• Nenhum resultado encontrado

2. A literatura chicana no ensino da LE aplicações metodológicas na PES

2.3. Considerações finais: a literatura chicana na aula de EFL

Wer fremde Sprachen nicht kennt, weiß nichts von seiner eigenen. (Johann Wolfgang von Goethe, 1821)

Como tem vindo a ser referido, a utilização de textos literários nas aulas de LE oferece inúmeras vantagens, tanto como ferramenta para a promoção de conhecimentos linguísticos, culturais e interculturais, quanto como material autêntico gerador de motivação nos alunos.

Relembra-se que, nas unidades didáticas apresentadas, a literatura chicana foi selecionada por transmitir a urgência de um novo sistema de valores, de coexistência pacífica entre vários povos, culturas e línguas. Esta literatura é ainda particularmente rica ao oferecer exemplos de intersecção linguística, no caso do espanhol e do inglês, bem como diferentes variedades destas duas línguas. Sendo uma literatura produzida em território norte-americano, facilmente se encontram textos adequados ao ensino- aprendizagem do inglês como língua estrangeira (EFL), ainda que as unidades didáticas tenham sido elaboradas e aplicadas em língua espanhola, em virtude do local onde foi realizada a PES.

Considera-se que os materiais literários selecionados podem ser reconfigurados de modo a serem utilizados em aulas EFL. Por exemplo, na segunda unidade, os poemas bilingues seleccionados, que pretendem a desconstrução de dogmas de pureza

57 linguística, continuam a encontrar aplicabilidade nas aulas de EFL; na primeira unidade didática, tanto Gloria Anzaldúa como Sandra Cisneros, as autoras escolhidas, publicaram as suas narrativas quer em inglês quer em espanhol.22 Para exemplificar, reformulou-se a primeira aula da unidade didática “La segregación racial y cultural:

una frontera entre pueblos”, aplicada à turma de 1º ESO.23 Verificou-se que, a partir da

versão em inglês do texto literário chicano escolhido, foi possível desenvolver actividades pedagógicas idênticas às propostas em língua espanhola, constatando-se que os programas curriculares actuais das várias línguas estrangeiras podem, de facto, ser repensados de modo incluir textos literários que proporcionem ao aluno conhecimentos com verdadeiro significado para as suas vidas - aprender uma língua não só é conhecer outras culturas e realidades, mas deve ainda conduzir o aluno a uma reflexão sobre si mesmo e sobre a própria forma de estar no mundo, pois, como indica a citação em epígrafe, quem não sabe línguas estrangeiras, não sabe nada de si mesmo. Defende-se, pois, esta bidimensionalidade nas aulas de LE do novo século.

Para concluir, ressalva-se que a literatura chicana nas aulas de LE não se encontra circunscrita ao ensino-aprendizagem de uma língua específica, podendo ser amplamente trabalhada em inglês e espanhol. Deste modo, não só o seu perfil multilingue, mas também o seu caráter multicultural, tornam-na passível de ser integrada em actividades pedagógicas que transmitam ao aluno o que o MCERL denomina conhecimento do mundo, conhecimento sociocultural e consciência intercultural (p. 99-101), de modo a que possa aprender a exercer uma cidadania consciente.

22 A versão inglesa dos excertos selecionados encontra-se nas obras Friends From the Other Side (1993) e

The House on Mango Street (1984).

23Ver reformulação da primeira aula da unidade “La segregación racial y cultural: una frontera entre

58

Conclusão

A globalização e a grande movimentação de pessoas que caracteriza o século XXI alterou inequivocamente o paradigma cultural e linguístico geralmente predominante na aula de LE. À medida que as delimitações, outrora claras, entre culturas e línguas se convertem num espaço fluido e de intersecções várias, invalidam- se alguns pressupostos nos quais ainda assentam os programas curriculares de língua estrangeira do ensino básico e secundário português. Neste âmbito, este trabalho assume o seu contributo para um debate que se impõe, nomeadamente sobre o modo como as aulas de LE podem ser reformuladas, indo ao encontro da conjuntura sociocultural e sociolinguística actual.

Como foi sendo explicado ao longo deste trabalho, a manutenção de uma visão dogmática e limitada de culturas e línguas apenas perpassa estereótipos, perpetua antigos modelos de supremacia e não transmite aos alunos valores condizentes com o contexto onde, em última instância, irão actuar. Por isso mesmo, defendeu-se uma nova abordagem nas aulas de LE, que vai para além da mera transmissão de conhecimentos linguísticos: conduzir os alunos à aceitação e problematização de realidades multiculturais, multilingues e híbridas. Assim, dentro do próprio contexto ensino- aprendizagem, o aluno passa a assimilar uma perspectiva inclusiva e de respeito pela diferença, que se manifestará quando se depara com o “outro”, com o qual passa a interagir no enquadramento dos direitos morais e civis.

Para além de se ter evidenciado a urgência da reconfiguração dos programas de LE ainda em uso nas escolas portuguesas, demonstrou-se a possibilidade de o lograr com materiais literários. Na abordagem sociocultural das aulas de LE que se propõe, defendeu-se a utilização de um tipo de literatura, que seja um reflexo das exigências e

59 problemáticas que emergem da conjuntura multicultural e multilingue que gradualmente se impõe. Demonstrou-se que, através da interligação entre literatura e a linguística, o professor de LE está em posição privilegiada para expor ao aluno realidades fora do seu âmbito quotidiano, fomentando a capacidade de reflexão, o autoconhecimento e os valores da tolerância pela alteridade. Como se verificou, a literatura chicana, pela forma e pelo conteúdo, permite operar dentro destes argumentos, uma vez que evidencia uma realidade que se impõe na escola do novo século, reflexo das grandes mudanças que a própria sociedade actual tem vindo encetar.

As unidades didáticas elaboradas e aplicadas no Instituto Giner de los Ríos de Lisboa exemplificam como esta literatura pode ser integrada na aprendizagem das línguas, como motor de aprendizagem dos novos valores, conduzindo os alunos à desconstrução de preconceitos, crenças e práticas discriminatórias que sobrevivem nas escolas e na sociedade portuguesa. Através dos inquéritos iniciais e finais, monitorizaram-se os objectivos deste trabalho, que se conclui terem sido plenamente alcançados, uma vez que os alunos perceberam que no contexto actual: é restritivo associar uma língua a um país em específico; as noções de línguas ou culturas “puras” são inválidas; a variedade padrão de uma determinada língua não é a única correcta; existem culturas e línguas híbridas, decorrentes da intersecção de várias realidades e experiências; os estereótipos culturais ou linguísticos potenciam barreiras entre o “eu” e o “outro”.

Por tudo o que se deixou exposto e por se considerar urgente uma visão mais abrangente das realidades sociolinguística e sociocultural da actualidade, este trabalho cumpre o propósito de ser um ponto de partida para um debate que se quer ver implementado nos departamentos de línguas das escolas portuguesas, ao criar uma possível resposta para a questão: de que forma as LE podem preparar os alunos para os

60 desafios deste novo século? Esta será, certamente, a interrogação que a nós, professores, nos levará mais além, na criação da escola inclusiva do futuro.

61

Bibliografia

Anzaldúa, G. (1999). Borderlands/ La Frontera – The New Mestiza. 2nd Ed. San Francisco: Aunt Lute Books.

Bedi, K. (2011). Language Acquisition Through Literature Promotes Creativity and Thinking Skill. The Criterion: An International Journal in English, Vol. II, 1-6.

Byram, M. Gribkova, B. Starkey, H. (2002). Developing the intercultural dimension.

Language Teaching: A practical introduction for teachers. Brussels: Council of Europe.

Web 1-8-2015 http://www.coe.int/t/dg4/linguistic/Source/Guide_dimintercult_En.pdf Cantú, N. Fránquiz, M. (2010). Inside the Latin@ Experience: A Latin@ Studies

Reader. New York: Palgrave Macmillan.

Carter, R. Long, M. (1991). Teaching literature. London: Longman Publisher.

Carter, R. Mcrae, J. (1996). Language, Literature and the Learner: Creative Classroom

Practice. London: Longman.

Carvalhosa, S. (2007). Bullying Nas Escolas Portuguesas, Bullying, Violência e

Agressividade em Contexto Escolar. Web 5-7-2015.

http://aaa.fpce.ul.pt/documentos/seminario_bullying/Resumo_Susana_Carvalhosa.pdf Collie, J. Slater, S. (1987). Literature in the Classroom: a resource book of ideas and

activities. Cambridge: Cambridge University Press.

Coll, C. (1984). Estructura Grupal: interacción entre alumnos y aprendizaje escolar.

Infancia y aprendizaje 27/78,119-138.

Cravo, A. Bravo, C. Duarte, E. (2013). Metas Curriculares de Inglês Ensino Básico: 2.º

e 3.º Ciclos. Lisboa: Ministério da Educação e da Ciência.

Duff, A. Maley, A. (1990). Literature. London: OUP.

Fillola, A. (2004). Los materiales literarios en la enseñanza de ELE: funciones y proyección comunicativa. RedEle, N. 1. Web 23-7-2015

http://www.mecd.gob.es/dctm/redele/MaterialRedEle/Revista/2004_01/2004_redELE_1 _07Mendoza.pdf?documentId=0901e72b80e06817

Fishman, J. (1996). What Do You Lose When You Lose Your Language?. Stabilizing

Indigenous Languages. Web 30-11-2014. http://www2.nau.edu/jar/SIL/Fishman1.pdf

Griffin, R. Cashin, W. (1989). The Lecture and Discussion Method for Management Education: Pros and Cons. Journal of Management Development, Vol. 8 Iss: 2, 25 - 32. Hall, G. (2005). Literature in language education. New York: Palgrave Macmillan. Holmes, J. (2002). An Introduction to Sociolinguistics. London: Longman.

62 Hualde, J. (2010). Introducción a la Lingüistica Hispánica. Cambridge: Cambridge University Press.

Jiménez, G. Ortego, A. (2009). El tratamiento de los estereotipos en el aula de ELE: una experiencia práctica. Revista Foro de profesores de E/LE, N. 5. Web 23-7-2015 http://foroele.es/revista/index.php/foroele/article/view/154/151

Kubota, R. (2004). Critical multiculturalism and second language education. In: Norton, K. Toohey. (Ed.). Critical pedagogies and language learning. Cambridge: Cambridge University Press: 30-52.

Larrauri, B. (2010). Una Ventana Abierta Al Sentido del Humor en el Aula. Tándem, N.

32. Editorial Graó. Web 5-7-2015

http://recursos.crfptic.es:9080/jspui/bitstream/recursos/558/6/Una_ventana_abierta_al_s entido_del_humor_en_el_aula.pdf

Maley, A. Duff, A. (1989). The Inward Ear: Poetry in the Language Classroom. Cambridge: Cambridge University Press.

Marco Común Europeo de Referencia de las Lenguas (2002). Madrid: Ministerio de

Educación, Cultura y Deporte. Web 23-7-2015

http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/marco/cvc_mer.pdf

Martín, A. (2011). El Contexto Socio-Cultural del Alumno y sus Consecuencias Tanto en el Proceso de Enseñanza Como de Aprendizaje. Revista Digital CSI, N. 38. Web 4-9- 2015

http://www.csicsif.es/andalucia/modules/mod_ense/revista/pdf/Numero_38/ADOLFO_ DIAZ_2.pdf

Matos, A. (2011). (Re)placing Literary Texts in the Intercultural Foreign Language Classroom. International Education Studies, N.5 V. 4. Web 29-9-2015

http://www.ccsenet.org/journal/index.php/ies/article/viewFile/13296/9161

Matos, M. Simões, C. Gaspar, T. (2009). Violência Entre Pares no Contexto Escolar em Portugal Nos Últimos 10 anos. Interacções, N. 13, 98-124. Web 6-8-2015 http://www.eses.pt/interaccoes

Olsbu, I. Salkjelsvik, K. (2008). Objetos perdidos: La literatura en la clase E/LE. Europa y Noruega. Hispania, N.4-91, 865-876. Web 30-9-2015.

http://www.jstor.org/stable/40648236. .

Ortells, E. (2013). Teaching English as a foreign language in Spanish secondary schools: The value of literature. English Teaching: Practice and Critique, N. 1-12, 91- 110. Web 30-9-2015

http://education.waikato.ac.nz/research/files/etpc/files/2013v12n1nar1.pdf

Parkinson, B. Reid, T. (2000). Teaching Literature in a Second Language. Edinburgh. Edinburgh University Press.

63 Pennycook, A. (1994). The Cultural Politics of English as an International Language London: Routledge.

Programa de Organização Curricular Inglês Ensino Básico e Secundário (1997).

Lisboa: Ministério da Educação e Imprensa Nacional da Casa da Moeda.

Proyecto Educativo Instituto Español “Giner de los Ríos” de Lisboa (2011). Web 23-

7-2015

http://www.educacion.gob.es/exterior/centros/ginerdelosrios/es/organizacion/document os/ProyectoEducativo-IEL2011.pdf

Proyecto Lingüístico (2014). Web 22-7-2015

http://www.educacion.gob.es/exterior/centros/ginerdelosrios/es/documentos/PLCsep201 4.pdf

Proyecto Tagus (2015). Web 23-07-2015

http://proyectotagus.blogspot.pt/2015_01_01_archive.html

Sánchez, E. (2003). Cartohistografía: Continente de una voz. Chicana Feminisms: a

Critical Reader. Ed. A. Hurtado, G. Arredondo. Durham: Duke University Press.

Saville-Troike, M. (1978). A Guide to Culture in the Classroom. Austin: University of Texas Press.

Savvidou, C. (2004). An Integrated Approach to Teaching Literature in the EFL Classroom. The Internet TESL Journal, Vol. X, N. 12.

Stavans, I. (2008). Spanglish. Connecticut: Greenwood Press.

Tong, X. (2013). Los estudios culturales en el aula de E/LE: reflexiones y prácticas. VI

Jornadas de Formación de Profesores de E/LE en China. Suplementos SinoELE, N. 9,

1-14.

Van, T. (2009). The relevance of literary analysis to teaching literature in the EFL classroom. English Teaching Forum, N. 3, 2-9.

Willinsky J. (1998). Learning to Divide the World: Education at Empire's End. Minnesota: University of Minnesota Press.

65

Anexos

67

Anexo 1

Caracterização da turma 1º ESO:

Figura 1. Figura 2. Masculino; 10 Feminino; 9

Género

12 anos; 16 13 anos; 4

Idade

68 Figura 3. Figura 4. Figura 5. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 N º d e A lu n o s Nacionalidades 0 1 2 3 4 5 6 7 8

Espanhol Inglês Português Port/Esp Esp/Ing Outras

N º d e A lu n o s Língua Materna 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

professores pai mãe avós amigos do IE amigos fora do IE N º d e A lu n o s

69

Anexo 2

1º ESO - Inquérito 1º aula da unidade

Encuesta a los alumnos

Tema 1 - La segregación racial y cultural: una frontera entre pueblos

Nombre _____________________________________________________________ Edad ____________ Nacionalidad ________________________________________ Nacionalidad del padre _________________________________________________ Nacionalidad de la madre _______________________________________________ Lengua materna ______________________________________________________

Señala (x):

Hablo español Siempre A veces Nunca En el IE con los profesores

En casa con toda la familia Con mi padre

Con mi madre Con mis abuelos

Con mis amigos en el IE Con mis amigos fuera del IE

70 1. Señala si son verdaderas (V) o falsas (F) las siguientes afirmaciones:

a) Hay segregación racial y cultural en Portugal._____

b) No hay segregación racial y cultural en América Latina o Estados Unidos. _____ c) Hay razas superiores a otras. _____

d) No hay culturas superiores a otras. _____

e) Los inmigrantes no son delincuentes que viven de ayudas sociales. _____

f) Los inmigrantes muchas veces viven en barrios aislados del resto de la sociedad. _____ g) Los inmigrantes no deben tener los mismos derechos de los otros ciudadanos. _____ h) La discriminación puede ocurrir por razones como el color de la piel, la lengua o la

vestimenta._____

2. ¿Alguna vez sufriste discriminación debido a tu lengua, tu color o tu cultura? Cuéntanos.

________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________

71

Anexo 3

Crenças dos alunos antes da unidade didática:

Figura 1. Figura 2. Não existe; 9 Existe; 7

Discriminação em Portugal

Existe; 12 Não existe; 4

Discriminação nos EUA e América

Latina

72 Figura 3. Figura 4. Figura 5. Há raças superiores; 0 Há culturas superiores; 6

Crenças sobre superioridade

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% Sim Não 26,7% 73,3%

Os imigrantes vivem isolados

da sociedade

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% Sim Não 0,0% 100,0%

73

Anexo 4

Materiais da unidade didática aplicada na turma 1º ESO:

Aula 1

Pre-actividad

En 2011, el gobierno mexicano hizo una campaña muy polémica titulada “Racismo en México”. Ve el vídeo de la campaña y contesta:

http://www.youtube.com/watch?v=HDLLrY9vpT8 a) ¿Cuál es el mensaje de la campaña?

b) ¿Crees que hay racismo en Portugal o crees que se respetan las otras culturas? ¿Por qué?

Actividad: La narrativa literaria - el cuento

El cuento tradicional El cuento literario

. autor anónimo

. transmisión oral de generación en generación

. el texto presenta diferentes versiones

. autor conocido . transmisión escrita

74

Lee el cuento de Gloria Anzaldúa, una escritora mexicanoamericana que escribe en español de México.

“Amigos del otro lado”

Esta es la historia de Prietita, una muchacha mexicanoamericana, y su amigo nuevo Joaquín, un muchacho mexicano del otro lado del río.

Prietita estaba sentada en una rama bajita del mesquite24 detrás de su casa cuando Joaquín llegó a la puerta de la cerca vendiendo leña. “¿Por qué anda en camisa de manga larga en este calorón cuando casi todos los muchachos andan sin camisa?” se preguntó Prietita.

“¿Viniste del otro lado? Tú sabes, de México,” le preguntó Prietita, quien ya había notado que su español era distinto al suyo.

“Sí,” contestó Joaquín manteniendo la cabeza agachada. Un mechón de su pelo liso, tan negro que parecía azul, cubría su frente y parte de su cara. Con sus dedos flacos estiraba los puños de la camisa sobre sus muñecas.

Cuando él se agachó a levantar la leña, ella notó que sus brazos estaban cubiertos de llagas horribles. Se dio cuenta de que él sentía vergüenza de tener esas llagas. Prietita pensó en la curandera y en sus remedios, pero antes de poder hablar, Joaquín ya salía con la cabeza bajada.

Prietita oyó a los muchachos de su vecindad gritando y fue a asomarse. “!Miren al mojadito25, miren al mojadito!” gritó su primo Teté.

“Hey mojado, ¿por qué no te vas para el otro lado de donde viniste?” dijo otro muchacho.

Prietita sintió que su cuerpo se entiesaba. Sintió pena por Joaquín y coraje hacia los otros muchachos. Había conocido a Teté y a sus amigos toda su vida. Se sentía dividida entre su amigo nuevo y sus amigos viejos.

Uno de los muchachos se agachó y recogió una piedra. Prietita corrió y se puso delante de Joaquín. “¿Qué les pasa a ustedes? Qué valientes son, un montón de machos contra un pequeño muchacho flaco. ¡Deberían tener vergüenza!

24 Árbol que hay en norte de México y sur de Estados Unidos.

75 “¿Y a ti que te importa? ¿Quién te dijo que te metieras?” dijo Teté.

“Cállate Teté. Vente”, le dijo otro, halándolo del brazo. Los muchachos se fueran, vacilando, como si ellos mismos hubieran decidido irse.

Prietita y Joaquín quedaran mirándose uno al otro. “Ya no te van a molestar,” le dijo Prietita.

“Agradezco tu apoyo,” respondió Joaquín, inclinando la cabeza hacia ella y sonando muy adulto. “Te quiero dar las gracias,” continuó. “Tuve miedo”.

Prietita miraba su pie haciendo círculos en la tierra, y dijo, “Yo sé. Ven te acompaño a tu casa”.

Llegaron a un jacal que estaba casi cayéndose y que le faltaba una pared. En lugar de la pared tenía una lona. “Mamá, tenemos visita,” dijo Joaquín.

“Pásale, pásale,” dijo una mujer chaparrita y delgadita con una cara pálida y pelo húmedo. Alzó una punta de la lona para permitirles entrar. “¿Quiere algo de comer?” “No, gracias, “dijo Prietita, sentándose sobre un petate que cubría el piso de tierra. En las caras de los dos vio el orgullo y supo que compartirían su poca comida aunque después pasaran hambre.

La mujer dijo, “Cruzamos el río porque la situación al otro lado está muy mal. No conseguía trabajo y el muchacho andaba en garras”.

“Es lo mismo de este lado”, dijo Joaquín. “Aquí no más hemos hallado uno que otro trabajo donde sólo nos pagan con comida o ropas viejas.

“Yo les avisaré a mis vecinas. Quizás les den trabajo,” dijo Prietita.

Prietita se quedó un rato y luego les dijo, “Tengo que irme para empezar mis quehaceres. Joaquín, por favor trae un poco de leña mañana y a ver si te quedas un rato a jugar conmigo”.

Gloria Anzaldúa. Friends from the other side/Amigos del otro lado. (1993)

I 1) Contesta las preguntas:

a) ¿Cuáles son los personajes principales?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________

76 b) ¿Qué otros personajes intervienen en el cuento?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ c) Caracteriza a Joaquín tanto física como psicológicamente.

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ d) Describe el espacio y el tiempo de la narración.

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ e) ¿Es un cuento tradicional o literario? ¿Por qué?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ f) ¿Qué clase de narrador nos cuenta esta historia?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ g) ¿Qué enseñanza pretende transmitir?

________________________________________________________________ ________________________________________________________________

2) Narra un cuento

Joaquín y Prietita viven en una realidad muy diferente de la nuestra. Los mexicanos no pueden cruzar la frontera sin el permiso de los servicios de inmigración de Estados Unidos o son perseguidos.

¿Qué pasó con Joaquín y su mamá? Escribe el final del cuento (6 líneas).

Una tarde, mientras Prietita y Joaquín jugaban un juego mexicano llamado lotería, una vecina llegó muy de prisa gritando, “¡La migra, allí viene la migra26!”.

26 Servicios de inmigración

77 Joaquín salto de su silla.

________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Pos-actividad

¿Cómo se puede relacionar el cuento y estas imágenes? ¿Cuál crees que fue el tema de la clase?

78

Anexo 5

Aula 2

Pre-actividad 1

Escucha la canción rap contra el racismo.

https://www.youtube.com/watch?v=Zl8W6ddWfM8 a) ¿Qué opinas sobre el objetivo de la canción?

b) ¿Qué soluciones propondrías para acabar con la segregación racial en nuestra sociedad?

Pre-actividad 2

Escucha la entrevista a Natalia López, una niña indígena que vive en México. Señala si son verdaderas (V) o falsas (F) las siguientes afirmaciones:

https://www.youtube.com/watch?v=Ejj_QNZz2n4 a) Natalia tiene orgullo de sus raíces indígenas. ___

79 c) Natalia no cree que se discrimina por razones como el color de la piel o

la vestimenta. ____

d) La abuelita de Natalia nunca fue discriminada. ____ e) Natalia se deja minimizar por otras personas. ___

f) Según Natalia, la comunicación entre las personas no se debe perder. ___ g) A Natalia le gustaría ser presidenta de México. ___

1) Actividad: La narrativa literaria - la novela

El cuento La novela

. Extensión breve . Pocos personajes

. Desarrollo rápido de la acción

. Extensión larga . Muchos personajes

. Desarrollo lento de la acción

Documentos relacionados