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Cremos ser inaceitável que um indivíduo tenha vergonha de sua própria língua ou variedade da língua. Infelizmente, a escola tem sido uma das grandes responsáveis por reproduzir o discurso do monolinguismo e da homogeneidade do português no Brasil. Daí surge outra questão, que é o sentimento de muitos de que não sabem falar a sua própria língua. Por isso, também nos propusemos a lançar um olhar especial sobre os nossos alunos, representantes da comunidade e importantes agentes na construção da sociedade. Apoiando-nos na Sociolinguística Educacional, continuaremos buscando a reflexão quanto aos usos da língua portuguesa, com vistas à ampliação da competência comunicativa dos estudantes, abrindo-lhes caminhos para o seu protagonismo como cidadãos de uma sociedade plural.

A construção deste caderno pedagógico é resultado de ações desenvolvidas em uma escola pública do município de Marechal Floriano, ES, cuja comunidade é fortemente marcada pelo contexto de imigração, durante o Mestrado Profissional – PROFLETRAS. Por meio da aplicação das atividades, desenvolvemos um trabalho com a língua portuguesa – a leitura e a produção de textos orais e escritos – promovendo o respeito à diversidade linguística existente na comunidade onde a escola está inserida. Em nosso caso, a diversidade envolve duas línguas: o português e o hunsrückisch, a língua – e suas variedades – falada pelos primeiros moradores do município de Marechal Floriano. Em uma relação escola e comunidade, fizemos um movimento “de dentro para fora” e “de fora para dentro”.

No decorrer deste projeto, percebemos que houve muito aprendizado por parte de nossos alunos, tanto em relação ao conhecimento da história da imigração no estado do Espírito Santo - especialmente a alemã, cujas marcas ainda são muito fortes em nosso município - como também ao aspecto linguístico, seja da língua minoritária ou das variedades do português. E o nosso intento foi a valorização do bilinguismo.

Precisamos repudiar as atitudes preconceituosas em relação às línguas minoritárias – ou às variedades populares do português – em nossa e em

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qualquer comunidade, e levar as pessoas ao conhecimento de seus direitos linguísticos, que representam direitos humanos adquiridos.

Esperamos que nossa proposta sirva de instrumento para professores de Língua Portuguesa que atuam em comunidades com grande diversidade étnica, cultural e linguística, de modo que possam também propor caminhos de atitudes positivas quanto ao aluno e contribuir com a construção de uma pedagogia de conscientização linguística.

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Fonte: Klippel, Fábio (2017)

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