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Políticas Públicas de Acesso ao Território para Comunidades Quilombolas: um direito

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A política de acesso ao território, objeto de estudo é a de maior relevância dentro do conjunto de políticas públicas apresentadas pela própria comunidade de remanescentes

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de quilombos. Não que as outras políticas de educação, saúde dentre outras, não sejam relevantes. Elas estão contidas nos Programas Brasil Quilombola e Agenda Social quilombola, o qual pretende reunir um conjunto de ações e propostas para esses povos. Neste caso, o conjunto desses dois programas visa contemplar o fortalecimento de gru- pos discriminados, dando-lhes acesso as políticas de inserção social.

A política de acesso ao território, por mais que tenha avançado no campo jurídico, ainda é uma incógnita. Talvez seja pelo interesse desses povos o fato de irem em contradição ao processo de dominação de uma classe sobre a outra, construído ao longo dos muitos anos. O reconhecimento e titulação dos territórios ainda é um fator de exaustivas discus- sões no campo político. O conflito pela terra se dá entre os povos tradicionais, amparados pelos movimentos sociais e, na maioria das vezes, com os grandes latifundiários. Se por um lado o interesse pela terra é de manutenção e reprodução da vida em comunidade, por outro, o interesse é de ordem econômica, a terra é vista como fonte de renda e meio de reprodução do capital.

Como se viu, ainda há muito por ser feito. Se se tomar como ponto de referência os estudos sobre as políticas de acesso ao território aos povos tradicionais, em especial os grupos quilombolas, estes ainda se encontram alheios aos direitos assegurados na Cons- tituição. A aplicabilidade das políticas públicas não condiz com a realidade mostrada nos estudos sobre o tema.

Em síntese, as políticas de inserção social pregados na Constituição de 1988 vêm sendo encaminhadas num processo lento e que, muitas vezes, retrocede. O jogo de interesses das classes dominantes ainda prevalece em detrimento dos direitos desses povos. Estes, ancorados na própria Constituição, buscam estratégias na efetivação de seus direitos coletivos.

REFÊRENCIAS

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MICHELLE LUCAS CARDOSO BALBINO1

MARIA ISABEL ESTEVES DE ALCÂNTARA2