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PEQUENAS ESCALAS ESPACIAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os padrões espaciais das assembleias de peixes com relação ao habitat local e em escalas temporais curtas foram avaliados neste estudo. Diferenças na composição e estrutura da assembleia foram observadas ao longo de marcantes gradientes espaciais (como a distância da foz de rios), e temporais (entre os horários do dia). Variações também foram observadas dentro e entre áreas situadas fora de marcantes gradientes ambientais. Como esperado, as variáveis de habitat medidas explicaram uma maior percentagem da variação da assembleia de peixes quando condicionadas a um gradiente ambiental marcante, em comparação com as quatro áreas onde os padrões de beta diversidade foram avaliados. As assembleias mudaram drasticamente ao longo do ciclo diário, principalmente entre os horários crepusculares, do dia e da noite. Estes resultados reforçam a ideia que as assembleias de peixes recifais são muito heterogêneas em múltiplas escalas, o que pode ser relacionado à elevada complexidade e heterogeneidade do habitat destes sistemas.

Uma medida da distância de cada local para a foz de um rio explicou a maior parte dos componentes de variação dos parâmetros da assembleia de peixes, mesmo considerando as mudanças nas variáveis locais do habitat (cobertura bêntica e complexidade topográfica). Dessa maneira, a distância pode constituir uma importante medida para considerar a influência de processos físicos oceanográficos na estruturação das assembleias de peixes. Os padrões da assembleia, como a drástica redução da abundância de peixes herbívoros com a proximidade da foz do rio indicam que a distância pode ser importante para considerar a influência de descargas de rios sobre as comunidades recifais. A cobertura bêntica, a altura do substrato e o número de refúgios explicaram uma significativa parte da variabilidade na assembleia de peixes. A redução da complexidade estrutural foi associada com a redução na riqueza e abundância de peixes, com os possíveis mecanismos envolvidos incluindo a redução de nichos disponíveis, como os locais de abrigo contra predação e descanso, bem como substrato para forrageamento.

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A cobertura bêntica dos recifes rochosos estudados variou entre áreas dominadas por macroalgas ou por zoantídeos, entretanto foram observadas áreas com uma cobertura mais equitativa destes grupos bentônicos. Habitats heterogêneos tiveram uma maior cobertura de macroalgas, enquanto as áreas mais homogêneas foram dominadas por zoantídeos. Essa heterogeneidade do habitat foi positivamente associada com a variação na composição da assembleia (beta diversidade) entre transectos de uma mesma área. Estudos devem considerar a heterogeneidade do habitat como um importante preditor da variação das assembleias de peixes, e não apenas as percentagens de cobertura dos grupos bentônicos. O teste de Homogeneidade das Dispersões Multivariadas (PERMDISP) constitui uma importante ferramenta nessa avaliação.

A avaliação da complexidade do habitat é um problema multivariado, já que diversos aspectos da estrutura e composição dos habitats devem ser considerados em sua avaliação. O tempo necessário para a realização das medições em campo é um dos principais problemas na avaliação de variáveis estruturais do habitat. Neste estudo, a complexidade topográfica em uma menor escala foi avaliada através da contagem do número de refúgios por quadrat, sendo gerado um número considerável de repetições (60 fotografias por local – capítulo I; 480 fotografias por área – capítulo III). Com isso, um conjunto significativo de dados foi levantado a partir de um tempo reduzido em campo. O número de refúgios foi positivamente associado com a abundância de espécies de pequeno porte, apesar de não ter sido relacionado com a riqueza de espécies e abundância de peixes.

A altura do substrato foi estimada em campo, como uma medida de complexidade topográfica. Mostrou-se eficaz como variável explanatória dos padrões espaciais da assembleia, e pode ser relacionada com a estrutura tridimensional dos costões, importante para aumentar a área superficial para fixação de organismos bentônicos e substrato para alimentação, abrigo e reprodução de peixes recifais. As áreas compostas por pedras grandes, geralmente maiores que 1m de altura, tiveram os menores números de refúgios. Essa relação negativa foi mais marcante entre as áreas protegidas e abrigadas da ação das ondas nas ilhas mais distantes da foz do rio, tanto que estas variáveis não foram colineares dentro do critério utilizado (correlação < 0,7). Em trabalhos futuros, poderiam ser avaliadas as influências da interação entre a complexidade topográfica em uma maior escala (p. ex., a altura do substrato) e a complexidade em escalas menores (p. ex., número de refúgios) sobre as assembleias de peixes. Quatro categorias poderiam ser geradas a partir dessa interação, desde áreas com elevada complexidade em ambas as escalas até áreas pouco complexas nas duas escalas, uma vez que podem afetar as assembleias de peixes (p. ex. composição, estrutura de tamanho e grupos tróficos) de maneira diferenciada.

Este estudo representou uma descrição inicial da variação das assembleias através do ciclo diário. A riqueza de espécies e a abundância de peixes foram maiores durante os horários do dia, com valores intermediários nos horários crepusculares e atingiram os menores valores durante a noite. Diferenças na abundância de espécies dominantes foram observadas entre os horários da manhã e tarde, porém este padrão foi dependente do local. Censos visuais noturnos devem ser utilizados como uma maneira de coletar um dado mais completo. Diversos aspectos, como a efetividade de áreas marinhas protegidas sobre a assembleia de peixes noturnos, o papel dos peixes noturnos para a dinâmica trófica de comunidades de recifes rochosos ainda são desconhecidos. A influência da disponibilidade de abrigos diurnos para a abundância de peixes noturnos e suas relações com a cobertura bêntica são ainda pouco estudados.

Os três capítulos abordaram as relações das assembleias de peixes com variáveis físicas, biológicas e estruturais e variações temporais de curto prazo. As assembleias apresentaram variações em escalas espaciais curtas (de transectos até poucos km),

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demonstrando que ilhas separadas a 4 km, por exemplo, podem apresentar marcadas diferenças no habitat e na estrutura, composição e heterogeneidade das assembleias de peixes. Dessa maneira, ações de conservação e manejo de recifes rochosos devem ser localmente determinadas para serem efetivas na função a que se propõem. O declínio na biodiversidade de recifes costeiros tem sido observado em todo o mundo, e para sua conservação é importante identificar os fatores que determinam a distribuição de seus organismos expansivamente. Esse trabalho apresentou uma contribuição nesse sentido, uma vez que identificou variáveis importantes para a estruturação das assembleias em escalas locais.

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