Esta seção teve o objetivo de investigar a influência na divulgação de ações de equidade de gênero das características do nível macro, considerando o SNN nesta avaliação.
As hipóteses relativas aos sistemas financeiro, educacional e econômico foram rejeitadas. Dentre as hipóteses que não foram rejeitadas as variáveis do sistema político e cultural, especificamente a participação popular, foram as mais relevantes para compreender o fenômeno estudado. É possível inferir que nos países onde existe um ativismo popular forte e cujo governo é sensível a estes apelos, bem como onde ações públicas efetivas são promovidas e o enforcement das normas é alto, a equidade de gênero e sua divulgação tendem a ser maior.
O principal resultado desta análise reside em constatar que, em geral, as características do sistema político e do sistema cultural são as com maior poder de explicação. Observou-se que a equidade de gênero, e sua consequente divulgação, tende a ser menor nos países quando a participação popular diminui ou quando o governo não tem poder de
enforcement e não conduz programas de governo efetivos. Constatou-se ainda que a
capacidade dos sindicatos ou associações de profissionais se organizarem e exercerem pressão sobre as empresas favorece o aumento da divulgação. Por outro lado, quando a população tem como traço cultural aceitar o distanciamento do poder, a tendência é diminuir a divulgação sobre equidade de gênero.
Entretanto, existem peculiaridades locais que devem ser consideradas para compreensão do fenômeno. Nas empresas da América do Norte, investir na qualidade do sistema educacional favorece à equidade de gênero e sua divulgação, enquanto na Ásia o cenário é o inverso. O desenvolvimento econômico impacta o fenômeno positivamente nas
empresas da Ásia e negativamente na América do Norte. Desta forma, conclui-se que as especificidades locais devem ser consideradas na análise deste fenômeno.
Com base na correta percepção de quais características nacionais são as mais relevantes, é possível que organismos supranacionais monitorem tais aspectos a fim de incentivar os países a aprimorá-los no sentido de promover uma maior equidade de gênero. Observou-se que um sistema educacional de qualidade não é suficiente se não houver nele oportunidades iguais. Da mesma forma, os países que se interessarem em diminuir a sua lacuna de gênero podem buscar aperfeiçoar estes fatores. Também é pertinente que tais características sejam monitoradas para que, quando houver a perspectiva de diminuição da equidade de gênero, medidas sejam adotadas para mitigar tal fato. Observou-se que é importante incentivar a equidade de gênero no mercado de capitais.
Além disso esta pesquisa alerta para a necessidade de incrementar as práticas de equidade de gênero no ambiente de trabalho, considerando que a sua adoção e divulgação vem decrescendo ao longo do período estudado.
Novas pesquisas podem expandir o período estudado e utilizar novas ou mais variáveis para mensurar os subsistemas do Sistema Nacional de Negócios. O estudo sobre a equidade de gênero com outras características dos países, tais como as variedades de capitalismos, a oferta igualitária de educação para homens e mulheres, são aspectos pertinentes e ainda não explorados na literatura.
2 A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DO NÍVEL MÉDIO NA DIVULGAÇÃO DE AÇÕES DE EQUIDADE DE GÊNERO
Os trabalhos a respeito de divulgação de ações de equidade de gênero são escassos e poucos tratam da influência das características do nível médio. Podem ser citados os trabalhos de Bergmann, Scheele e Sorger (2019) e de Ozkazanc-Pan e Muntean (2018) que pesquisam a existência de lacunas de gênero em determinados setores. Mesmo nos estudos que analisam a RSE como um todo, na qual está inserida a equidade de gênero no âmbito corporativo, não é frequente a observância desta influência e os que tratam desta temática apresentam um suporte teórico sucinto sobre este aspecto. Desta forma, a partir da identificação desta lacuna na literatura, esta pesquisa contribui para o incremento do arcabouço teórico sobre a influência das características do setor (nível médio) nas empresas e se volta especificamente para a extensão de seus impactos na divulgação de ações de Responsabilidade Social Empresarial relativas à equidade de gênero, que deve variar ao longo do tempo e em decorrência do setor em que a empresa atua.
Ressalte-se que, com o advento da chamada quarta revolução, ou indústria 4.0, houve um incremento no uso das tecnologias de informação e comunicação e no fornecimento de serviços em rede ligados a aspectos logísticos (TESSARINI JUNIOR; SALTORATO, 2018; KAZANÇOĞLU; ÖZEN, 2018; JASIULEWICZ-KACZMAREK; SANIUK; NOWICKI, 2017). Estas mudanças afetaram muito a produção de bens e a oferta de serviços, alterando a configuração de seus postos de trabalho (HIRSCH-KREINSEN, 2016; CARUSO, 2018). Frente a esta situação, é pertinente observar, por setores, a divulgação de ações voltadas para a equidade de gênero e o que ela revela em termos de diferenças sociais entre homens e mulheres, assim como também seus reflexos no mercado de trabalho.
Destaca-se também a análise de várias empresas de diferentes países, permitindo observar se o fenômeno estudado se comporta de maneira distinta em decorrência de peculiaridades locais. Para tanto, observou-se o comportamento das companhias sediadas na América do Norte e Ásia, por serem os maiores grupos na amostra. Identificar se as características do setor em determinado local influenciam de forma diferenciada a divulgação sobre equidade de gênero é uma importante contribuição desta pesquisa.
Por fim, ressalta-se que as questões de gênero no âmbito empresarial são constantemente debatidas e objeto de levantamentos realizadas por vários organismos (IBGE, 2018, ILO, 2016, 2018; WEF, 2017), sendo o olhar voltado para os reflexos setoriais na inserção, ocupação, manutenção, ascensão de homens e mulheres no mercado de trabalho e a
divulgação das ações para mitigar as diferenças, uma relevante contribuição desta pesquisa para estas entidades bem como para a academia.