião católica ortodoxa e outro como sendo de religiões evangélicas17. Com essas três abordagens já pode ser observada uma super-representação de determinados grupo sobre outros, quando estes dados ao comparados com a média da população no estado, pois no Paraná há 49,% de homens, 77,2% de pessoas de cor branca e 76,6% de católicos romanos, dessa forma observamos o grau de distanciamento e de diferenciação dessa elite com a população o restante da população. É claro que se objetivo desse trabalho fosse tratar de uma elite política, que teria como objetivo a representação dos diferentes grupos sociais, que não é o caso da nossa elite, estes dados seriam mais sugestivos, mas mesmo se tratando de uma elite que não possui essa finalidade, observar um afastamento do todo social é um dado relevante para a caracterização desta elite e em relação aos atributos naturais que esta detém.

Outro ponto que é considerado como um atributo natural é a idade. Observando as categorias de idade (Ver GRÁFICO 1), ocorre uma predominância de indivíduos com idade entre 46 e 55 anos (47,6%) ocorrendo mais casos em idades superiores aos 55 anos do que inferiores aos 46 anos. A partir desse dado se

16 Essa classificação foi feita de acordo com o IBGE 17 2 entrevistados não declararam sua religião

(21)

pode concluir que se exige conhecimentos prévios dos que ocupam os cargos de presidência, não ocorrendo uma nomeação de algum membro jovem, evidenciado por termos apenas um caso na categoria entre 25 e 35 anos, e sim de indivíduos mais velhos, cuja experiência é maior, como pode ser observada com a ocorrência de 3 casos com mais de 66 anos.

GRÁFICO 1

Quanto ao local de nascimento, ao agregar as respostas em duas variáveis, nascimento em Curitiba e nascimento em outras cidades, observa-se um grande predomínio dos que nasceram na capital do estado, chegando a 61,9% de curitibanos, contra 38,1% de nascimentos em outras cidades. Mas ao analisar o estado de origem e, novamente, agregando as resposta em estado do Paraná e outros estados, o número de paranaenses é de 85,7%, contra 14,3% de outros estados. Isso demonstra uma questão de recrutamento regional no âmbito estadual, mas em especial na capital.

Já os atributos adquiridos são aqueles conquistados no decorrer da vida dos indivíduos, ou seja, ele já não nasce com eles. Além de representar um bem que pode facilitar o recrutamento de quem o pertence, os atributos adquiridos, podem ser visto como uma questão de ordem social, pois esses atributos dizem respeito a certo processo de socialização a que são submetidos os indivíduos, que, por sua vez, pode ocasionar em uma homogeneidade da elite.

Primeiramente será analisado o estrato social18 que o indivíduo pertence, relacionado com o estrato social do pai e, após, para elucidar a questão anterior,

18 Por extrato social alto estamos considerando: grande proprietário rural, grande proprietário urbano,

executivo de empresa privada, político, altos cargos do setor público. Por extrato social médio

Categoria de Idades 4,8% 14,3% 47,6% 19,0% 14,3% 25-35 36-35 46-55 56-65 66-75

(22)

serão colocadas as ocupações dos membros da elite, mas de forma não agregada e por fim, tratar-se-á do nível de escolaridade do entrevistado em relação ao seu pai, procurando traçar, também, a linha de socialização, analisando os cursos e instituições de ensino que esta elite freqüentou.

Ao observar os dados referentes ao estrato social, mais uma vez estes corroboram a homogeneidade da elite, como mostra a predominância de indivíduos pertencentes aos estratos sociais altos. Desconsiderando os 3 casos que não responderam, tem-se um percentual de 66,7% dos entrevistados que se enquadram no estrato social alto, sendo que apenas um se enquadra no estrato social baixo. Outra questão interessante que este cruzamento proporciona é analisar a mobilidade ascendente desta elite. Apesar de perceber que existem dois casos decrescentes19, observa-se que existem 3 casos de ascendência de estrato social médio para o alto, e 3 casos de ascendência de estrato baixo, diretamente para o alto. Interessante também colocar como já havia um número de pais no estrato social alto (6), demonstrando um padrão característico dessa elite (Ver TABELA 3).

TABELA 3

OCUPAÇÃO DO PAI E PROFISSÃO EXERCIDA PELO ENTREVISTADO

Analisando a profissão em si, e não o estrato social que esta representa, observa-se uma grande atuação profissional no ramo de atividade empresarial, pois 38,1% desta elite exerceram a ocupação de proprietário urbano, em qualquer escala, e 42,9% exerceu a ocupação de executivo de empresa privada. É interessante analisar que não se faz necessário, para esta elite, ser o dono da

consideramos: médio proprietário rural, médio proprietário urbano, profissional liberal, advogado atuante, professor universitário, funcionário público de médio ou baixo escalão, militar. Por fim, enquanto extrato social baixo temos: pequeno proprietário rural, pequeno proprietário urbano, trabalhador assalariado de empresa privada, professor de outros níveis.

19 Um caso onde o pai pertencia ao estrato social médio e o filho ao baixo, e, o outro, que o pai

pertencia ao estrato social alto e o filho pertence ao médio.

6 1 0 7

3 4 1 8

3 0 0 3

12 5 1 18

Estrato social alto Estrato social médio Estrato social baixo Ocupação que o pai

exerceu por mais tempo (agregada) Total Estrato social alto Estrato social médio Estrato social baixo Profissão exercida por mais tempo antes do

cargo ocupado (agregada)

(23)

empresa, ou seja, deter os meios de produção, pois se tratando de uma elite que vai além da questão propriamente econômica, adentrando em uma parte política, abre-se espaço para os executivos das empresas privadas ocuparem o cargo de presidência de uma entidade, e, neste caso, os executivos estão em maior número que os proprietários. Por outro lado, como não se trata de uma elite estritamente política, não há uma profissionalização dos presidentes, como ocorre no caso dos políticos, que tornam o cargo político sua profissão. Nesta elite 81% exerceram outra ocupação durante o exercício da presidência, sendo que apenas 4 se dedicaram exclusivamente ao cargo.

Ao se tratar do grau de escolaridade, a mobilidade ascendente, como foi vista em relação ao estrato social, também é observada (Ver TABELA 4)20. Mas neste caso a ascensão social ainda é mais visível. Primeiramente é observado que 85,7% dos entrevistados possuem alta escolaridade, não ocorrendo nenhum caso de baixa escolaridade e apenas 3 de média escolaridade. Este dado já demonstra o caráter homogêneo dessa elite, mas ao relacionar esse ponto com o grau de escolaridade dos pais, apenas 3 dos entrevistados tiveram pais com baixa escolaridade e 4, dos que hoje possuem alta escolaridade, já tinham pais na mesma situação. Ocorrendo uma ascendência de 13 membros dessa elite em relação aos pais, 11 advindos de escolaridade média e 2 que saem da escolaridade baixa do pai, para o nível de escolaridade alta seu.

TABELA 4

ESCOLARIDADE DO PAI POR ESCOLARIDADE DO ENTREVISTADO

A homogeneidade também pode ser verificada em relação a alguns aspectos relacionados à socialização dos indivíduos. Como foi mencionado acima,

20 Esta variável também foi agregada nas seguintes categorias: alta escolaridade: curso superior ou

acima; média escolaridade: curso superior incompleto, ensino médio, ensino médio incompleto, ensino fundamental completo; baixa escolaridade: fundamental incompleto.

4 1 5 11 1 12 2 1 3 17 3 20 Alta escolaridade Média escolaridade Baixa escolaridade Escolaridade do pai (agregada) Total Alta escolaridade Média escolaridade Escolaridade (agregada) Total

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Instituições de ensino superior

58,80% 23,60%

17,60%

UFPR Demais instituições do Paraná Instituições de outros estados

85,7% dos entrevistados possuem curso universitário. Dos que possuem curso universitário, 82,4% estudaram em instituições de ensino superior do Paraná, sendo que destes mais da metade (58,8%) graduou-se pela UFPR, o que significa que quase metade (47,6%) dos entrevistados estudou na UFPR (Ver GRÁFICO 2). Ao analisar os cursos escolhidos, observa-se que o universo se restringe a cursos mais

tradicionais, a saber, Administração, Agronomia, Direito, Economia, Engenharias e

Medicina. Enfim, a concentração da formação em instituições paranaenses e em especial a UFPR, ao lado da natureza das profissões resultantes, também indica certa homogeneidade desta elite.

GRÁFICO 2

Apenas a título de ilustração, quando comparamos nossos resultados com aqueles obtidos por Cardoso (1967) em sua pesquisa sobre a elite empresarial na América Latina nos anos 1960, observamos que a homogeneidade em relação à escolaridade da elite empresarial paranaense é mais alta do que aquela que se apresentava entre os entrevistados por Cardoso tanto em países como Argentina, Chile e Colômbia, quanto a outros, como EUA, França, Espanha e Inglaterra21.

Fazendo um apanhado deste bloco, constata-se uma homogeneidade desta elite tanto no que se refere aos atributos naturais – sexo, cor, religião e idade -, como nos atributos adquiridos – socioeducacionais – traçando assim elementos que sirvam como filtros sociais, que facilitem a passagem de uns, em detrimentos de outros, ocasionando o recrutamento de um determinado indivíduo com um perfil comum, para adentrar a elite empresarial paranaense.

21 Como ressalvamos acima, o conceito de elite empresarial e os objetivos de Cardoso são distintos

(25)

3.3 VALORES POLÍTICOS

Agora será tratada a questão referente a coesão22 desta elite, a qual será

considerada a partir dos valores políticos, que, como foi colocado anteriormente, referem-se as crenças dessa elite, não analisando a sua ação propriamente dita. Esses fatores serão abordados mais especificamente em relação àqueles que tangem as questões de: 1)adesão à democracia, 2)concepção de democracia, 3)obstáculos à democracia, 4) opiniões sobre dadas políticas públicas e 5)a posição no espectro ideológico desta elite.

Da elite empresarial paranaense, 81% dos entrevistados concordam que a democracia é sempre a melhor forma de governo, 14,3% colocaram que às vezes a democracia é a melhor forma de governo e, apenas, 4,8% colocaram que é indiferente termos ou não uma democracia. Os mesmo 81% concordam que o Brasil hoje é uma democracia, assim temos uma coesão muito forte de adesão à democracia, pois apenas 19% discordam dessa afirmação. Tanto na primeira questão quanto na segunda questão se observa uma alta adesão a democracia por parte desta elite, constatando assim uma forte coesão dessa elite frente a este primeiro tópico.

Após ser constatado que existe uma alta adesão à democracia, procura-se descobrir que democracia é essa, através de questões que busquem evidenciar a concepção de democracia desta elite. Observando a TABELA 5, os dados demonstram que a elite se divide quando é afirmado que só há democracia se houver participação por plebiscitos, pois 38,1% concordam, e o mesmo número discorda, com 23,8% que nem concordam nem discordam dessa afirmação. Quando a democracia é definida em relação a participação por orçamentos participativos ou a participação direta em todas as decisões políticas, em ambos os casos ocorre uma maioria absoluta, ou seja, com 52,4% que discordam dessas duas afirmações, 42,9% que concordam e 4,8% que nem concorda nem discorda. Apesar de ultrapassar os 50%, não serão consideradas essas duas questões como exemplos de coesão dessa elite, pelo contrário, pode ser percebido, nesses dois casos, uma

(26)

baixa coesão, e, ao abordar o primeiro caso analisado, a coesão chega a não existir, vide a divisão da elite ao meio.

Quando é colocada a questão que só há democracia se houver participação pelo voto o número dos que concordam chega a 95,2%, demonstrando assim uma forte coesão por parte dessa elite a cerca dessa concepção de democracia, e, em menor escala, mas ainda se identificando uma coesão, a afirmação em relação que só há democracia se houver participação por conselhos gestores, onde 71,4% concordam.

TABELA 5

CONCEPÇÃO DE DEMOCRACIA

Ainda dentro da questão da concepção de democracia, através de uma pergunta contida no questionário, é simulada uma situação na qual os entrevistados seriam forçados a escolher entre liberdade e igualdade. Escolheram a liberdade 61,9% e a igualdade 28,6% dos entrevistados. Adentrando uma situação real e familiar ao empresariado, foram colocadas 3 alternativas, a primeira sendo o melhor para o Brasil que o governo dirigisse não só os serviços básicos, mas toda a economia, a segunda sendo o melhor para o Brasil que o governo dirigisse apenas os serviços básicos e, por fim, que o governo deixasse as empresas particulares dirigirem a economia, incluindo os serviços básicos, como educação, saúde e habitação. Nenhum dos entrevistados concordou com a primeira alternativa, que se

95,2% 4,8% 100,0% 38,1% 38,1% 23,8% 100,0% 71,4% 19,0% 9,5% 100,0% 42,9% 52,4% 4,8% 100,0% 42,9% 52,4% 4,8% 100,0% Só há democracia se houver participação pelo voto Só há democracia se houver participação por plebiscitos

Só há democracia se houver participação por conselhos gestores Só há democracia se houver participação por orçamento participativo Só há democracia se houver participação direta em todas as decisões políticas % Concorda % Discorda % Nem concorda nem discorda % Total

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refere a um intervencionismo estatal, em oposição a esta questão, a alternativa 3, que se refere a um liberalismo econômico mais extremo, só contou com 2 entrevistados a favor, ocorrendo uma concentração de 85,7% da elite que concordam com a alternativa 2, que atribui todos os outros serviços às empresas privadas, retirando apenas os básicos.

Ao serem consultados a respeito do que seriam os obstáculos à democracia (ver TABELA 6), existe uma fraca coesão ao desconsiderar a ganância das elites como um obstáculo a democracia, apesar da porcentagem ser de 52,4% dos entrevistados que não aceitam essa afirmativa como obstáculo, o número é considerado baixo se formos testar o grau de coesão. O mesmo ocorre em relação a tratar o desrespeito aos direitos humanos como obstáculo à democracia, onde, novamente, tem-se uma maioria (57,1%), que desta vez, concorda com essa afirmação, apesar disso ainda não se pode constatar que há coesão, e sim, pelo contrário, que esta é fraca.

Já quando são considerados como obstáculo à democracia no Brasil, a desigualdade de renda os números expressam uma coesão, pois 71,4% concordam com esta afirmação, destacando-se também a coesão em relação à discordância frente à agitação social como ameaça à democracia, contando com a mesma porcentagem de 71,4%. Em maior escala observa-se a adesão em relação a afirmação de que a violência e o crime organizado são obstáculos à democracia, contando com 76,2% que concordam. Outra afirmativa que se observa uma forte coesão é referente ao se tratar a corrupção nos órgãos públicos como obstáculo à democracia, chegando a um percentual de 85,7% que concordam, mas a maior adesão se dá em relação a falta de educação do povo como obstáculo, atingindo 90,5%, sendo que apenas 2 entrevistados não concordam com esta afirmação.

(28)

90,5% 9,5% 100,0% 85,7% 14,3% 100,0% 76,2% 23,8% 100,0% 75,0% 25,0% 100,0% 57,1% 42,9% 100,0% 47,6% 52,4% 100,0% 28,6% 71,4% 100,0% A falta de educação do povo

é um obstáculo à democracia no Brasil

A corrupção nos órgãos públicos é um obstáculo à democracia no Brasil A violência e o crime organizado são um obstáculo à democracia no Brasil A desigualdade de renda é um obstáculo à democracia no Brasil

O desrespeito aos direitos humanos é um obstáculo à democracia no Brasil A ganância das elites é um obstáculo à democracia no Brasil A agitação social é um obstáculo à democracia no Brasil % Sim % Não % Total TABELA 6 OS OBSTÁCULOS À DEMOCRACIA

Agora são colocadas algumas questões de ordem prática, ou seja, algumas políticas públicas que são de entendimentos de todos, com as opções de ser contra ou favorável a certa medida. Sobre a manutenção do atual sistema universitário gratuito (estadual e federal), ocorreu uma baixa coesão, pois 52,4% são favoráveis e 42,9% contrários, com uma abstenção. Ainda com uma baixa coesão , pois não atinge dois terços dos entrevistados, é a política que propõem renda mínima para todos os cidadãos com dinheiro público, contando com 61,9% contrários a esta proposta. Já em relação a cotas para negros nas universidades públicas encontramos uma coesão nas respostas, pois 76,2% se colocaram contrários, com apenas 23,8% favorável. Quando é abordada a questão da reforma agrária em grandes propriedades privadas (produtivas ou improdutivas) essa coesão chega a ser forte, pois 81% da elite se coloca contrária a esta proposta, ocorrendo apenas 2 casos favoráveis. Mas a política pública que obteve o maior grau de coesão foi referente à universalização da saúde pública, totalizando 90,5% de indivíduos favoráveis a esta assertiva.

Por fim, será abordado a questão da posição do espectro ideológico desta elite. Foi apresentada uma régua numerada de 1 a 7, sendo o número um mais a esquerda e o 7 mais a direita, e foi dada ao entrevistado para que ele se

(29)

auto-posicionasse nessa escala. Ao agregar os valores23 se observa que 19% da elite se colocaram como esquerda, em maior escala ,28,6%, como direita e, a maioria, como centro 38,1%. Três entrevistados não responderam a questão, pois consideraram que não existe mais esquerda e direita ou pela alegação que essa questão não abrange o âmbito empresarial que estão inseridos. Com essa questão agregada, constata-se que algumas informações que poderiam ser mais bem vista de forma desagregada, são perdidas, assim há a necessidade dos dados serem apresentado de forma corrida (Ver TABELA 7). Como foi colocado anteriormente ao serem agregados os números de 1 a 3 como sendo esquerda, foi atingido o percentual de19%, mas ao analisar os dados de forma desagregada, percebe-se que não houve nenhum entrevistado que se coloca na posição 1, referente a uma extrema-esquerda, e apenas 1 caso se colocou na escala 2, o que é considerada como esquerda. Agora houve 14,3% do total de entrevistados na escala 3, valor que foi atribuído como sendo centro-esquerda, demonstrando assim uma aproximação com o centro, que antes, de forma agregada, não era percebida. Como foi considerado como centro somente o numero 4 da régua de escala, de forma agregada, ou não, o percentual continua o mesmo, 38,1%. Mas ao desagregar a direita, observa-se que o total antes de 28,6% é distribuído igualmente nas 3 escalas desse espectro, contando com 9,5% dos entrevistados em cada uma das respectivas posições, centro-direita, direita e extrema-direita. Dessa forma percebe-se que, apesar de existir uma maioria que se aproxima do centro, tanto na centro-esquerda como na centro-direita, ao desagregar do dados, observa-se que não há nenhuma caso na extrema-esquerda e um caso na esquerda, ao contrário do que ocorre na direita onde há 2 casos na direita, ocorrendo, também, 2 casos na extrema-esquerda.

23

(30)

TABELA7

POSIÇÃO NO ESPECTRO IDEOLÓGICO

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deixando o contexto específico em que viveram Mosca e Pareto, deixando a época que surgiu a teoria das elites e, principalmente, retirando a carga valorativa que existe na proposição de que em toda a época sempre existirá uma minoria organizada, frente a uma maioria desorganizada, colocando assim questões às democracias modernas, e colocando questões para os estudos de diversos grupos que ocupam posições no topo da hierarquia social, ou seja, colocar a questão do

Quem Governa? Procurando caracterizar essas elites, não somente em relação a

sua ação política, pois se perde todo um aparato anterior que muitas vezes motiva essas ações, i.e., as características dessa elite, demonstrando, ou não, homogeneidade e coesão desses grupos de destaque na sociedade. Uma teoria que no passado, como foi demonstrado, estava atrelada a interesses políticos específicos, como uma corrente anti-democrática e anti-comunista, nos dias de hoje, retirando toda a carga normativa, apresenta-se como um método, uma linha que norteia determinados estudos na sociologia política.

1 4,8% 3 14,3% 8 38,1% 2 9,5% 2 9,5% 2 9,5% 3 14,3% 21 100,0% Esquerda Centro-esquerda Centro Centro-direita Direita Extrema-direita NR Total F %

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