CAPÍTULO IV – OS OLHARES DE QUEM VIVENCIA O PROCESSO DE RELAÇÃO ESCOLA E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações apresentadas no percurso deste trabalho nos impulsiona
não à conclusão do mesmo, mas, a continuidade da investigação. Assim, esse
momento representa muito mais uma síntese provisória, um ponto de partida
para novos questionamentos, na medida em que compreendemos a realidade
enquanto dinâmica e rica em possibilidades.
Ao realizarmos este estudo, a preocupação central foi apreender as
implicações da reforma na prática de relação do CEFETPE com as empresas ,
bem como concepções de representantes do CEFETPE e de empresas sobre
esses processos.
Desse modo, na legislação básica da educação profissional, verificamos que o novo, na relação escola empresa, dá-se a partir da instituição do Sistema
Nacional de Educação Tecnológica, conforme Lei no 8.948/94, que, no artigo 3o, transformam as Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação
Tecnológica. Esses, de acordo com o Decreto No 2.406/97, tem por finalidade estar em estreita articulação com os setores produtivos e a sociedade.
No CEFETPE, a busca por uma aproximação maior da instituição com os
anseios da classe empresarial antecede a reforma (a partir da LDB 9.394/96) e a
sua transformação de ETFPE para CEFETPE (em janeiro de 1999). Tal fato
do movimento nacional das ETF’s, já em desenvolvimento em meados da
década de noventa, cuja plenitude ganha corpo com a legislação de reforma.
Não foi por acaso que, antes da aprovação da LDB 9.394/96, o CEFETPE
manifestou a adesão à implantação do Programa de Qualidade Total em suas
práticas gerenciais e demonstrou todo um esforço nos relatórios internos de
apresentação de dados que representem índices de eficiência e eficácia da
instituição.
Após a LDB 9.394/96 e dos decretos específicos de reforma da educação
profissional, estratégias várias foram adotadas pela instituição para sua
adequação aos novos parâmetros da educação profissional, cuja ênfase é a
estreita articulação com os setores produtivos, reforma, basicamente, pautada
em princípios mercadológicos, transportados, indiscriminadamente, para o
sistema de ensino.
Evidencia-se que o empenho do CEFETPE, nos últimos anos, em
incentivar as parcerias corresponde a uma ampliação significativa do número de
empresas conveniadas à instituição. Há uma tendência de ampliação e de
fortalecimento da relação entre escola e empresa, de uma forma geral, mas, no
caso especifico das parcerias com laboratórios montados no espaço físico da instituição, os dados dos últimos três anos revelam um decréscimo nesse
quantitativo.
Além do que, até então, não foi constatada nenhuma mudança, em
decorrência da reforma, na relação estabelecida entre O CEFETPE com
empresas instaladas em seu espaço físico. Se, antes da reforma, algumas dessas empresas ofertavam cursos denominados de extra-curriculares, com a
reforma, esses cursos são incorporados ao Programa de Qualificação e
Requalificação da instituição, caracterizados enquanto de nível básico.
Outro aspecto a salientar nessa relação específica de parcerias, é que o
ações, potencialmente, capazes de gerar um trabalho integrado ao CEFETPE,
haja vista que o tempo desses convênios na instituição variavam desde dois a
dezesseis anos, com uma média de dez anos de permanência dessas cinco
empresas na instituição.
Sobre a reforma, os profissionais do CEFETPE revelam que, ao mesmo
tempo em que foram pressionados ao cumprimento dos prazos, por outro lado,
estavam, quase que, totalmente, desestruturados para realizá-la.
À imposição da legislação de reforma, sem a devida participação,
capacitação e tempo necessários para que os executores de tais políticas
assimilassem, refletissem e propusessem alternativas, gerou uma situação de
instabilidade dentro do CEFETPE.
Constata-se que há um movimento contraditório, na instituição, no sentido
de percepção da reforma. Se, por um lado, os representantes da instituição são defensores do novo modelo de formação tecnoprofissional como algo positivo,
por outro, apontam várias restrições, negatividades, dificuldades, incoerências,
que inviabilizam a proposta pedagógica vigente.
Há um movimento de resistência dos professores na instituição, não
enquanto prática coletiva, mas, enquanto práticas individuais ou departamentalizadas, em algumas coordenações de cursos.
Em relação ao grupo dos representantes de empresas, constatou-se
que o mesmo não tinha conhecimento detalhado sobre o conteúdo da reforma.
E nem houve participação do grupo em qualquer tipo de atividade ou reunião
que lhe esclarecesse sobre o processo de reestruturação do CEFETPE.
Ao confrontarmos a fala dos professores com a fala dos representantes
das empresas, alguns aspectos convergiam, quase que de forma unânime,
como, por exemplo, os motivos que levaram à reestruturação na educação
avanços tecnológicos, das novas exigências para o trabalhador e de evitar que
o ensino técnico sirva de ‘trampolim’ para a universidade.
Também, é consensual para os dois grupos a leitura feita da reforma
tecnoprofissional enquanto algo positivo por propiciar uma formação
profissional em um tempo menor e centrada nos conhecimentos específicos.
Posteriormente, esses mesmos aspectos são apontados como problemáticos
para uma formação no contexto atual.
Se a separação da educação geral da específica parece um ponto
positivo para os dois grupos, por outro lado, também é unânime a preocupação
com as conseqüências que essa separação traz para a formação
tecnoprofissional, uma vez que os alunos que, normalmente, ingressam nesses
cursos são provenientes de outras instituições e apresentam um nível de
conhecimento insuficiente para o padrão até então trabalhado no CEFETPE. Também, o nível técnico, no sistema de modularização independente,
ao mesmo tempo em que traz a possibilidade de uma formação mais rápida
que a anteriormente proporcionada, é visto, pelos dois grupos com receio,
quanto às prováveis lacunas que deixará na formação do sujeito.
De uma forma geral, constatou-se que os sujeitos, ao serem indagados sobre a reforma, tinham a tendência de incorporarem às suas respostas o
mesmo discurso utilizado pelos documentos oficiais e comumente veiculados
pela mídia. Porém, ao longo de suas explanações conseguiam expressar suas
próprias opiniões, críticas, que, em muitos momentos, tornavam-se
contraditórias com o momento inicial de suas falas.
Para nós, os argumentos opostos sobre um mesmo aspecto nas falas
dos sujeitos, refletem a contradição existente na própria dinâmica de formação
profissional, pois, nunca se ouviu falar tanto em qualificação e o sujeito ser
formado de maneira cada vez mais desqualificante. Uma formação
Em relação à prática de parcerias, tanto os representantes das empresas
como os do CEFETPE entendem-na como algo lucrativo para as empresas, uma
vez que há divulgação de seus produtos e redução de custos no processo de
qualificação dos seus funcionários. Ao mesmo tempo, é um mecanismo
possibilitador de acesso às novas tecnologias por parte da escola, motivo que
deu origem a essa prática na instituição.
Na atualidade, as parcerias do CEFETPE com as empresas, em suas
diferentes manifestações, passam a ser vistas, como um dos meios mais
viáveis a ser explorado para a manutenção da instituição, em razão dos
investimentos públicos não serem suficientes e crescerem as exigências por
uma formação de mão-de-obra atualizada constantemente com os avanços
tecnológicos.
Essa falta de recursos na instituição é que, também, causa o afastamento daquelas parcerias caracterizadas pela instalação de laboratórios
na instituição, pois, segundo os entrevistados, deixa-se de serem ofertadas,
pela escola, até mesmo as condições consideradas como mínimas para que as
empresas possam permanecer.
Ao mesmo tempo que se reconhece a existência de benefícios para ambas as partes, numa relação de parceria, os dois grupos de entrevistados
destacam, também, as fragilidades na relação e a necessidade de um
aproveitamento mais eficiente do potencial das empresas nas atividades de
formação dos alunos do CEFETPE.
Para nós, as fragilidades apontadas trazem, em si, o ‘germe’ da possibilidade de construção de uma ação mais integrada, que ultrapasse a
expectativa dos sujeitos entrevistados de ser menos burocrática e mais
produtiva. Ações que possam ser realizadas enquanto projeto coletivo e, como
conseqüência, trariam benefícios, numa mesma escala de proporção, para todos