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“As preta reunida veio pra fazer bilhões Muito branco falando, poucas reparações Afroempreendedoras, dona do próprio negócio Autoestima, autoamor, hoje se tornaram sócio Cês abafaram nossa história Pra esconder potencial Fez parecer que desde sempre É cana ou cafezal Retomando o trono, coroa e tradição”

(PSICOPRETAS 2).

Através deste relato, em que representa a voz da juventude sobre a perspectiva das mulheres negras, vemos através de uma música da atualidade que ainda nos dias de hoje as devastadoras consequências do colonialismo sobre o povo negro, através da racialização por cor e pele, e inferiorização da pele escura, o genocídio do povo negro, o machismo e o feminicídio, ainda não foram devidamente reparados, apesar de terem sido ecoados gritos durante todos esses anos expondo as desigualdades e injustiças.

Através do trecho “Retomando o trono, a coroa e tradição”

vemos a importância do resgate das culturas negras como tradição, algo que deve ser tratado com respeito, e valorizado socialmente, que como vemos, ainda não é validado justamente da forma que se deveria.

A retomada do trono e da coroa é uma grande e importante referência história, que nos faz recordar que muitas mulheres negras foram trazidas forçadamente para a América, quando viviam em suas sociedades africanas, eram rainhas,

princesas, ou possuíam outros postos de poder em suas devidas comunidades. Resgatar tal informação é recordar e demarcar a verdadeira história dos povos negros por esse mundo, pois ainda os livros de história só nos contam a “conquista” e

“vitória” dos brancos europeus sobre os povos negros e indígenas, como se a história do mundo se iniciasse na colonização, na América (GOMES, Nilma; BERTH).

Através dessas histórias é possível humanizar a figura da mulher negra, mostrando não só a população negra como escrava, inferior, e incapaz de reger, pensar, administrar, liderar. Resgatar sua posição de rainha, é entrar na disputa contra-epistemológica da visão gerada sobre os negros pelo colonialismo, e apresentar a vida que acontecia na África, pois havia vida, havia espaço e direitos em seus territórios, mas que foram roubados junto com a retirada forçada de seus corpos.

E que, o que levanta uma mulher negra nessa sociedade machista e racista, é outra mulher negra. Por isso é essencial se manterem juntas, a fim de unidas se reerguerem, se levantarem, e retomarem o trono, a coroa e a tradição. Então, através dessa união de fortalecimento, juntas gritam suas dores e seus desejos de transformação, a fim de viverem em uma sociedade justa, através de um empoderamento coletivo (BERTH, 2019). Uma levanta a outra. Assim, vemos:

“Preta, quanto amor perdeu, que te corroeu Cadê o seu valor? Seja seu próprio amor Não aceite menos do que entregou É que pra moldar o mundo tem que vir de dentro”

(Psicopretas 2)

Através da música vemos que muitas mulheres conseguem exprimir essas vontades, e que é uma grande ferramenta de emancipação dos excluídos (BERTH, 2019). Pois, Ramirez apresenta em seu texto Voces de resistência um relato de uma rapper, Tijoux, que nos conta que uma fã a disse que através de sua música conseguiu perceber o machismo sofrido em sua relação, incluso agressões físicas, e criou forças para acabar com tal situação.

Vemos que com esses relatos, podemos acreditar que o rap está cumprindo a sua missão, e que é mais que necessário lutar para que cada vez mais o movimento ganhe espaço e notoriedade social, para assim chegar a muitos ouvidos, e tocar corações que pulsem a fim de reparações e transformações sociais, para vivemos em uma sociedade justa e sem opressões.

REFERÊNCIAS

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BAIRROS, Luiza. Nuestros feminismos revisitados. Política y Cultura. Distrito Federal – México: Universidad Autónoma Metropolitana - Unidad Xochimilco, n.14, 2000, pp. 141-149.

BERTH, Joice. Empoderamento. In: Feminismos plurais. Minas Gerais: Polén, abril de 2019.

CAMARGOS, Roberto. Rap e política. São Paulo: Boitempo, 2015.

CARDOSO, Cláudia Pons. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzalez. Revista Estudos Feministas.

Bahia: Universidade do Estado da Bahia, 2014.

CEPAL. Mujeres afrodescendientes en América Latina y el Caribe. Deudas de igualdad. Naciones Unidas – Santiago:

CLACSO, 2018.

GOMES, Maíra Neiva. A musicalidade negra como resistência em

Géledes: Rio de Janeiro, 2017 em

<https://www.geledes.org.br/musicalidade-negra-como-resistencia/> acesso 20 de Julho de 2020.

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro no Brasil: ausências, emergências e a produção dos saberes. Revista Política e Sociedade, nº 18, v. 1º, abril de 2011.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro Tempo Brasileiro Tempo Brasileiro Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: Revista Tb Rio de Janeiro, 1988.

JABARDO, Mercedes. Feminismos negros – Antología. Madrid:

Mapa, 2012.

RAMIREZ, Churampi. Voces de resistencia: el hip hop para promover el feminismo en América Latina. Rebeca Eunice Vargas Tamayac & Ana María Merino Tijoux. Leiden: Universidad de Leiden, 2016.

RIOS, Flávia. RATTS, Alex. A perspectiva interseccional de Lélia Gonzalez. In: CHALHOULO, Sidney. PINTO, Ana Flávia Magalhães, org. Pensadores Negros – Pensadoras Negras: Brasil século XIX e XX. Belo Horizonte: Coleção UNIAFRO – UFB, v.11, 2016.

VIGOYA, Mara Viveros. La interseccionalidad: una aproximación situada a la dominación. Bogotá: Debate feminista, 2016, p. 1-17.

ANEXOS I – MÚSICAS

Bia ferreira e Doralyce – Miss Beleza Universal – 2017 em

<https://www.letras.mus.br/bia-ferreira/miss-beleza-universal/>

acesso 20 de Julho de 2020.

Psicopretas 1 – 2018 em <https://www.letras.mus.br/narceja-producoes/cypher-psicopretas/> acesso 20 de Julho de 2020.

Psicopretas 2 – 2019 em <https://www.letras.mus.br/narceja-producoes/psicopretas-vol-2/> acesso 20 de Julho de 2020.

Rimas e Melodias - Cypher - em

<https://www.letras.mus.br/rimas-e-melodias/cypher/> acesso 20 de Julho de 2020.

ANEXO II - VÍDEO

Bia Ferreira - Não precisa ser Amélia - 2019 em

<https://www.youtube.com/watch?v=psxSY400Pn8> acesso 20 de Julho de 2020.

ANEXO III – RECOMENDAÇÃO

Rimas e Melodias – Origens em <

https://www.youtube.com/watch?v=jBTUZC0j1ug> acesso 20 de Julho de 2020.

Psicopretas 2 em

<https://www.youtube.com/watch?v=bxqhIctLlZY> acesso 20 de Julho de 2020.

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