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Inicialmente, com base nas pesquisas realizadas, podemos notar que a noção de improbidade administrativa derivada da Lei de nº 8.429/92 foi mais abrangente, definindo ato ímprobo praticado pelo agente público como conduta inadequada, por desonestidade, descaso ou outro comportamento impróprio, merecendo assim, as sanções estabelecidas no referido texto legal.

Notório também, é a constante evolução do direito positivo brasileiro relacionado à improbidade administrativa, tanto no âmbito constitucional quanto infraconstitucional, o que reforça a importância do assunto no que diz respeito a assegurar melhor eficiência e clareza dos atos administrativos praticados pelos titulares dos cargos estruturais do país.

Com a evolução histórica, foi possível observar também, a coexistência de dois regimes paralelos de responsabilização dos agentes políticos por atos de improbidade, o regime dos crimes de responsabilidade e o dos atos de improbidade. Tais modelos de responsabilização suscitaram várias discussões a respeito de diversos aspectos relevantes de ambos os sistemas, notadamente no que concerne à competência para o processo e julgamento dos agentes políticos por atos de improbidade administrativa que estejam também previstos como crimes de responsabilidade, bem como sobre as penalidades aplicáveis em ambos os casos.

Nesse sentido, foi de suma importância à comparação e a diferença dos dois modelos de responsabilização, verificando-se que o regime da Lei de Improbidade Administrativa sendo muito mais abrangente do que o das Leis dos Crimes de Responsabilidade, a sua não aplicação, aos agentes políticos, poderia resultar na impunidade de eventuais detentores dos mais elevados cargos da Administração Pública, precisamente aqueles que, pela relevância do cargo que ocupam e pelas conseqüências que podem advir de suas decisões e atos, deveriam sujeitar-se a um regime de fiscalização muito mais abrangente e eficaz.

A partir das comparações de ambas a leis, foi necessário buscar qual o pensamento da nossa Corte Suprema e de outros Tribunais a respeito do tema. As divergências foram notáveis na Reclamação nº 2.138/DF, onde a decisão acolheu a tese de que tanto a lei de improbidade quanto a lei de crimes de responsabilidade têm natureza político-administrativa, sendo a primeira aplicável aos agentes

públicos, e a segunda, aos agentes políticos, culminando em bis in idem a aplicação simultânea das leis ao mesmo agente político.

Porém, como o tema ainda é bastante polêmico na própria jurisprudência, havendo decisões em sentidos contrários, fica o entendimento de que a decisão acolhida pelo STF no julgamento da Reclamação 2.138/DF ainda gerará muitas discussões doutrinárias sobre a possibilidade de aplicação da LIA aos agentes políticos, até porque muitos atos de improbidade administrativa não configurariam crimes de responsabilidade.

Bem como a polêmica da possibilidade de aplicação da LIA aos agentes políticos é, também, a competência para o processamento e julgamento dos autores de ato de improbidade administrativa, no que pese a admissão ou não da prerrogativa de foro para os agentes políticos e demais autoridades que gozam dessa prerrogativa no âmbito criminal. Nessa questão, o trabalho foi de acordo com o que pensa a maioria da doutrina brasileira e várias decisões jurisprudenciais, no sentido de que, o processo estabelecido na Lei de Improbidade Administrativa tem natureza cível, em conseqüência disso, o foro competente para tratar dessas ações é o juízo de primeira instância.

Por fim, não obstante as relevantes considerações traçadas sobre a eventual coexistência de regimes de responsabilidade de agentes públicos, é possível afirmar que o entendimento sobre o tema ainda não está totalmente sólido nos órgãos máximos do nosso Poder Judiciário.

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