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Por envolver questões constitucionais, como a presunção de inocência, a razoável duração do processo e a ampla defesa, nota-se a delicadeza que circunda o assunto, o qual merece atenção por poder representar até mesmo uma medida viável que reduza a situação de impunidade, bem como o número considerável de recursos interpostos com objetivo exclusivamente protelatório, que, de certa forma, banalizam o Direito Penal Brasileiro.

Sabe-se que, salvo raras exceções, representadas pela estreita via da revisão criminal, é no âmbito das instâncias ordinárias que se exaure a possibilidade de exame de fatos e de provas. Os recursos de natureza extraordinária não funcionam como ferramenta de reanálise da matéria fática.

Além disso, por não estarem dotados de efeito suspensivo, mas, apenas, devolutivo, tais recursos tendem a não impedir o fluxo natural do processo. Desta feita, ainda que a presunção de inocência proteja o réu, não há como impedir que o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado, à medida que sua culpa venha sendo demonstrada, tornando-se o tratamento progressivamente mais gravoso.

Tem-se, pois, que há a garantia de que o acusado seja tratado como inocente durante todo o curso do processo ordinário criminal. Até chegar ao âmbito extraordinário, entretanto, a questão deverá ter sido analisada anteriormente e, após ser submetida a recurso especial ou extraordinário, não será a matéria fática relacionada averiguada novamente. Não há que se afastar, então, a produção dos efeitos próprios da responsabilização criminal devidamente reconhecida pelas instâncias ordinárias, ou seja, após a progressiva demonstração de culpa.

Dada a devida importância ao julgamento ordinário, tendo sido imposta uma pena privativa de liberdade em regime inicial fechado, após o julgamento colegiado, entende-se ter havido um fato grave, o qual teve sua existência e autoria analisadas pelas instâncias ordinárias.

Ademais, o início da execução anteriormente ao trânsito em julgado não se trata de questão totalmente irreversível, pois, desde que comprovadamente impropria, a decisão poderá ser questionada mediante recurso, ao qual,

demonstrada a gravidade da questão, poderá ser admitido efeito suspensivo, inibindo o cumprimento da pena. Assim, medidas cautelares de outorga de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou especial, bem como o Habeas Corpus, são instrumentos plenamente capazes de evitar que o acusado sofra violação de seus direitos.

Destaque-se, outrossim, que o fato de a prisão após decisão de segunda instância não restar expressamente prevista pelo Art. 283 do Código de Processo Penal não conduz diretamente à sua ilegalidade. Outras medidas cerceadoras de liberdade, como a prisão civil por inadimplemento voluntário e inescusável de pensão alimentícia e a prisão administrativa decorrente de transgressão militar, igualmente não previstas pelo dispositivo citado, permanecem possíveis, o que manifesta a ausência de taxatividade.

Ainda que a prisão aqui analisada não possa, de forma alguma, ser chamada de cautelar, já que se trata, na verdade, de execução da sentença, deve-se observar que a privação de liberdade é permitida, em âmbito cautelar, visando a proteger a ordem pública.

A sensação de impunidade e a credibilidade cada vez menor dada ao sistema penal brasileiro representam, também, possíveis ameaças à ordem pública, representando a prisão anterior ao trânsito em julgado, desde que obedecendo os requisitos assecuratórios de direitos essenciais, uma garantia, acautelando o meio social e a própria confiança na Justiça em razão da gravidade do delito.

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